Protagonista de um dos principais fatos políticos da recente história do Brasil, o senador alagoano Fernando Collor de Mello (PTB-AL), alvo de impeachment no Congresso Nacional, aparece como um dos beneficiários de uma espécie de “banco clandestino” operado pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso na operação Lava Jato, da Polícia Federal. Na agenda de Costa apreendida pelos policiais veio à tona uma contabilidade financeira paralela envolvendo políticos e, para a surpresa dos investigadores, o recibo de um depósito bancário de 8.000 reais em favor de Collor. A revelação está na edição de VEJA desta semana, em reportagem de Rodrigo Rangel e Hugo Marques.
Os
valores, ainda que quase simbólicos, intrigam os policiais
principalmente após documentos da Lava Jato terem apontado que a
Investminas, empresa controlada por Pedro Paulo Leoni Ramos, secretário
de Assuntos Estratégicos no próprio governo de Fernando Collor, também
já havia feito um pagamento de 4,3 milhões de reais para a consultoria
de Paulo Roberto Costa. Para os policiais, Collor seria mais um dos
beneficiários de uma central de distribuição de propina a políticos dos
mais diversos partidos.
Na
caderneta apreendida pela Polícia Federal junto aos documentos de Paulo
Roberto Costa, os investigadores acreditam terem encontrado mais um
braço do esquema operado pelo ex-diretor da Petrobras em parceria com o
notório doleiro Alberto Youssef. De acordo com os documentos, trata-se
de negociatas na venda de facilidades a empreiteiras e na subsequente
distribuição de dinheiro, via caixa dois, a políticos.
Na
contabilidade paralela do ex-diretor da Petrobras, apontado como
homem-bomba na provável CPI a ser instalada no Congresso, está
registrado, com referência a 2010, repasse de 28,5 milhões de reais ao
Partido Progressista (PP), sendo 7,5 milhões de reais ao que os
policiais apontam como o Diretório Nacional da legenda. O PP é o
padrinho político de Costa na poderosa diretoria da Petrobras.
Costa
construiu a carreira na estatal de petróleo desde os anos 1970. Chegou à
diretoria de Abastecimento da companhia em maio de 2004 pelas mãos do
ex-presidente Lula e após indicação do PP. Mesmo tendo sido alçado ao
cargo com as bênçãos do PP, contava com respaldo de setores do PMDB e do
grupo ligado ao deputado petista Cândido Vaccarezza (SP).“Ele era
indicado do PP, mas depois virou [apadrinhado de] uma constelação de
partidos”, diz um político ligado à estatal. No posto, passou a
intermediar clandestinamente negócios entre empreiteiras e empresas e
abastecer os cofres não contabilizados dos políticos.
Na
caderneta, em linguagem cifrada, aparecem, além dos nomes de políticos,
referências à empreiteira Queiroz Galvão, uma das prestadoras de
serviço da Petrobras, à empresa UTC, que também fornece à petroleira, e à
Engevix, companhia que gerencia empreendimentos nas áreas de energia,
indústria e infraestrutura. Em todos os casos, há indicativos de que as
companhias estariam “dispostas a colaborar” com o banco clandestino de
financiamento a políticos. Procuradas por VEJA, as três disseram
desconhecer a lista. Também contatado, o senador Fernando Collor de
Mello não deu informações sobre o caso.
14 de abril de 2014
Laryssa Borges / Veja
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