Em junho de 1994, período em que foi lançado o Plano Real, o Brasil teve
uma inflação de 46%. Era o resultado de 30 anos de descalabros que
foram resumidos por Joelmir Betting com a seguinte conta:
“Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de
1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em
três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para
decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no
período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um
descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação
alemã dos anos 1920.”
Esta foi a guerra vencida pelo PSDB, sempre com a oposição ferrenha do
PT, que lutou e sabotou o Plano Real o quanto pode. E que só chegou ao
poder num momento de grave crise mundial, que impactou especialmente os
países emergentes. Chegando ao poder, Lula, o inimigo número 1 do Real,
passou a segui-lo rigorosamente, utilizando os seus fundamentos para que
o Brasil retomasse o crescimento.
Hoje, o que o PSDB passou 8 anos construindo e defendendo, está sendo
ameaçado pela gestão incompetente e desastrosa de Dilma Rousseff. A
estabilidade está ameaçada. O crescimento está comprometido. A economia
patina. A corrupção toma conta do Estado. As soluções desesperadas do
governo federal, visando apenas a reeleição, estão destruindo uma
conquista de todos os brasileiros. A matéria abaixo é de O Globo.
Passados 20 anos do Plano Real, os números da economia
mostram o Brasil com inflação alta de Terceiro Mundo e crescimento baixo de
país desenvolvido. Ao cruzar os dois indicadores com os de 32 países de América
Latina, Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Tigres
Asiáticos (Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan) e desenvolvidos, o
economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, encontrou a sétima maior
inflação acumulada de 1995 a 2013, de 275,4%, mesmo com a estabilização — o que
representou taxa média anual de 7,2%, pouco acima da expectativa de inflação do
mercado para este ano, de 6,46%.
Na América Latina, o Brasil só perde para
Venezuela e Colômbia. No ranking de crescimento, o Brasil cai para o meio da
lista. Está na 15ª posição, com média de expansão de 3%.
— O que essa tabela mostra é que, em termos de crescimento
econômico, o Brasil tem característica de país desenvolvido (países maduros que
crescem mais devagar). Já a inflação revela problema crônico de país de
Terceiro Mundo. Podemos sintetizar o problema pelo custo Brasil, colocando no
preço as nossas deficiências estruturais, como logística, mobilidade urbana
caótica, burocracia, tributação complexa e excessivamente elevada.
‘CUSTO BRASIL AFUGENTA CRESCIMENTO’
O economista ainda cita problemas de ingerência política em
decisões técnicas, o que provoca insegurança jurídica e baixo crescimento. — Todo esse custo Brasil afugenta o crescimento. Os Tigres
Asiáticos estão à frente do Brasil. Crescem quase o dobro, enfrentando
adversidades externas maiores que o Brasil. Na comparação com os outros, é
emblemática a nossa situação.
Essa situação não é à toa. O processo de estabilização do
Brasil combateu 30 anos de indexação (repasse para os preços da inflação
passada), afirma o decano da PUC e especialista em inflação Luiz Roberto Cunha: — Ninguém teve 30 anos de indexação como nós tivemos. No crescimento,
tivemos problemas sim, não evoluímos nas reformas como o Chile, a Colômbia e o
Peru (todos tiveram expansão superior à do Brasil). Eles caminharam melhor do
que nós. É claro que a complexidade da economia brasileira também é maior.
Para poder conviver com a inflação, foi criada a correção
monetária no período militar, que embutia, na maioria dos preços, a inflação
passada. A correção monetária foi extinta com o Plano Real. Cunha afirma que a indexação ainda existe, atualmente
causada por uma inflação renitente em 6%: — A demanda por indexação cristalizada em 6% é muito grande,
formal e informal. O aumento real do salário mínimo tem como contrapartida a
inflação de serviços, que está comendo parte do ganho.
O professor da USP Heron de Carmo teme esse repasse da
inflação passada aos preços de hoje. Para ele, o governo errou ao não reduzir
para 3% a meta de inflação quando as taxas estavam perto de 4%, entre 2006 e
2007: — A inflação começou a subir com os choques. Agora, vivemos
administrando choques. Ainda temos o custo da taxa de juros entre as mais altas
do mundo.
Há de se ter cuidado com as comparações, afirma Mônica de
Bolle, da Galanto Consultoria, diante de estágios diferentes de desenvolvimento
entre os países. Ela cita o exemplo da China, que deu um impulso no crescimento
com a migração da população rural para as cidades, elevando a produtividade e o
crescimento. O Brasil viveu este fenômeno com mais intensidade nas décadas de
1960 e 1970.
A economista considera boa a média de 3% de crescimento anual, mas
chama a atenção para o fato de esta performance ter piorado nos últimos anos.
Para 2014, o Relatório de Inflação do Banco Central, divulgado semana passada,
já prevê expansão da economia de apenas 1,6%. Mas a avaliação da economista não
se repete para as taxas de inflação:
— Ficamos mal na foto na inflação. É alta a média de 7,2%.
Muito longe da meta de 4,5%. Tem havido um enfraquecimento institucional no
Brasil. Isso fica claro com a inflação muito alta. Se alguns preços não
estivessem represados, poderia estar até acima de 7,2%. Deveríamos estar hoje
bem abaixo desta média de 20 anos.
Cunha lembra que mesmo países que sofreram com inflação alta
não tinham a tradição de indexação do Brasil, citando a quantidade de índices
de preços aqui, com os da FGV, da Fipe e do IBGE. Mônica afirma que Colômbia, Chile e Peru não tiveram o
problema inflacionário do Brasil, mas conseguiram adotar políticas de abertura
comercial e fazer reformas como a tributária e trabalhista: — Quando se faz reforma estrutural, ganha-se eficiência. O
crescimento sobe, e a inflação cai.
REAL: FALTA DE SURPRESA EXPLICA SUCESSO
Para Lia Valls, especialista em América Latina da Fundação
Getulio Vargas (FGV), o Brasil se saiu bem, na medida do possível,
principalmente baixando o patamar da inflação: — Dentro do possível, a gente se saiu bem. Conseguimos,
principalmente, sair da âncora cambial de uma forma que não causou muito trauma
na economia. Conseguimos fazer isso de uma maneira que não a inflação não
acelerou. Depois se criou um consenso de que a inflação é algo que a gente não
deve aceitar.
Cunha afirma que o sucesso do real veio da falta de
surpresas. Num artigo em dezembro de 1993, o professor da PUC explica cada
passo do plano, com base na divulgação oficial, ao contrário de planos
anteriores, que a população só sabia o que ia acontecer na hora.
Na avaliação do diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e
Política Econômica do Instituto de Economia da Unicamp, Francisco Lopreato, foi
a renegociação da dívida externa que viabilizou o sucesso do Plano Real.
Segundo ele, a experiência brasileira seguiu a de outros países da América
Latina, que conseguiram se livrar da hiperinflação após reestruturar a dívida
dos países.
— Não é coincidência que o Plano Real só tenha ocorrido
depois da renegociação. Sem querer tirar o mérito do real, que foi um plano
inteligente, o acordo da dívida retomou o acesso ao crédito internacional, o
que tornou viável o plano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário