Por Mariana Barros, na VEJA.com:
Na última segunda (23), Rafael Marques Lusvarghi, 29 anos, foi preso pela polícia após participar de uma manifestação em São Paulo. Ele e o estudante Fabio Hideki Harano, 26 anos, foram acusados de associação criminosa e levados pelos policiais que acompanhavam o protesto. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, apresentou a dupla à imprensa como “os primeiros black blocs presos” em flagrante na capital.
Quando foi
detido, Lusvarghi usava uma saia kilt e tinha o que parecia ser uma
cicatriz do lado esquerdo do rosto. Só parecia: o falso machucado foi
feito no último dia 17, enquanto o Brasil jogava contra o México, em um
estúdio de tatuagem em Jundiaí, na Grande São Paulo.
A técnica é chamada
de escarificação e consiste em criar na pele um corte milimetricamente
desenhado na base do bisturi. Para fazê-lo, Lusvarghi inspirou-se nos
games: ele é fã do jogo God of War e queria uma marca no rosto igual à
do personagem Kratos, o fortão espartano que protagoniza a saga. Aos
amigos, contou que nas diversas brigas que arranjou nunca conseguiu um
machucado que marcasse seu rosto – apenas sinais no pulso e num dos
dedos.
Aficionado
pela história russa e pela cultura militar, Lusvarghi coleciona álbuns
com retratos dos líderes da Revolução Russa e do período comunista.
Fotos de exércitos, tanques e armas também estão no seu acervo. Obcecado
por vikings, tem tatuada no braço a palavra Berserk, nome de um mangá,
posteriormente transformado em anime, inspirado nos guerreiros da
mitologia nórdica.
Lusvarghi
nasceu em Jundiaí, numa família de classe média. A mãe é professora
formada em Biologia e o pai, de quem ela é separada, gerencia uma
pequena empresa em Minas. É o mais velho de quatro irmãos. Um deles
conta que, desde pequeno, Lusvarghi sonhava alistar-se na Legião
Estrangeira da França. Aos 18 anos, comprou uma passagem para aquele
país, onde morou por três anos – como integrante da tropa, segundo disse
a familiares.
Quando regressou ao Brasil, prestou concurso para soldado
da Polícia Militar em São Paulo e ficou na corporação entre março de
2006 e julho de 2007. O motivo de sua saída é desconhecido, mas em
agosto ele já prestava um novo concurso, desta vez para ser PM no Pará.
Aprovado, permaneceu na corporação até 2009 e, mais uma vez, saiu antes
de concluir o curso de oficial.
Partiu,
então, para a Rússia. Em 2010, mudou-se para Kursk, cidade onde ocorreu
uma das mais importantes batalhas da Segunda Guerra Mundial. O que fez
lá ninguém sabe. Segundo parentes, teria estudado administração e
tentado alistar-se no exército russo. Como não conseguiu, regressou ao
Brasil.
Logo depois de chegar, em janeiro deste ano, iniciou uma viagem
de um mês e meio entre Colômbia e Venezuela. Disse ao irmão ter “feito
contato” com as Farc neste período – e não gostou da experiência. Na
volta, instalou-se em Indaiatuba, no interior paulista, onde começou a
trabalhar como professor de inglês e técnico de informática.
Além do
fortão do videogame de quem copiou a cicatriz no rosto, Lusvarghi se diz
admirador do presidente russo Vladimir Putin. Antes de ser detido nesta
semana, ele fazia planos de ir para a Ucrânia “lutar pelas forças
separatistas”. O que o kilt tem a ver com tudo isso segue sendo um
mistério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário