Publicação: 24/06/2014 06:00 Correio Braziliense
Belo Horizonte — A preocupação com o aquecimento global e as mudanças climáticas no planeta motivou pesquisa de execução curiosa. Para entender como o aumento do gás carbônico (liberado também pela queima de combustíveis) na atmosfera pode influenciar a capacidade de a floresta resistir às oscilações do clima, uma área de floresta próxima a Manaus será submetida a uma concentração de CO² maior que a habitual. Iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o projeto Amazon Face é executado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).
“Isso vai permitir maior entendimento dos processos de funcionamento da floresta que seriam alterados com o aumento do CO² na atmosfera. O projeto permitirá antecipar os efeitos da mudança climática que está por vir sobre a Amazônia, que é de grande importância para a regulação do clima não só na América do Sul, mas possivelmente em todo o planeta. Poderemos simular a resposta do ecossistema a diferentes cenários futuros e, assim, fomentar a tomada de decisões e criação de políticas públicas”, afirma Carlos Alberto Quesada, coordenador institucional do Amazon Face, sigla para Free Air CO² Enrichment.
A iniciativa será testada em uma floresta na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, localizada a cerca de 60km ao norte de Manaus e administrada pelo Inpa. Em parcelas da mata, a simulação vai aumentar para 600 partes por milhão (ppm) a concentração de gás carbônico (200ppm acima da concentração atual na atmosfera).
Pesquisadores observarão até que ponto a fertilização pela oferta extra do CO² — usado pelas plantas para fazer fotossíntese — aumenta a resiliência florestal (capacidade de recuperação em função de distúrbio), compensando fatores como aquecimento e alterações de regime pluvial.
Um dos pontos cruciais desse estudo será compreender o modo pelo qual o carbono extra adquirido por essa fertilização será utilizado pelas plantas. “Se for usado para crescimento do tronco das árvores, podemos esperar que isso resulte em um dreno do CO² atmosférico, porque essas estruturas vivem por longo prazo. Se a maior parte do carbono extra for utilizado para produzir raízes e folhas, que vivem por um curto prazo, saberemos que a capacidade de drenar o gás da atmosfera será menor, porque esse carbono será devolvido rapidamente para a atmosfera depois da decomposição dessas estruturas”, analisa Quesada.
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