quarta-feira, 25 de junho de 2014

As Misérias do Brasil





Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net





Por Aileda de Mattos Oliveira


A palavra ‘miséria’ era empregada por Cícero,* no sentido de penúria, de carência material, e por Salústio,** no de fatalidade, má sorte. Não há referência à miséria moral. Nesta acepção, o Brasil é inovador e imbatível.





Dizem que as guerras trazem penúria à população. No Brasil, decantadamente pacífico, por que há miséria, se é tão propalada a vasta riqueza que dormita sob o seu solo? Por que a extraordinária arrecadação nunca reverte em benefício dos contribuintes, responsáveis por estarem sempre abundantes os cofres da nação?





A resposta, encontramos lá nos idos de 1662, quando ia alta a corrupção na província do Maranhão, já naquela época, em decadência. Começava a existir, e já estava apodrecendo. A corrupção! Sempre ela! Eis a miséria endêmica brasileira!





Esses exemplares da miséria de outros séculos, que jazem no limbo da História, terão, mais tarde, companhia de seus similares, surgidos do lamaçal moral em que permaneceu o país, com lapsos temporais de honestidade.





A miséria moral faz a festa dos governantes famintos do dinheiro público que põem no socavão da miséria material os que retiram do bolso o produto de seu trabalho para sustentar a miserável canalha oficial.





Olavo Bilac, poeta e orador parlamentar, dizia que “a resignação é uma virtude (fresca virtude!) praticada em larga escala”.*** Falava a respeito de outra miséria nacional: a acomodação alienante, o ‘dar de ombros’ a tudo que tem de ser analisado, refletido, porque o brasileiro não é pragmático por opção, mas por obtusidade.





Se a miséria do comodismo do povo é histórica, a miserável locupletação governamental também provém de um passado de interesses imediatos e particulares, e permanecem idênticos, como se fossem resultantes de um processo de genética cultural.





Por ser uma virtude negativa, a miséria da resignação é bem-vinda aos governantes, que fazem adiar as soluções dos problemas sociais e econômicos, sempre, para um futuro, além do horizonte.





Faz parte do repetitivo discurso das autoridades a miserável mentira de falta de verbas para tudo o que se refere ao desenvolvimento humano (educação, saúde, oportunidade de trabalho), quando somos os que pagam os mais altos tributos entre outros povos. Se não fosse a miserável rapina a norma de conduta dos dirigentes, poderíamos estar num patamar invejável de crescimento em todas as áreas de atividades.





Resignar-se é aceitar o estágio de degradação a que desejam submeter o povo, e que se inicia na base da pirâmide social e se eleva até a linha divisória onde passam a ocupar os ‘eleitos’, os suseranos, sujeitando a sociedade à miséria da estagnação. Aos miseráveis governantes cabem, unicamente, administrar os casuísmos que lhes tragam vantagens políticas e financeiras.





Essas misérias governamentais ganham vigor no fato de se beneficiarem com o não querer progredir dos brasileiros, que é a miséria da inércia, da abúlica apatia, da aceitação tácita dos desmandos dos que detêm o poder. Beneficiam-se estes da não consciência de cidadania, fato apontado por Caio Prado Júnior (comunista) e que levou o historiador francês Louis Couty afirmar: “O Brasil não tem povo”.****





O Brasil é o vazadouro de miseráveis, nativos e de outras origens. É o centro da miserável venda de caráter. É o porto seguro dos miseráveis criminosos, de cá e de lá. É onde a miséria da impunidade abre as portas à promiscuidade, à consagração do assassino e do impostor, enquanto trancadas permanecem pela miséria da injustiça aos que defenderam esta rica, mas tão pobre e miserável nação. É onde a meritocracia é sufocada pela miserável mediocridade, em favor de miseráveis interesses subalternos. É onde a miserável inveja tenta denegrir aqueles que se destacam pelos estudos e pela oposição a todas as misérias nacionais.





Tudo isso, porque é íntimo o manuseio do erário pelas ratazanas do poder, como comprovam as palavras de Collor, quando da sua miserável gestão: “Nada se compara à Presidência de um país. Você pode fazer o que quer, da maneira que quiser. Quando não está satisfeito com alguma coisa pode mandar fazer de novo. Nada é igual a isso.”*****





E que se dane o dinheiro do contribuinte, enquanto governos miseráveis como os que já passaram e o da elite petista ocuparem o poder!





*Orador e senador romano (103.aC-43 a.C.).

** Escritor e poeta romano, contemporâneo de Cícero.

***’Hábitos Parlamentares’. Obras Completas, 1996, p. 408.

****Formação do Brasil contemporâneo. 20. ed., p. 281.

*****VEJA, 23/12/1992, p. 23.




Aileda de Mattos Oliveira é Dr.ª em Língua Portuguesa e membro da Academia Brasileira de Defesa.


Nenhum comentário: