Como Rodrigo Constantino é mais rápido que eu, fico em
dúvida sobre escrever ou não sobre um assunto já dissecado por ele. Não que eu
queira me comparar, é covardia, mas o gozado é que todos os dias temos as
mesmas ideias e as mesmas críticas a fazer.
Mas hoje, na crítica que Rodrigo fez ao artigo de Francisco
Bosco no Globo, onde o presunçoso rapazola avermelhado discorreu sobre o que é
ou o que deixa de ser a tal “elite
branca”, como ele não mencionou a origem da expressão ou, pelo menos a
primeira vez que foi usada com o sentido que tem agora (se é que tem algum
sentido), vou me aventurar.
Em 2006 houve uma onda de violência em São Paulo, comandada
pelos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) presos, onde ocorreram mais
de 100 ataques criminosos em diversos locais da capital. Tais ataques fizeram o
governador decretar toque de recolher no município e em seguida decretou Estado
de Emergência na Capital a cidade teve que receber reforço de cerca de mil
soldados da reserva da PMESP e de 800 homens da Força Nacional de Segurança.
Esse governador era Claudio Lembo, do então PFL (hoje DEM)
que, por ser vice do governador Geraldo Alckmin que renunciou para concorrer à
Presidência, assumiu o Palácio dos Bandeirantes. Lembo tem um passado
interessante. Tem uma larguíssima folha de serviços ao regime militar como
prócer, em São Paulo, da Arena - pela qual jamais conseguiu ganhar uma eleição -
e, até então, era considerado pela esquerda (e por todo mundo) um reacionário
empedernido.
O problema é que o furdunço do PCC em Sampa parece que
fundiu os miolos de Lembo e ele desatou a falar asneiras. Parece que a primeira
delas foi na entrevista à Folha no dia 18 de maio de 2006, quando disse:
“Nós temos uma
burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa. A bolsa da burguesia
vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no
sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo
e reciprocidade de situações.”
Ou seja, Lembo pirou de uma hora para outra, adotando um
discurso pra lá de “progressista”, que é como gostam de ser chamados os outrora
inimigos mortais do governador. Com isso, quem acabou pirando também foi a
esquerda - ou boa parte dela -, que passou a considerar Lembo como um ícone, um
milagre operado por São Karl Marx.
Mas, pelo que me consta ele ainda não tinha mencionado a “elite” sim a “minoria branca”. No entanto, alguns blogs petralhas à época não
perderam tempo, ligaram a tecla SAP e logo fizeram a “tradução”, como esta, da
Carta Maior, escrita por Lula Miranda em 23/5/2006:
“O governador do estado de São Paulo, Cláudio Lembo, em
recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desandou a desancar a elite
brasileira, que ele chamou, com insuspeita propriedade, de ‘elite branca’.”
Deslumbrado com a repentina notoriedade, Lembo, que até
então era pouco mais que coisa nenhuma, parece que gostou da “adaptação” da sua
expressão e passou a adotá-la, bem como adotou o discursinho “progressista”,
como nesta entrevista a Bob Fernandes:
“Há um conflito entre a elite
branca, que não percebe a realidade brasileira... O que está se vivendo é
uma guerra civil. Numa sociedade consumista como a nossa há quem se revolte...
Quando não há uma luta ideológica há uma luta como a que estamos vendo nas ruas
de São Paulo, isso no fundo é ausência de ideologia, quando havia ideologia
havia conflito de ideias, hoje não há conflito de ideias há conflito de
consumidores, os que não tem capacidade de consumo agem de todas as maneiras, e
agridem... É ai que eu vejo um conflito entre a elite e a sociedade como um
todo...”
Como se vê, a história da tal “elite branca” é o próprio samba do reacionário doido misturado com
as mentiras que os petralhas inventam. A coisa não tem nada a ver com masturbações
intelectuais de Bosco, que chegou à conclusão que:
“Assim, ‘elite branca’ designa, a princípio, o grupo social
privilegiado ou dominador (essa é outra ambiguidade a ser desfeita adiante), de
cor simbólica branca. Se pararmos aqui, a expressão, considerando sua carga
depreciativa e acusatória embutida, seria uma generalização injusta. Afinal,
muitas das pessoas que participam das classes médias e altas, e são brancas
simbólicas, não podem ser acusadas de colaborar, aberta ou disfarçadamente, com
a perpetuação das nossas desigualdades estruturais (é essa a acusação
embutida). Justamente, devemos fazer ainda uma outra distinção. O que a
expressão ‘elite branca’ pretende caracterizar não é a situação excessiva ou
relativamente privilegiada em que se encontra um grupo social, mas o modo como
esse grupo se posiciona diante das desigualdades estruturais do país. Pertencem
à ‘elite branca’ aqueles que pensam e agem no sentido da manutenção dessas
desigualdades e, consequentemente, de seus privilégios, atuando como um grupo
dominador. Não pertencem a essa ‘elite branca’ (que, portanto, é uma categoria
mais política e moral do que econômica e fenotípica) aqueles que, situando-se
em um grupo social privilegiado, pensam e agem no sentido do combate às
desigualdades, renunciando a privilégios em benefício da justiça social.”
Vá ser bobo assim na sede do PT, Chico Bosco!
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