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no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Percival Puggina
Quem xingou Dilma
no Itaquerão? Fossem sonoros aplausos, a comunicação oficial não teria
constrangimento em ressaltar a ruidosa e alegre saudação popular dedicada à
presidente. Mas não foram aplausos. Impunha-se, portanto, circunscrever a ação
dos torcedores a um pequeno e seleto grupo de privilegiados e em encontrar
responsáveis pelo ocorrido.
O ex-presidente
Lula, que, prudentemente, não passa nem de avião por sobre os estádios com cuja
construção se comprometeu, veio às falas. Ao se manifestar, no dia seguinte,
durante um comício do PT em Pernambuco, apelou para o velho truque de emoldurar
o fato num quadro simplista: o estádio teria sido capturado por não torcedores,
gente cheia de ódio. Quem estimulou esse ódio? Setores da imprensa. Quais as
razões do ódio? Revolta dos ricos contra o crescente bem estar dos pobres. Mas
adiante, sublinhou não haver no estádio ninguém com cara de pobre. "A não
ser você Dilma". Nenhum "moreninho". E afirmou que o público era
formado pela "parte bonita da sociedade, que comeu a vida inteira".
Ao querer
simplificar, Lula complicou e se complicou. É impossível não perceber os
preconceitos desse discurso. Para que tal oratória fique de pé, o ex-presidente
decide que branco é bonito e moreninho feio, e que quem sempre comeu se revolta
quando todos comem. Por quê? Faltando os porquês, o discurso cai. Desaba como
uma pedra sobre os sapatos Louboutin da presidente com cara de pobre. Lula
sempre forçou antagonismos para se posicionar: pobres contra ricos, moreninhos
contra branquinhos, olhos claros contra olhos escuros, empregados contra
patrões, índios contra civilizados. E vice-versa, ao gosto do freguês. Agora,
nos apresenta o Brasil dividido, também, entre o Brasil dos bonitos e o Brasil
dos feios. Arre, Lula!
Mas não foi só aí
que, por excesso de simplificação, a oratória ex-presidencial despencou a ponto
de tornar a fala imprestável para qualquer par de neurônios que lhe desse
atenção. Afinal, quem, sem consultas, sem ouvir a opinião pública, na escuridão
do próprio bestunto, decidiu trazer a Copa de 2014 para o Brasil? Quem cedeu às
exigências e padrões da FIFA? Quem multiplicou as sedes e construiu estádios
onde sequer existem clubes de futebol? Quem, se não o próprio Lula, criou o
cenário para a festa do dia 12, não no histórico Maracanã, não na Capital
Federal, mas no estádio do seu Corinthians? Agora, após o acontecido, ele
imagina que o país também se divide entre uma multidão burra e uns poucos
inteligentes, entre os quais o próprio. E fala, novamente, como se nada tivesse
a ver com o que acontece no país.
Percival Puggina
(69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do sitewww.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Originalmente publicado no jornal ZERO HORA, em
22 de junho de 2014.
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