quarta-feira, 11 de junho de 2014

Bowe Bergdahl e o impeachment de Barack Obama



O que aconteceu nos últimos dias nos EUA é de uma gravidade tão evidente que os americanos ainda parecem atônitos com a percepção de que Barack Hussein Obama é ainda pior do que o que seus mais duros críticos diziam.

Bowe Bergdahl (28), filho do caminhoneiro Robert Bergdahl e da dona-de-casa Jani Larson, um rapaz tímido que nunca tirou carteira de motorista e foi educado pela mãe em casa, é o centro do que pode ser a maior polêmica de governo Barack Obama.
Filho de pais presbiterianos ortodoxos aparentemente convertidos ao islamismo, Bowe foi também budista e dançava balé até entrar no exército. 


Era tido pelos colegas do exército como introspectivo e estudioso, do tipo que deixava de sair nos dias de folga para aprender tudo que podia sobre o Afeganistão, país para onde tinha sido enviado.


Seus colegas disseram que várias vezes manifestou o desejo de largar o exército e emigrar para o Paquistão ou Índia (seu posto, em Yahya Kheyl, era relativamente próximo da fronteira com o Paquistão). Bowe dizia abertamente ter vergonha de ser americano e de pertencer ao exército, era contrário à guerra e seus emails enviados a amigos e parentes, agora públicos, mostram um estado de espírito perturbado, raivoso e revoltado com sua condição de membro das forças de ocupação.


Na madrugada de 30 de junho de 2009, Bergdahl largou suas armas e abandonou seu posto em circunstâncias ainda obscuras, mas seus ex-companheiros afirmam categoricamente que ele fugiu por vontade própria. Para todos os efeitos, Bergdahl era um desertor, e deserção é um crime militar gravíssimo em qualquer lugar do mundo.


Bergdahl acabou capturado pelos talibãs, o que não é surpreendente se você sai perambulando sozinho e desarmado naquela zona de conflito. Pelo menos seis militares americanos morreram em ações de busca e resgate a Bergdahl.
Após diversas negociações, Bergdahl foi trocado pelo governo Obama por cinco dos mais perigosos detentos da prisão de Guantánamo, em Cuba, o que colocou a América num dos maiores turbilhões políticos da sua história recente.


As circunstâncias da troca são pra lá de controversas, o que fez com que muitos falem na abertura de um processo de impeachment contra Barack Hussein Obama. O que se sabe até o momento:


- A negociação foi feita à revelia da lei, que obriga o governo comunicar previamente ao Congresso qualquer tipo de negociação desse tipo. Pelo menos 80 membros do governo americano e do Qatar estavam envolvidos nas negociações e, mesmo assim, nenhum congressista foi avisado. Em 2011 e novamente em 2013, o Congresso havia sido formalmente consultado sobre a negociação e recusou os termos por unanimidade, tanto no senado quanto na câmara dos deputados.


- Mesmo alguns dos mais ferrenhos defensores de Obama no próprio partido, como a senadora californiana Dianne Feinstein, estão revoltados com a decisão unilateral do governo e pedindo mais explicações. O governo estava ciente de que deveria consultar o Congresso para fechar qualquer acordo e, mesmo assim, fez a troca, alegando que Bergdahl estava em péssimas condições de saúde e poderia morrer a qualquer momento, o que impediria uma consulta formal ao poder legislativo. 


As imagens do saudável e sorridente Bowe Bergdahl após a soltura desmentem categoricamente esta versão, o que fez o governo Obama mudar o discurso e dizer que ele estava sob ameaça de morte, o que justificaria então o bypass no Congresso.
- A crítica mais leve que o acordo recebeu, dos tradicionais apoiadores de Obama na imprensa e na política, é que a troca como foi feita, envolvendo cinco dos mais perigosos terroristas do mundo, deveria ter sido muito mais amplo, envolvendo outras contrapartidas e não somente a libertação de um único sargento. Com a libertação desses terroristas, o combalido talibã ganha vida nova.



- O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, e toda cúpula do seu governo, estariam se sentindo traídos pelo governo Obama pelo acordo, feito à sua revelia e pelas suas costas. Karzai teria se mostrado extremamente incomodado com o acordo e com a possibilidade de outras negociações estarem ocorrendo entre o governo americano e os talibãs sem seu conhecimento ou aprovação.


- “Não negociamos com terroristas” não é apenas um bordão de Jack Bauer, o lendário personagem de Kiefer Sutherland em “24 Horas” (http://youtu.be/Aw8PWR7S_Rk), mas uma maneira de mostrar aos terroristas que eles não devem sequestrar americanos porque não vai terminar bem para eles, assim como bandidos evitam matar policiais porque sabem as conseqüências. O governo Obama passou uma mensagem aos terroristas do mundo todo: sequestrem americanos que estamos abertos para negociar. Não é preciso ser vidente para saber que essa atitude colocou em risco a vida de milhares de americanos e que deverá ser responsável por muitas mortes ainda.


- Bergdahl era um desertor e está sendo tratado pelo governo como herói de guerra, o que colocou as forças armadas, os veteranos e todos os patriotas do país em choque. Ele deveria enfrentar a corte marcial, o que é a expectativa de todos os militares do país, mas o governo anunciou que ele seria aposentado com honras e todos os benefícios, em flagrante desrespeito às leis. Só isso já será suficiente para colocar o país em pé de guerra internamente.


- Susan Rice, a poderosa assessora para assuntos de segurança nacional do presidente, uma espécie de Marco Aurélio Garcia deste Lula americano, fez um road show nos programas de TV no último fim de semana para dizer, entre outros absurdos, que Bergdahl havia “servido o país com honra e distinção”, o que é uma mentira deslavada. Rice já havia mentido no episódio de Bengazi, em que passou semanas dizendo que os ataques haviam sido causados por um vídeo no YouTube.


- Há fortes indícios de que Bergdahl passou para o lado do inimigo, virou muçulmano, mudou seu nome para um nome árabe e que passou a agir como um colaborador dos talibãs contra o próprio país. Bergdahl teria passado segredos militares para os talibãs que causaram diversas mortes de ex-companheiros. Especialistas dizem que é impensável admitir que os talibãs mantiveram um prisioneiro de guerra por cinco anos em excelentes condições de saúde como Bergdahl foi devolvido se ele não tivesse mudado de lado.


- O grupo que trocou Bergdahl pelos prisioneiros de Guantánamo não era exatamente o talibã, mas os Haqqani, um grupo radical islâmico que fica baseado exatamente na região da fronteira do Paquistão com o Afeganistão próxima do posto em que Bergdahl estava quando sumiu. Os Haqqani, com ligações com a Al Qaeda e com os talibãs, formam um grupo de bandoleiros que aterrorizam as cidades por onde passam basicamente em busca de dinheiro.


- Especialistas no assunto dizem que os Haqqani só entrariam nesse negócio para faturar alto na troca, e a triangulação seria uma maneira do governo Obama poder mandar dinheiro público para os talibãs em nome de uma troca de um militar. Se for isso mesmo, impeachment é pouco. No mínimo, se conseguirem provar que Obama mandou dinheiro do tesouro para trocar Bergdahl sem consultar o Congresso é um crime que pode dar cadeia para ele.


- Os cinco terroristas libertados de Guantánamo na troca estão entre os mais perigosos do mundo e é claro que causarão novas mortes de americanos a partir de agora, sem contar os 52 americanos que morreram na busca e captura destes presos. Um militar sabe os riscos que corre ao entrar na carreira, faz um juramento, e é injustificável que, mesmo que Bergdahl não seja um desertor, se troque um soldado por cinco líderes do inimigo em plena guerra. Não se está dizendo que o governo não deveria buscar meios de libertar o americano por questões humanitárias, mas evidentemente que não desta forma.


- Barack Obama tinha como uma de suas mais importantes bandeiras de campanha o fechamento da prisão de Guantánamo. Ele não teve condições políticas de realizar a promessa, mas é razoável imaginar que ele nunca mudou de idéia. Muitos analistas estão defendendo que Obama usou a troca como desculpa para soltar cinco dos mais perigosos terroristas daquela prisão, o que seria um ardil para começar seu fechamento sem consultar ninguém, já que, se esses cinco podem ser soltos, por que não os outros que ainda estão lá?
Rose Garden


Como se tudo isso não bastasse, na cerimônia com os pais de Bergdahl no Rose Garden, em plena Casa Branca (foto), o pai de Bowe, Robert “Bob” Bergdahl, que cultiva agora uma barba enorme, abriu seu pronunciamento em árabe dizendo “bism allah alrahman alraheem“, algo como “em nome de Alá, o misericordioso”, o que foi interpretado como um ritual religioso para reclamar a Casa Branca para Alá. 


Nesse momento, Bob Bergdahl recebeu um largo sorriso de Obama, que estava ao seu lado, e depois falou em pachto, uma das línguas faladas no Afeganistão, com a ridícula justificativa de que o filho já não entendia mais inglês. Cinco anos em cativeiro e não fala mais inglês? Ah, tenha dó!



Bowe Bergdahl está num hospital militar em Landstuhl, na Alemanha, e não quis falar nem com os pais depois que foi resgatado, portanto o caso ainda está longe de resolvido e muitas informações devem ainda aparecer.


O que aconteceu nos últimos dias nos EUA é de uma gravidade tão evidente que os americanos ainda parecem atônitos com a percepção de que Barack Hussein Obama é ainda pior do que o que seus mais duros críticos diziam e é, sem dúvida, o maior risco à segurança nacional que o país já teve.

Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.

Nenhum comentário: