Moradores fecharam rodovia para reivindicar melhorias
“Entra aqui que vocês morrem!”. Este foi o tom do discurso da
tropa de choque da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos bairros de
Morada da Serra e Águas Bonitas, em Águas Lindas (GO).
Moradores da Região Metropolitana do DF fecharam parte da BR-070 às 5h, no trecho em frente aos referidos bairros, e tiveram parte de suas reivindicações engolidas por gás de pimenta e bombas de efeito moral. Após um dia marcado pelo confronto com a polícia, a manifestação terminou com a promessa de melhorias.
De um lado, cerca de 200 manifestantes, de acordo com a PRF, questionando a ausência de integrantes da prefeitura no local para ouvir os problemas do povo.
De outro, integrantes da tropa de choque com a única missão de liberar a rodovia federal, cuja obstrução constitui crime previsto por lei.
O saldo foram pelo menos 11 presos, até o fim da tarde de ontem, e quase 14h de protestos.
“Vocês estão atacando é trabalhador, não é vagabundo não”, bradou o auxiliar de limpeza Justino da Conceição, de 54 anos, por volta do meio-dia. Morador de Águas Lindas há 20 anos, ele reclamou de praticamente tudo da cidade. “Tem lugar que o ônibus não entra porque os motoristas dizem que têm medo de assalto.
Mas quando pegamos, andamos que nem sardinha”, esbravejou, antes de fugir de uma bomba disparada pela PRF.
O marceneiro Sinoá Ramos, 27, engrossou a revolta, enquanto protegia o pequeno Caio, de sete anos, da fumaça de gás lacrimogêneo, em uma viela do bairro Águas Bonitas. “Os (transportes) piratas é que estavam nos salvando, quando faltava ônibus. Eles são até mais confortáveis’”, queixou-se.
Houve também quem reclamasse do asfaltamento (quase inexistente nos dois bairros), falta de energia, fornecimento de água e saneamento básico. “É só entrar um pouquinho na cidade para entender o porquê desses protestos”, justificou Júlio Pereira Machado, porteiro de 34 anos, morador de Águas Lindas desde 1992.
Protesto sem pauta definida
Por volta das 5h, a Polícia Militar de Goiás (PMGO) enviou quatro viaturas com dois policiais em cada para verificar a interdição da BR-070 com troncos em chamas. Até o início da tarde, a corporação estimou 200 manifestantes. O major Saint Just alega ter tentado negociar com os revoltosos, sem sucesso. “Por se tratar de uma rodovia federal, tivemos de acionar a PRF”, disse.
A Polícia Rodoviária, então, enviou 68 agentes, entre tropa de choque, pronta-emprego e motociclistas. Parte do efetivo veio de outros estados para integrar a força-tarefa criada especialmente para a Copa do Mundo. Uma nova tentativa de negociação teria ocorrido às 9h30, outra vez infrutífera, o que motivou a ação dispersiva da tropa de choque, por volta do meio-dia.
Parte da animosidade entre polícia e manifestantes se deu pela ausência de uma pauta de reivindicações e, principalmente, de representantes do movimento. “É difícil mediar o conflito, pois não identificamos lideranças. Tentamos negociação junto à prefeitura também, mas eles estão muito intransigentes”, relatou o chefe de comunicação da PRF, inspetor Bonfim.
Após o emprego de bombas, os manifestantes fugiram. Uma parte subiu a ladeira de Águas Bonitas e outra desceu o barranco da Morada da Serra.
O clima esquentou
Após a liberação da BR-070, os populares se aglomeraram na entrada dos locais que estavam restritos pela barreira da tropa de choque. Com isso, o acesso à rodovia ficou bloqueado.
A via no sentido Cocalzinho foi desobstruída às 12h25 e o mesmo aconteceu 25 minutos depois nas pistas no sentido Brasília.
Violência
Por volta das 13h, os agentes da PRF adentraram os dois bairros com intuito de afastar as pessoas o máximo possível da rodovia. Parte da população respondeu com pedras e garrafas arremessadas, mas foram contidas pela polícia.
Após alguns minutos, os manifestantes recuaram e montaram cordão de proteção ao redor da BR, o que garantiu, pelo menos, a fluidez do trânsito.
Durante a incursão em Morada da Serra, houve, ainda, espaço para atritos entre os próprios habitantes. Uma moça foi acusada de tentar furtar um esmalte da farmácia local e uma das donas foi tirar satisfação. Elas se exaltaram e só acalmaram os nervos após intervenção da PM.
Até às 19h, PRF e Polícia Militar somavam 11 prisões. Os suspeitos, entre eles um menor de idade, foram encaminhados à Delegacia de Águas Lindas.
Sinal de acordo
Pouco antes das 17h, o major Saint Just conversou novamente com manifestantes, mais exaltados após repressão policial. “Vocês precisam voltar para suas casas ou o choque (da PM) vai agir em 10 minutos”, advertiu o militar. Nesse horário, os moradores de Morada da Serra faziam o maior volume e prometiam “não arredar o pé” da pista marginal à rodovia até suas reivindicações serem ouvidas por alguém do governo.
A atendente de loteria Aline Abreu, de 20 anos, foi a primeira a contestar. “Um dia tiramos um presidente da República. Por que não tiraríamos um prefeito?”, desafiou.
Ela passou a ser a porta-voz dos manifestantes durante as negociações. “Nossa água é salobra e quem tem carro não pode andar pelo bairro porque tem muito buraco”, diz.
Moradores da Região Metropolitana do DF fecharam parte da BR-070 às 5h, no trecho em frente aos referidos bairros, e tiveram parte de suas reivindicações engolidas por gás de pimenta e bombas de efeito moral. Após um dia marcado pelo confronto com a polícia, a manifestação terminou com a promessa de melhorias.
De um lado, cerca de 200 manifestantes, de acordo com a PRF, questionando a ausência de integrantes da prefeitura no local para ouvir os problemas do povo.
De outro, integrantes da tropa de choque com a única missão de liberar a rodovia federal, cuja obstrução constitui crime previsto por lei.
O saldo foram pelo menos 11 presos, até o fim da tarde de ontem, e quase 14h de protestos.
“Vocês estão atacando é trabalhador, não é vagabundo não”, bradou o auxiliar de limpeza Justino da Conceição, de 54 anos, por volta do meio-dia. Morador de Águas Lindas há 20 anos, ele reclamou de praticamente tudo da cidade. “Tem lugar que o ônibus não entra porque os motoristas dizem que têm medo de assalto.
Mas quando pegamos, andamos que nem sardinha”, esbravejou, antes de fugir de uma bomba disparada pela PRF.
O marceneiro Sinoá Ramos, 27, engrossou a revolta, enquanto protegia o pequeno Caio, de sete anos, da fumaça de gás lacrimogêneo, em uma viela do bairro Águas Bonitas. “Os (transportes) piratas é que estavam nos salvando, quando faltava ônibus. Eles são até mais confortáveis’”, queixou-se.
Houve também quem reclamasse do asfaltamento (quase inexistente nos dois bairros), falta de energia, fornecimento de água e saneamento básico. “É só entrar um pouquinho na cidade para entender o porquê desses protestos”, justificou Júlio Pereira Machado, porteiro de 34 anos, morador de Águas Lindas desde 1992.
Protesto sem pauta definida
Por volta das 5h, a Polícia Militar de Goiás (PMGO) enviou quatro viaturas com dois policiais em cada para verificar a interdição da BR-070 com troncos em chamas. Até o início da tarde, a corporação estimou 200 manifestantes. O major Saint Just alega ter tentado negociar com os revoltosos, sem sucesso. “Por se tratar de uma rodovia federal, tivemos de acionar a PRF”, disse.
A Polícia Rodoviária, então, enviou 68 agentes, entre tropa de choque, pronta-emprego e motociclistas. Parte do efetivo veio de outros estados para integrar a força-tarefa criada especialmente para a Copa do Mundo. Uma nova tentativa de negociação teria ocorrido às 9h30, outra vez infrutífera, o que motivou a ação dispersiva da tropa de choque, por volta do meio-dia.
Parte da animosidade entre polícia e manifestantes se deu pela ausência de uma pauta de reivindicações e, principalmente, de representantes do movimento. “É difícil mediar o conflito, pois não identificamos lideranças. Tentamos negociação junto à prefeitura também, mas eles estão muito intransigentes”, relatou o chefe de comunicação da PRF, inspetor Bonfim.
Após o emprego de bombas, os manifestantes fugiram. Uma parte subiu a ladeira de Águas Bonitas e outra desceu o barranco da Morada da Serra.
O clima esquentou
Após a liberação da BR-070, os populares se aglomeraram na entrada dos locais que estavam restritos pela barreira da tropa de choque. Com isso, o acesso à rodovia ficou bloqueado.
A via no sentido Cocalzinho foi desobstruída às 12h25 e o mesmo aconteceu 25 minutos depois nas pistas no sentido Brasília.
Violência
Por volta das 13h, os agentes da PRF adentraram os dois bairros com intuito de afastar as pessoas o máximo possível da rodovia. Parte da população respondeu com pedras e garrafas arremessadas, mas foram contidas pela polícia.
Após alguns minutos, os manifestantes recuaram e montaram cordão de proteção ao redor da BR, o que garantiu, pelo menos, a fluidez do trânsito.
Durante a incursão em Morada da Serra, houve, ainda, espaço para atritos entre os próprios habitantes. Uma moça foi acusada de tentar furtar um esmalte da farmácia local e uma das donas foi tirar satisfação. Elas se exaltaram e só acalmaram os nervos após intervenção da PM.
Até às 19h, PRF e Polícia Militar somavam 11 prisões. Os suspeitos, entre eles um menor de idade, foram encaminhados à Delegacia de Águas Lindas.
Sinal de acordo
Pouco antes das 17h, o major Saint Just conversou novamente com manifestantes, mais exaltados após repressão policial. “Vocês precisam voltar para suas casas ou o choque (da PM) vai agir em 10 minutos”, advertiu o militar. Nesse horário, os moradores de Morada da Serra faziam o maior volume e prometiam “não arredar o pé” da pista marginal à rodovia até suas reivindicações serem ouvidas por alguém do governo.
A atendente de loteria Aline Abreu, de 20 anos, foi a primeira a contestar. “Um dia tiramos um presidente da República. Por que não tiraríamos um prefeito?”, desafiou.
Ela passou a ser a porta-voz dos manifestantes durante as negociações. “Nossa água é salobra e quem tem carro não pode andar pelo bairro porque tem muito buraco”, diz.
Paz depois do confronto
Por volta das 17h30, o chefe de gabinete da prefeitura, Rubens
Cardoso, chegou ao local de conflito e convidou dez manifestantes para a
mesa de reunião do prefeito Hildo do Candango (PTB-GO), que havia
acabado de retornar de Goiânia (GO).
Durante a reunião, Hildo do Candango se defendeu das acusações de negligência e apontou melhorias já promovidas pela sua gestão.
“Tenham um pouco de paciência que as obras de melhoria começam mês
que vem. Mais de R$ 70 milhões serão investidos na Morada da Serra”,
disse.
Ele justificou a ausência nos protestos durante o dia alegando que
“o palco de discussão é aqui”, disse, apontando para a mesa. “Eu não vou
a manifestação como não vou a qualquer outro movimento”, afirmou,
categórico.
Ao fim da reunião, um acordo foi firmado para haver trégua até 2 de
julho, quando as obras de infrestrutura prometidas pelo prefeito Hildo
devem ser iniciadas.
Entre as principais melhorias a curto prazo, está o asfaltamento
dos bairros Morada da Serra e Águas Bonitas e a instalação de iluminação
ao longo do trecho da rodovia que corta Águas Lindas.
Versão oficial
Alguns moradores de Águas Lindas (GO) reclamaram do uso de bombas
de gás lacrimogêneo nas proximidades de residências tanto no bairro
Águas Bonitas quanto em Morada da Serra.
A PRF, por meio de seu chefe de
comunicação, inspetor Bo nfim, afirmou que agiu “dentro da doutrina” e
que a tecnologia utilizada possui a finalidade apenas de dispersar, não
de ferir.
“Quando vamos agir, pedimos aos cidadãos de bem que fiquem em
suas casas ou se afastem das zonas de conflito justamente para evitar
problemas”, alegou Bonfim. Ele disse que foram dadas duas horas para os
manifestantes saírem voluntariamente, mas foi preciso o emprego de
força.
Cronologia
5h –A Polícia Militar de Goiás (PMGO) foi acionada devido ao
bloqueio nos dois sentidos da BR-070, em Águas Lindas (GO), em frente às
entradas dos bairros Morada da Serra e Águas Bonitas.
9h30 – 10h – Por se tratar de uma rodovia federal, Polícia
Rodoviária Federal (PRF) foi acionada para desobstruir as pistas. Houve
tentativa de negociação, e foram dadas aos manifestantes cerca de duas
horas para se dispersarem.
12h – A tropa de choque da PRF agiu contra os cerca de 200
manifestantes, moradores, em geral, dos dois bairros adjacentes à
rodovia.
12h25 – Pista sentido Cocalzinho foi liberada.
12h50 – Pista sentido Brasília foi liberada.
13h30 – A PRF, que havia acuado os manifestantes para dentro dos
bairros Morada da Serra e Águas Bonitas, recuou as tropas até a beira da
rodovia.
14h25 – Manifestantes ficaram na entrada de seus respectivos
bairros, enquanto a PRF montou barreira nos acessos à rodovia, para
impedir as pessoas de invadirem-na novamente.
14h40 – Moradores da Morada da Serra entraram em conflito após
suposta tentativa de roubo em uma farmácia local. Houve luta corporal
entre duas mulheres e a PMGO apaziguou o conflito, sem prisões.
15h – PMGO e PRF somavam, juntas, nove prisões até aquele momento.
15h01 – A tropa de choque da PRF adentrou novamente nos bairros e
disparou bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. A
resposta dos manifestantes foi o arremesso de pedras com estilingues e
xingamentos.
15h45 – Ônibus da Taguatur, uma das empresas que atendem a região,
foi apedrejado por três pessoas após parar para deixar passageiros.
16h46 – O major Saint Just, da Polícia Militar de Goiás, iniciou
nova negociação com populares da Morada da Serra. Ele queria que os
manifestantes voltassem para suas casas e deu um prazo de dez minutos
até que a tropa de choque da PM entrasse em ação.
17h20 – Após populares convencerem a PMGO a aguardar a chegada de
representantes da prefeitura, o chefe de gabinete do prefeito, Rubens
Cardoso, chegou ao local. Ele conduziu dez manifestantes à prefeitura
para tratar do assunto diretamente com o prefeito Hildo do Candango
(PTB-GO).
17h40 – Manifestantes iniciaram conversas com prefeito Hildo.
18h10 – Manifestantes e prefeito chegaram a acordo e trégua foi
estabelecida até 2 de julho, quando obras de infraestrutura devem ser
iniciadas no bairro Morada da Serra.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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