domingo, 8 de junho de 2014

Crédito consignado compromete por 5 anos salários de servidores


Servidores estão com os salários comprometidos por 67 meses apenas com o crédito consignado, que soma R$ 143 bi

 
Publicação: 08/06/2014 11:53 Correio Braziliense


Fernando Fernandes diz que não fecha as contas sem recorrer a empréstimos. Meta é garantir padrão de vida (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Fernando Fernandes diz que não fecha as contas sem recorrer a empréstimos. Meta é garantir padrão de vida


Nem os reis da estabilidade escapam do perrengue. Os servidores públicos, com salário garantido todo mês, nunca dependeram tanto dos empréstimos consignados — aqueles descontados diretamente no contracheque — para arcar com os compromissos financeiros. O saldo devedor dessas dívidas está em R$ 143,1 bilhões, recorde registrado pelo Banco Central. O montante supera em quase oito vezes o total de recursos destinados aos trabalhadores da iniciativa privada.

A dívida dos servidores com os bancos tem aumentado numa velocidade bem maior do que a de quem não trabalha para o Estado: no último ano, cresceu quase o dobro. Com mais crédito disponível, os funcionários públicos têm demorado mais para quitar os débitos. Em média, o tempo de endividamento chega a cinco anos e meio (67,2 meses) — o maior da história, também de acordo com o BC —, contra três anos e meio (42,5 meses) dos consignados do setor privado.

A busca dos servidores por crédito para pagar as contas, analisa o consultor Alexandre Ayres, sócio da Neocom Informação Aplicada, é o clássico exemplo da crise pelo endividamento. “Entre essas pessoas, há muita gente considerada rica, mas que acabou comprometendo até 90% da renda com financiamentos”, conta. 


Com a disparada dos juros, quem se curvou aos consignados agora se vê atordoado. 

“Pode até ter estabilidade, mas não há mais sobra de dinheiro”, acrescenta. Ele ressalta ainda que, além dos empréstimos com desconto em folha, os funcionários públicos têm pesadas dívidas no cartão de crédito, no cheque especial, com carros e a casa própria.


Famílias estão devendo R$ 1,3 trilhão aos bancos, segundo o Banco Central  


Governo quer estimular o crédito para incrementar o PIB raquítico, mas as famílias estão com o orçamento no limite devido à inflação alta e aos débitos recordes com os bancos

Publicação: 08/06/2014 08:00 Correio Braziliense
 
As dívidas e a preocupação com elas não param de crescer. Ainda ressaqueados pelo fim da euforia do consumo e do crédito farto, brasileiros penam para ajustar as contas e se adaptarem a uma realidade de inflação e juros altos. Somente às instituições financeiras, de acordo com o Banco Central, as famílias estão devendo R$ 1,3 trilhão, um recorde correspondente a 26,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos últimos 12 meses, esse montante acumula alta de 15,2%, ilustrando o aperto no orçamento doméstico.

O real saldo do comprometimento da renda dos brasileiros com empréstimos é ainda maior do que o calculado pelo BC. O mapeamento da autoridade monetária não inclui as dívidas alheias ao sistema financeiro, como aquelas assumidas pelos consumidores diretamente com o comércio. Não à toa, o endividamento das famílias tem alcançado patamares nunca antes registrados: a carestia deu a sensação de que o salário encolheu e os débitos alargaram.

O consumo não tem mais força para garantir o crescimento do país, apesar da insistência do governo de que os brasileiros precisam de mais crédito para ajudar a atividade a sair do atoleiro em que se encontra. O nebuloso cenário da economia, traçado pelos principais indicadores, reforça incertezas e potencializa um sentimento de apreensão, sobretudo porque a ameaça de recessão é cada vez maior. 


Em períodos de contração do PIB, o desemprego aumenta e fica mais difícil honrar os compromissos em dia. Por isso, educadores financeiros são unânimes ao orientar uma postura conservadora dos consumidores. Mais do que nunca, a ordem agora, para todas as classes, é conter gastos e consumir apenas o necessário, não abrindo mão da poupança.

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