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O Poder desqualificou o PT
Embora, na origem, fruto de uma inédita conjunção entre
intelectuais de esquerda, Igreja Católica da Teologia da Libertação e a
vanguarda do sindicalismo paulista, o PT tornou-se, com o exercício do poder,
um partido sem quadros. Perdeu os seus aliados intelectualmente mais
respeitáveis – gente do porte de Hélio Bicudo, Fernando Gabeira, Carlos Nélson
Coutinho, Leandro Konder, Francisco de Oliveira, para citar apenas alguns - e,
com eles, vestígios de substância, credibilidade e coerência. O poder
mudou-lhe o caráter e o conteúdo.
A busca de maioria a qualquer preço (e bota preço
nisso) aproximou-o de inimigos (não apenas adversários) do passado,
como, entre outros, Sarney, Collor, Jader Barbalho e Renan Calheiros. Sua
maioria parlamentar é calcada no mais abjeto baixo clero. Pior que isso,
investiu em práticas que no passado se notabilizara por condenar – e o Mensalão
não é caso isolado -, credenciando-se, a cada eleição, à confiança popular.
Hoje, o partido tornou-se uma espécie de símbolo da
corrupção, que prometia varrer do mapa da política. Basta dizer que seu
alto comando está hoje na Papuda. O filmete publicitário que exibiu
nas eleições de 1998, em que ratos roíam a bandeira nacional, ajusta-se hoje
mais ao partido de Lula que a qualquer outro, não obstante o descrédito da
população se estenda a todas as legendas.
O efeito dessa perda de substância e respeitabilidade tem
reflexos no campo administrativo e econômico. O cenário pré-Copa do Mundo se
soma ao fiasco da economia, em que os efeitos da inflação, sobretudo nos
alimentos, já se fazem sentir no bolso da população. A sensação de que o
partido não possui quadros capazes de oferecer soluções a problemas que ele
mesmo criou é geral nos meios empresariais, que apoiaram Lula com entusiasmo.
A queda de Dilma Rousseff nas pesquisas gerou alta na
bolsa, fato provavelmente inédito. Diante disso, o comando da campanha de
Aécio Neves, do PSDB, decidiu explorar a fragilidade dos quadros petistas,
sobretudo na área técnica, exibindo o nome de seus principais apoiadores, que,
nesses termos, surgem também como futuros ministros na eventualidade de sua
vitória.
Ele promete para o próximo mês, quando sua candidatura já
estiver oficializada, anuncia-los. Mas, desde já, adiantou o nome de Armínio
Fraga, como coordenador econômico de sua campanha. Fraga presidiu o Banco
Central no governo FHC, credenciando-se à confiança do mercado, pela
estabilidade que sua gestão propiciou.
Está sendo visto como futuro ministro da Fazenda, na
eventualidade de vitória tucana.
Com isso, Aécio não apenas provoca debandada entre os
empresários que apoiaram o PT – e o fizeram por mero pragmatismo, inerente
ao meio -, como gera contraste com a pífia gestão econômica de Guido Mantega,
que, tanto quanto Dilma já confessou, não tem a mínima ideia das razões por que
o país não cresce e a inflação dispara. O PT não tem quadros para a
economia, para convencer o país de que o modelo que patrocina é o melhor.
Com relação à administração, basta ver o cronograma das
obras da Copa do Mundo, cujo fiasco, cercado de suspeitas e denúncias, já
caiu na boca do povo. Ao contrário das eleições anteriores, marcadas pela
ânsia de continuidade de grande parte da população – e que o PSDB tentou em vão
capitalizar com o slogan “continuidade sem continuísmo” -, a tendência
agora é inversa. O anseio é por mudança. E o desafio de convencer o
eleitorado de que isso ocorrerá com o mesmo partido que há 12 anos governa é,
no mínimo, colossal.
Por: Ruy Fabiano é jornalista.
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