Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Oswaldo Alves de Siqueira Júnior
Para me fazer claro farei uso de um
exemplo. Imaginemos um cidadão brasileiro, com 54 anos de idade, casado há 30 com
a mesma mulher. Pai de um casal de filhos com, respectivamente, 25 e 27 anos,
também casados e pais de filhos.
Este senhor a quem denominaremos “Senhor H”
possui graus acadêmicos em Economia e Administração de Empresas além de bons
conhecimentos em Direito. Empresário bem sucedido no ramo do comércio de varejo
alcançou independência financeira com muito trabalho e dedicação. Trata-se de
um cidadão de bem com reconhecida reputação ilibada.
Por esse breve relato é possível
reconhecer-se no “Senhor H” um excelente quadro a ser eleito para um mandato de
representação parlamentar. Como transformá-lo em candidato a Deputado Federal,
por exemplo?
A primeira providência é filiá-lo a um
partido político. Hoje há 32 partidos registrados na Superior Justiça Eleitoral,
aptos a lançar candidaturas nas próximas eleições. Qual escolher?
Todo partido possui uma Carta Programa onde
assenta seus objetivos políticos e reflete a ideologia na qual ampara tais
objetivos. O problema reside no fato de que não há tantas ideologias para
justificar a existência de tantos partidos, mas, isso é assunto para outra
ocasião.
O ideal seria que houvesse um partido cuja
Carta Programa se alinhasse perfeitamente
ao perfil de crenças e objetivos do “Senhor H”. Infelizmente não há, pois, os
objetivos de todos eles não são claros, meridianos. Segundo afirmam, em
política não se alcança o ideal, somente o que for possível. Sendo assim, vamos
por aproximação.
Escolhido o partido resta saber se este
aceitará o “Senhor H”. A primeira pergunta que farão a ele é quais são as
fontes de recursos de que ele dispõe para financiar sua campanha, caso seja
escolhido na convenção do partido para sair candidato nas próximas eleições.
Nesse ponto três hipóteses. Ou nosso
escolhido dispõe de recursos próprios ou de fontes que o apoiariam caso se
tornasse candidato, ou então, o partido terá que investir parte dos recursos de
campanha na sua candidatura.
Não importa de onde virá o dinheiro, mas,
deverá ser devidamente compensado de alguma forma após a eleição. Quem, em sã
consciência, investiria a fundo perdido em sua própria candidatura? Quem o
fizer será por uma inescrupulosa, temerária e perigosa vaidade, hipótese
improvável para nosso homem. Por outra, que empresa ou empresário investiria
desprovido de qualquer interesse em algum candidato? Finalmente, por que um
partido político financiaria um candidato apenas pela sua qualificação pessoal?
Suponhamos que na convenção o “Senhor H”
foi indicado para disputar uma cadeira na Câmara Federal e o partido, somado a
alguns empresários ligados por laços de amizade com o candidato, resolveu
financiar sua campanha.
A essa altura o partido possivelmente
deverá ter concluídas as negociações para alianças e/ou coligações. Estarão essas
plenamente consoantes com as convicções políticas e ideológicas do candidato?
Não importa, sejam quais forem ele deverá aceitá-las pacificamente.
Nesse ponto três hipóteses. Ou nosso
escolhido dispõe de recursos próprios ou de fontes que o apoiariam caso se
tornasse candidato, ou então, o partido terá que investir parte dos recursos de
campanha na sua candidatura.
Não importa de onde virá o dinheiro, mas,
deverá ser devidamente
compensado de alguma forma após a eleição.
Quem, em sã consciência,
investiria a fundo perdido em sua própria
candidatura? Quem o fizer será por uma inescrupulosa, temerária e perigosa
vaidade, hipótese improvável para nosso homem. Por outra, que empresa ou
empresário investiria desprovido de qualquer interesse em algum candidato?
Finalmente, por que um partido político financiaria um candidato apenas pela
sua qualificação pessoal?
Suponhamos que na convenção o “Senhor H”
foi indicado para disputar uma cadeira na Câmara Federal e o partido, somado a
alguns empresários ligados por laços de amizade com o candidato, resolveu
financiar sua campanha.
A essa altura o partido possivelmente
deverá ter concluídas as negociações para alianças e/ou coligações. Estarão
essas plenamente consoantes com as convicções políticas e ideológicas do
candidato? Não importa, sejam quais forem ele deverá aceitá-las pacificamente.
Deverá dividir palanques, conviver no
horário eleitoral gratuito e, pior, defender pontos de vistas muitos dos quais
não compartilha. Deverá suportar críticas, muitas delas injustas, ao partido e
seus aliados.
Finda a maratona da campanha eleitoral,
finalmente, o “Senhor H” é eleito Deputado Federal pelo Partido “A”,
representando o Estado “B”.
É preciso esclarecer que após as eleições
de 2012, ficou decidido que
legalmente o mandato do eleito pertence ao
partido pelo qual foi eleito, independentemente de aliança ou coligação. Isto
determina que o eleito deva fidelidade partidária ao partido que inscreveu sua
candidatura.
Fidelidade partidária pressupõe, entre
outras coisas, que o eleito deverá votar as matérias em plenário segundo a
orientação do partido, a menos que seja liberado dessa obrigatoriedade em
algumas votações. Assim será, goste ou não.
Dependendo da quantidade de eleitos que
componham sua bancada e as
alianças que vier a compor com outros
partidos, poderá tornar-se maioria ou minoria no plenário. Desse resultado
ocorrerá, ou não, apoio ao respectivo executivo eleito na mesma eleição.
Imagine se o “Senhor H” tiver que apoiar e contribuir para a aprovação de
projetos ou medidas provisórias emanadas de um governo do qual discorda e
abomina. Quê fazer? Não há nada a fazer senão obedecer às decisões do partido.
Bem, definidas as posições surgem os
acordos para a eleição da mesa diretora da Câmara Federal. Há garantias
regimentais para a maioria constituída. Qual será a opinião do “Senhor H”? Não
importa, pois seu voto é definido por seu partido e não por ele.
A partir daí começa o loteamento de cargos
em empresas estatais,
paraestatais, ministérios, agências
reguladoras e autarquias. Está aberto o balcão de negócios para que sejam
recuperados os investimentos feitos nas candidaturas dos diferentes partidos,
seja por meio de desvios de recursos públicos, superfaturamentos, aditamentos
em contratos, nomeação de correligionários, licitações duvidosas, ...
Caminhando lado a lado vai o mercado das
negociatas e vantagens indevidas, resultando na perversa combinação sintetizada
com o nome genérico de corrupção.
Nos três níveis de poder os agentes
políticos empenham-se em cumprir os compromissos assumidos antes das campanhas
eleitorais, ou seja, repor os gastos aos financiadores de uma forma ou de
outra. As promessas feitas ao eleitorado irão para as calendas. O propósito
maior, ou seja, alcançar o poder foi atingido. Imperioso passa a ser a
manutenção do poder conquistado e para isso há que se preservarem os
financiadores.
Em meio a essa cena o que o “Senhor H”
poderá fazer? De que forma agir para alterar essa ordem geral das coisas? A
quem apelar? Como explicar-se aos seus eleitores que nele depositaram confiança
e esperança? Como defender seu currículo de cidadão, de chefe de família, de
empresário?
Seu destino está traçado e não tardará a
ser acusado de algum malfeito ou apoio a algo ilícito. A quem atribuir a
verdadeira culpa?
A cada dois anos há eleições, assim, a cada
dois anos apenas um não é ano eleitoral. Os anos eleitorais se caracterizam
pelo acirramento de denúncias e acusações de parte a parte em todos os níveis
do poder, diminuindo ainda mais a já combalida atividade parlamentar
comprometida em atender interesses pessoais e de grupos.
Frente ao exposto pergunto: quem se
interessaria em modificar o status quo por puro espírito cívico? Certamente
nenhum dos apaniguados pelo atual sistema.
Tal conclusão nos remete a outra, ou seja,
para que se lograsse êxito em reformas haveria a necessidade de força
coercitiva. A vontade do povo e de alguns poucos políticos, que se constituam
em exceção às regras vigentes, não serão suficientes.
A diferença no momento atual brasileiro é
que o sequestro das instituições e dos aparelhos de Estado, promovido pelo
partido do governo e seus aliados, é de tal envergadura que torna especialmente
dificultada uma reviravolta pacífica.
A intenção clara de perpetrar um Estado
Socialista – eufemismo por trás do qual se esconde a palavra Comunismo – já
aparelhou todos os poderes da República, contaminando ideologicamente e
reduzindo a competência instalada em todo o setor público.
Agrava-se o quadro à medida que a oposição
demonstra uma ingenuidade alarmante diante da gravidade dos fatos. A sucessão
dos trâmites inerentes à instalação da CPI que pretende investigar a Petrobras
atesta a ingenuidade a que me refiro.
Ficou demonstrado mais acima que a prática
política está atada de pés e mãos ao financiamento eleitoral, o que obriga os
políticos a agirem de maneira pouco recomendável para não dizer viciosa. Essa
realidade independe do fato de ser situação ou oposição, mesmo porque, os
papéis se invertem de tempos em tempos.
Conclusão. A que resultado prático
chegaremos? Nenhum. Eis o porquê da desilusão.
Enquanto a Polícia Federal prossegue nas
investigações da operação “Lava Jato” apurando a lavagem de mais de 10 bi de
reais, em que está envolvido um ex-diretor da Petrobras, a oposição está
preocupada em investigar a compra – ou seria associação? – da Refinaria de
Pasadena.
Enquanto persistirem partidos políticos,
que de políticos não têm nada, em quantidade pantagruélica para negociar espaço
gratuito em rádio e TV, e desfrutar proporcionalmente do Fundo Partidário
alimentado com recursos públicos, nada mudará no Brasil.
Enquanto não houver uma nova ordem política
estabelecida não haverá homem ou mulher,
por mais confiável e pundonoroso(a), apto(a) a cumprir desígnios que ponham fim
aos endêmicos problemas nacionais ou, pelo menos, para amenizá-los.
Ingenuidade pensar que o financiamento
público de campanha resolveria o problema em parte. Quem assim pensa esquece
que isso já acontece, pois, os horários gratuitos em rádio e TV, em verdade,
são pagos às emissoras através de renúncia fiscal, portanto, recursos públicos.
O Fundo Partidário também é fundeado em dotações de recursos públicos.
Coibir a participação de agentes doadores
de qualquer espécie afetará o
princípio democrático da livre participação
de eleitores e simpatizantes nas campanhas eleitorais.
Estamos todos diante de um problema de
complexa solução. O que não
podemos mais é continuarmos a nos iludir
com a classe política, cujos integrantes pretendem enriquecer às custas do
poder ou por dever de fidelidade contribuir decisivamente para que seus pares
consigam.
Será preciso “rasgar” tudo o que até aqui
foi escrito e recomeçar a reescrever com independência, imparcialidade,
dignidade e espírito público. Preservar a austeridade e a simplicidade
espartana como dever de ofício nas coisas públicas. Para tal há que contar com
reservas morais que ainda subsistam na sociedade, prontas e dispostas a
colaborar na reconstrução ética e moral do Brasil.
Oswaldo Alves de Siqueira Júnior é
Publicitário.
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