Nas eleições de 2010, quando tínhamos Dilma, Serra e Marina Silva
disputando a eleição presidencial, o Datafolha fez, em final de maio
daquele ano, uma pesquisa praticamente igual a que acaba de publicar
agora e que espanta a todos por apresentar 17% de votos nulos-brancos-nenhum e 13% de indecisos. Naquela pesquisa de 2010, o número de nulos-branco-nenhum era de apenas 5% e o não sabe somava 9%. A metade do que temos hoje.
Não há dúvida que há um desencanto com a política, mas alguns números da pesquisa de agora surpreendem. Um destes dados é que o voto nulo-branco-nenhum prepondera no eleitor de nível superior (23%), que ganha mais de 10 salários mínimos (22%) e que mora em cidades de mais de 500 mil habitantes (24%). Bem acima da média de 17%, que é puxada para baixo pelo eleitor de nível fundamental (13%), que ganha até dois salários mínimos (15%), que mora em cidades de menos de 50 mil habitantes (11%) e que não faz parte da PEA, População Economicamente Ativa (14%).
No entanto, o dado que mais chama atenção é que 32% dos eleitores que acham o governo Dilma ruim-péssimo respondem que vão votar nulo-branco-nenhum.
Se somarmos mais 12% dos que respondem não sabe, temos 44% que acham
este governo uma porcaria, mas que não querem votar em ninguém! Atenção:
a pesquisa indica que, no geral, 17% não querem validar o seu voto.
Pode-se dizer que, majoritariamente, o eleitor mais decepcionado está
entre aqueles que tem a pior das opiniões sobre o governo petista.
Outro dado é surpreendente: 22% dos eleitores da Região Sudeste respondem nulo-branco-nenhum,
contra 11% no Nordeste e 12% no Norte. As regiões tidas como mais
pobres e menos politizadas são as que estão menos predispostas a
invalidar o voto.
E quem é o eleitor indeciso, o não sabe, que soma 13% na pesquisa?
É exatamente o contrário dos nulo-branco-nenhum. Quem está mais
indeciso é o eleitor mais pobre e com menor grau de instrução. Quem está
menos indeciso é o eleitor mais rico e com maior grau de instrução.
Mesmo entre o eleitorado cativo do PT já existe uma ponta de dúvida
quanto à renovação do seu voto. Destaca-se, também, que 16% das mulheres
estão indecisas, contra 9% dos homens.
Podemos arriscar algumas conclusões sobre estes dados.
A primeira é que em 2010 tínhamos candidatos muito mais conhecidos do
que agora. Dilma alcançava 90% e hoje é conhecida por 99% do eleitorado.
Serra era conhecido por 98% dos brasileiros enquanto Aécio, hoje, é
conhecido por 78% do eleitorado. Marina Silva era conhecida por 73% dos
eleitores, enquanto Eduardo Campos tem um grau de conhecimento que
alcança apenas 59% dos votantes. O eleitor acha o governo ruim, mas
ainda não conhece as alternativas oferecidas. E ninguém elege quem não
conhece.
A segunda é que naquela oportunidade o governo Lula era aprovado por
grande maioria da população e, agora, apenas 33% acham ótimo-bom, 28%
ruim-péssimo e 38% regular. Havia um desejo de continuidade em mais da
metade da população, enquanto agora 74% querem mudança. Lembrem que 44%
dos que acham o governo Dilma ruim e péssimo pretendem invalidar seu
voto. Este dado é a soma de uma decepção com o voto dado na petista com o
desconhecimento de alternativa, com certeza.
Por fim, é flagrante o peso da propaganda oficial junto aos pobres, via
programas de transferência de renda. É este eleitor da Bolsa Família,
dos grotões do país, que está segurando a liderança de Dilma Rousseff
nas pesquisas, reforçada pela desesperança de um eleitor com maior poder
aquisitivo, que sempre foi cativo da Oposição. O desafio agora é duplo:
acertar o discurso para os mais pobres e também para os mais ricos, que
se não são a maioria, são formadores de opinião.
O certo é que 74% dos eleitores querem mudança, mas ainda não conhecem
as suas opções. É preciso ter um um discurso muito claro e muito
corajoso para quebrar as algemas colocadas nos brasileiros mais pobres. A
propaganda eleitoral na TV será decisiva para provar que o Brasil pode
ter um novo futuro. Um futuro que o PT literalmente está roubando do
país.
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