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Ela não se relacionou sem proteção, não usou agulhas contaminadas, não fez transfusão com sangue contagiado e não foi cortada por instrumentos infectados.
Alessandra Diniz (nome fictício) já nasceu com o vírus HIV no sangue e, aos 16 anos, convive com a doença que vitimou os cantores Renato Russo e Cazuza. Hoje, o tratamento permite ao soropositivo uma vida normal, mas 37% dos novos casos no DF são de jovens entre 15 e 29 anos. Em 11 anos, o número no DF subiu 188%. Na próxima segunda-feira é lembrado o Dia Mundial de Combate à Aids.
“Para mim, não há diferença alguma. Cresci acostumada com a doença, tomando remédios, convivendo com pessoas soropositivas”, revela Alessandra. Ela trata com naturalidade a presença do vírus e explica que apenas os amigos mais íntimos sabem de sua situação. “Não tem pra quê ficar espalhando”, justifica.
Origem
Da família, apenas a irmã mais nova, de 15 anos, não tem Aids. A suspeita é de que seu pai tenha contraído o vírus de um relacionamento extraconjugal.
“Minha mãe descobriu a doença depois que eu já tinha nascido. Todos fizemos o teste e, com o resultado positivo, começamos o tratamento”, conta. Hoje, ela toma sete comprimidos diários.
Alessandra diz não sofrer preconceito. “Só quando era pequena, na escola, mas por causa do lugar que eu moro, nunca por eu ter a doença”, pondera.
A garota vive na comunidade de soropositivos Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale), onde também encontrou seu namorado.
“A pior parte é a privação de relacionamentos”, admite. O namorado não possui a doença, mas tem histórico com familiares. “Nós já éramos amigos. É bom porque ele me entende”.
Quase cem bebês nascidos com HIV
A soropositiva Alessandra vive uma vida normal, com dignidade,
respeito, amigos e familiares. Sem exclusão ou discriminação, sente até
certa dificuldade em dizer se vê diferença no tratamento de fora dos
portões da comunidade onde vive, a Fale. Mas, há dez anos, seu próprio
irmão foi vítima das consequências da doença.
Aos dois anos e sete meses de idade, a criança teve complicações no
hospital. Fraco com o diagnóstico tardio de micose na região oral, foi
internado e, ali, com a imunidade fragilizada, adquiriu outras infecções
e não resistiu.
Assim como Alessandra, neste ano 96 crianças nasceram com a doença,
transmitida pela mãe durante a gestação, mas o número preocupante
envolve os novos casos. No Distrito Federal, além de os jovens entre 15 e
29 anos representam 37% dos diagnósticos de Aids, neste ano, 197
pessoas soropositivas foram identificadas. Entre 2008 e 2013, 508
diagnósticos foram registrados por ano, revela a Secretaria de Saúde.
Aumento de 188% em 11 anos
O Boletim Epidemiológico - Aids e DST do ano passado, elaborado
anualmente pelo Ministério da Saúde, aponta que, de 2001 a 2012, os
casos no DF aumentaram 188% entre aqueles de 15 a 24 anos, passando de
26 para 75.
Para Mário Ângelo Silva, coordenador do Polo de Prevenção DST/
Aids do Hospital Universitário de Brasília, um grave problema que torna
os jovens mais vulneráveis é o uso abusivo de álcool e outras drogas.
“Mesmo tendo conhecimentos sobre a importância de usar determinados
preservativos, a pessoa baixa a guarda e acha que não vai acontecer com
ela, não tomando devidos cuidados”, afirma.
“A questão da Aids está mais banalizada. Como tem tratamento, as
pessoas acham que é algo mais simples, mas isso não é fácil. É um
tratamento quase quimioterápico. Tem efeitos colaterais bastante
severos”, alerta o especialista. Ele entende que a banalização está
associada à eficácia do controle. “É preciso compreender que é um
tratamento para a vida toda”.
Isso ocorre porque os medicamentos antirretrovirais não matam o
vírus, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico,
pois impedem a multiplicação do vírus no organismo. O coquetel antiaids
tem 21 medicamentos, divididos em cinco tipos e é distribuído
gratuitamente àqueles que necessitam de tratamento.
PROGRAMAÇÃO
Dia Mundial de Luta Contra a Aids
Painel: Sexualidade Juventude e AIDS: Vamos Conversar?
O que é: Um encontro entre jovens do Ensino Médio,
universitários, pesquisadores, profissionais de saúde e da sociedade
civil para discutir sexualidade e prevenção da DST, com a participação
de Jairo Bouer, médico e comunicador na área de saúde.
Quando: Segunda-feira, 1º de dezembro, às 10h
Onde: Auditório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Avenida L3 Norte, S/N - UnB
Painel: Avanços e desafios de viver com HIV/Aids
O que é: Mesa Redonda com a participação da Gerência de
DST/HIV/Aids da Secretaria de Saúde e do movimento social de HIV/Aids
(Cidadãs Positivas, RNP, Grupo Arco-Íris e Vida Positiva).
Quando: Segunda-feira, 1º de dezembro, às 8h30
Onde: Unidade Mista de Saúde-UMS, na 508 Sul
Exame grátis e rápido
No mezanino da Rodoviária do Plano Piloto, há um posto onde é
possível fazer exames de testagem de HIV, sífilis e hepatites virais sem
a necessidade de pedido médico. O Centro de Testagem e Aconselhamento
(CTA) faz, em média, 900 atendimentos ao mês, segundo a Secretaria de
Saúde.
O teste é feito com a retirada de uma gotícula de sangue do
dedo. Em aproximadamente 30 minutos é possível ter um indicativo. “O
serviço é aberto a quem quiser realizar os testes. Porém, há uma grande
movimentação de usuários de drogas e profissionais do sexo, por estarem
mais expostos aos riscos de contaminações”, informa a pasta.
O auxiliar administrativo Weberton Félix, 9 anos, resolveu fazer
os exames após “dar uma escapada”, como ele mesmo diz. “Eu já havia
feito antes, para ver como era. Agora me desprotegi. Achei importante
fazer novamente”, revela. Para ele, o mais importante é saber o que está
acontecendo. “Se tiver algo errado, é bom que dá para começar o
tratamento logo”.
A servente Michele Pereira, 23 anos, conta que a facilidade em
fazer o exame a fez buscar pelo teste. “É grátis, fica pronto logo e
você já fica sabendo como está a saúde. É importante se preocupar com
isso sem medo”, entende.
A importância do teste
Depois de ser espetado por um broche, há cerca de quatro meses, o
técnico em telecomunicações Lucélio Fogaça, 34 anos, foi encaminhado a
fazer os exames de HIV quando tentou doar sangue. “É rápido e simples.
Até mesmo quem não está no grupo de risco, não teve relações
desprotegidas ou usou agulhas deveria fazer o teste pelo menos uma vez
por ano”, analisa.
Para ele, o problema não é falta de campanhas de conscientização,
mas a vaidade e o medo do resultado. Já a servente Michele Pereira, que
também fez o exame, acredita em um desleixo. “Os jovens, principalmente,
estão mais desligados, mas falta um pouco de orientação. O próprio
Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) deveria ser melhor divulgado”,
acredita.
Tratamento
No CTA, os profissionais conversam com os pacientes na tentativa de
garantir estratégias de prevenção e diagnóstico. Os casos positivos são
encaminhados para os serviços de referências da rede pública de saúde
do DF para tratamento.
De acordo com a Secretaria de Saúde, são nove centros de referência
para o tratamento de HIV/Aids: centros de Saúde 11 da 905 Norte; 1
de Ceilândia; 5 do Gama; 1 de Planaltina; 1 de Sobradinho e 2 do
Guará, Unidade Mista de Taguatinga, Hospital Universitário de Brasília
(HUB) e Unidade Mista (Hospital Dia) da 508/509 Sul.
SERVIÇO
Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)
Local: Mezanino da Rodoviária do Plano Piloto
Horário de atendimento: 7h às 11h, 13h às 17h e 18h às 22h (exceto sextas).
Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale)
Endereço: Quadra 108, Chácara 11, Núcleo Rural Vargem da Benção, no Recanto das Emas
Telefone: (61) 3331-3556
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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