Uma
mesa, dezenas de cadeiras e tres microfones que tinham sido arrumados
pelos assessores da Presidência da Republica no Salão Leste do segundo
andar do Palácio do Planalto esperavam o fechamento dos mercados,
sexta-feira passada, para receber a solenidade em que a presidente Dilma
Rousseff anunciaria a confirmação dos nomes dos novos ministros,
Joaquim Levy, da Fazenda, Nelson Barbosa, do Planejamento, e Alexandre
Tombini na presidência do Banco Central.
O ato representaria o enterro definitivo daquilo que a “presidenta” costumava apresentar orgulhosamente ao mundo como a “nova matriz macroeconômica”
a balizar a economia brasileira, apoiada na expansão fiscal, na redução
dos juros e no câmbio artificialmente desvalorizado que reelegeu dona
Dilma mas matou a indústria nacional e pôs o país inteiro na beira de um
abismo.
Depois
de quedas sem fim, a Bolsa de Valores festejou cedo demais o que seria a
nova equipe redentora com a maior alta desde agosto de 2011. Sem
nenhuma explicação o tempo foi passando, no entanto, e a tal cerimônia
nunca aconteceu.
Desde então, o país vive de especulações e boatos:
“Dilma não teria gostado do vazamento das nomeações para a imprensa”. “Dilma só quer anunciar os ministros depois que eles já tiverem esboçado um programa fiscal de curto prazo”. “Dilma não quer fazer o anuncio antes de ter garantidas pelo Congresso as mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias”. “É
o núcleo duro do PT que está rebelado com a idéia de, pela primeira vez
em 12 anos, ver alguém de fora do partido assumir o comando da economia”...
A
única hipótese que não foi aventada pela imprensa especializada é de
que tenha sido do lado dos supostos nomeados que veio esse adiamento. E,
no entanto, isso não seria de surpreender.
O chefe do atual suposto ministro, Luis Trabuco, convidado e “
nomeado” ministro da Fazenda por Lula em pessoa no dia seguinte à eleição, declinou da honraria.
Joaquim
Levy tem fama – testada e confirmada no âmbito da União, chefiando o
Tesouro no governo Lula e, mais tarde, arrumando as finanças do Estado
do Rio – de ter menos jogo de cintura que Trabuco para com estrepolias
de políticos falastrões. É um técnico rigoroso que não tergiversa com
buracos nas contas sob seu controle. De repente, qual boi na porta do
açougue, ve-se escalado para salvador da pátria num governo que, entra
dia, sai dia, repete os sinais de que não tem tanta urgência assim em
ver a pátria salva e, ainda por cima, num governo chefiado por aquela
mesma Dilma Rousseff que, desde os tempos dele auxiliar de Palocci, já
não ia muito com a cara dele nem ele com a dela.
A situação com que ele terá de lidar, entretanto, é catastrófica.
O déficit em transações externas anunciado hoje é o pior desde 1947: US$ 8,1 bilhões só em outubro.
Aqui
dentro não está melhor. Dona Dilma está obrigada por lei a entregar um
superavit primário este ano de R$ 116 bilhões mas no relatório do 5º
bimestre do ano enviado ao Congresso pediu que fosse descontado desse
número nada menos que 90% do valor estipulado na lei: os R$ 105,9
bilhões que gastou nas obras do PAC e mais todas as desonerações
tributárias concedidas ao longo do ano. Com isso não haveria limite
nenhum para os gastos do governo que ficaria com um cheque em branco
para fazer o que bem entendesse.
O
Congresso sinalizou que talvez pense no assunto se o governo aceitar
colocar no seu projeto um limite para esse desconto no mesmo valor que
consta do relatório do 5º bimestre, o que implicaria que ela ainda
continuaria obrigada a entregar um superavit de R$ 10,1 bilhões. Mas
dona Dilma não garante que consiga entregar nem isso e não quer ficar
exposta ao processo por crime de responsabilidade a que já está exposta
se os limites não forem mudados.
De fato, também os números que constam desse relatório bimestral são todos “tipo Mantega”.
O governo reduziu a previsão de recita da Previdência em R$ 500
milhões, levando o total para R$ 346,3 bilhões no ano. Mas de janeiro a
setembro só conseguiu R$ 237,4 bi. Precisaria fazer R$ 108,9 bi nos três
meses que faltam, o que daria uma média mensal de R$ 36,3 bi. Nos sete
primeiros meses do ano, entretanto, a média de arrecadação foi de R$
26,4 bi. Como sempre, do lado das despesas a equipe Mantega fez o
contrário. Aumentou a previsão em míseros R$ 8,1 bi, depois de demitir o
secretário da Previdência, Leonardo Rolim, que exigia menos maquiagem,
mas o rombo esperado só nessa conta é, conforme previa o ex-secretário,
de em torno de R$ 50 bi.
Quanto às receitas (infladas) e despesas (esvaziadas) “esperadas”
pela União, dá-se o mesmo no tal relatório, bem como no que se refere
ao crescimento da economia (inflado) e à inflação (esvaziada). A soma
dos aumentos e reduções sem pé na realidade sobe a outros R$ 70 bilhões.
Não obstante, com o “petrolão” bombando e a desclassificação do “rating” de “investimento”
nacional logo além da curva, o discurso de madame continua vago, quando
não triunfalista. Até agora a única medida concreta voltada para o
controle da inflação foi a que Alexandre Tombini comandou na primeira
reunião do Copom, tres dias após o resultado da eleição, aumentando os
juros que Dilma prometera baixar, medida que foi recebida no arraial
presidencial quase como um ato de insubordinação.
No
campo das medidas para o acerto do que sai com o que entra no cofre do
governo, até agora nada. Por mais que garimpem os repórteres de economia
de todo o Brasil, tudo que encontram para listar é um vago ajuste na
política de pagamento de abonos salariais pelo Estado, algum grau de
dificuldade adicional no pagamento do seguro desemprego e um ajuste fino
no regime de pagamentos de contribuições para o recebimento de pensões
por morte que depende de aprovação de lei pelo Congresso. Trata-se da
correção de distorções que estão mapeadas e vêm sendo adiadas ha anos
pelo governo que, se tudo der certo, “
podem resultar numa economia de 0,7% do PIB nos próximos quatro anos”...
Sonhe a “presidenta”, em segredo, com mais que isso ou não é mesmo dificílimo conseguí-lo porque no Estado brasileiro a regra é que “quem corocô, corocô”, ninguém tira mais, e o fato é que literalmente o PT inteiro e mais todos os associados do Superclube da Governabilidade “corocaram”, e “corocaram” fundo “ni nóis”
como diz o outro. Não tem jeito de fechar esse rombo senão com a
receita de sempre. De volta ao passado: adeus investimentos, adeus
consumo, que venha a inflação, que venha o desemprego, que venham os
impostos.
De
tudo isso decorre, seja como for, que se Joaquim Levy for confirmado no
cargo que foi instado a ocupar como regra tres só com essas migalhas na
lista de redução de despesas, ele estará negando a sua biografia. Já se
tomar posse com uma lista de remédios condizente com o tamanho que já
ficou a doença será Dilma Vana Rousseff, aquela moça de “coração valente”
acostumada a defender seus pontos de vista de metralhadora em punho,
quem estará negando a sua. Os dois, enfim, combinam tanto quanto água e
azeite.
Nos
bastidores onde já está sendo jogado esse jogo, entretanto, os sinais,
por enquanto, são de que há um PT pé no chão, que é esse que empurra o
Bradesco pra dentro do governo, e outro que viaja na maionese e quer ir
pras cabeças até a coisa estourar e o Brasil cair de vez “pro lado de lá”.
Entre esses dois Dilma balança...
Haja centralismo democrático – ou Ministério Público – pra por ordem nessa bagunça!
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