É lamentável constatar que Itamar realmente tinha razão
"E não foi a única vez que procedeu de forma injusta o então governador Aécio Neves"
Foi com muita decepção que ouvi, no programa eleitoral do PSDB,
declaração do senador Aécio Neves, visando se promover de forma
sensacionalista, para fins eleitorais, dizendo que recebeu o governo de
Minas Gerais sem dinheiro até mesmo para pagar funcionários, como se
estivesse em estado de falência. Ele disse ainda que, graças a receitas
milagrosas, conseguiu reerguer o estado. ...
Estou decepcionado. Faltou dizer, a não ser que por economia de
palavras, que recebeu o estado com dificuldades assim como ocorreu com
todos os governadores. Se pretendeu dizer que com ele foi pior, para se
valorizar, acabou cometendo um ato que o desmerece: o da falta de
gratidão.
Naquela época, o PSDB não tinha a mínima condição, pelo menos em curto
prazo, de eleger o governador, se levados em conta os resultados
eleitorais anteriores. Além do mais, o PSDB era adversário político do
Governo do Estado e durante a gestão de Itamar Franco causou todas as
formas possíveis de obstrução,
No entanto, Itamar Franco, em duvidosa argúcia, decidiu romper com os
seus aliados e com o seu partido, criando para si uma série de
inimizades. Ao invés de deixar o governo, assumindo uma candidatura
vitoriosa ao Senado, permaneceu no cargo, sem se candidatar à reeleição,
oferecendo um apoio total e irrestrito ao então deputado federal Aécio
Neves, oposicionista.
Este ato propiciou a vitória de Aécio naquelas eleições. Itamar não
exigiu qualquer tipo de participação no governo, sequer indicando um
nome para vice- governador, ou mesmo secretários de estado. Itamar
procedeu do mesmo modo quando elegeu o presidente Fernando Henrique,
também do PSDB, legenda também oposicionista e, de igual forma, sem
perspectivas eleitorais naquele momento,
No entanto, com poucos meses de governo, o estão secretário de
Planejamento de Minas, Antônio Anastasia, com a aprovação do governador,
concedeu inesperada entrevista a uma revista nacional, sem nenhuma
cerimônia, com argumentação falaciosa, procurando desqualificar a gestão
anterior.
Itamar se surpreendeu com o procedimento por parte daquele que elegeu,
uma vez que transmitiu o governo a Aécio, sem duvida, com uma situação
financeira não eufórica, mas sem dívidas e com o pagamento de servidores
em dia, e com uma situação melhor do que quando recebeu o governo,
assim como Azeredo entregou em situação melhor do que quando recebeu de
Hélio Garcia, e assim por diante. Falta humildade ao senador ao não
querer se igualar aos seus antecessores.
Disposto a romper politicamente com seus detratores, Itamar não o fez
em face de pedidos de desculpas formulados ao pé do ouvido. Na verdade,
Itamar não desejava, em curto prazo, se apresentar como tendo errado em
sua escolha, mas essa amargura esteve sempre presente, até sua morte.
NÃO DÁ PARA OUVIR EM SILÊNCIO ESSAS IGNOMÍNIAS
E não foi a única vez que procedeu de forma injusta o então governador
Aécio Neves. De outras tantas vezes, ao festejar algum feito
administrativo ou em campanhas eleitorais, entendia, como entende agora,
ser essencial desqualificar o governo de Itamar para seu proveito,
mesmo sem considerar que o mesmo já faleceu e não tem como se defender, a
não ser através de seus antigos auxiliares e amigos, que não
permitirão, como não permito, ouvir em silêncio essas ignomínias.
Embora não seja meu desejo agir da mesma forma, desqualificando o seu
decantado Choque de Gestão, é preciso que se diga que, ao passar o
governo a Anastasia, para se candidatar ao Senado, Aécio deixou as
finanças do estado, aí sim, quase sem condições de assegurar os salários
dos servidores.
Não é nenhum segredo, sendo passível de apuração em uma auditoria
séria, que os seus grandes feitos foram à custa de cortes de salários, e
de recursos novos, como a transferência das contas do estado para o
Banco do Brasil, até então sob a administração do Banco Itaú, e de
empréstimos externos, que acumulam dividas significativas.
Portanto, conclamo o senador a por a mão na consciência, de modo a não
repetir esse gesto de ingratidão, que em nada contribui para o seu
discurso e seu histórico de vida, e não tem nenhuma influência positiva
no seu projeto eleitoral.
Guarde suas energias para enfrentar as dificuldades e obstáculos que
virão durante sua campanha. Procure mostrar os seus méritos reais, com
uma agenda positiva, pois já é passado o tempo em que os brasileiros se
estimulam ao voto em função de chavões e oratória ufanista.
Aliás, uma característica ninguém tirava de Itamar: o seu raciocínio
político e perceptivo. Por isso, ele sempre me dizia que não me
surpreendesse com o comportamento dos seus aliados e não esperasse nada
deles após a sua morte, pois o conceito de amizade é bastante efêmero e a
moeda da gratidão não foi cunhada para muitos.
É lamentável constatar que Itamar realmente tinha razão.
Fonte: HENRIQUE HARGREAVES blog do Renato Riella - 17/04/2014 -
BLOG do SOMBRA
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