terça-feira, 27 de maio de 2014

Daniel Greenfield: É difícil ver seu próprio racismo quando se é um coletivista



O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.

Há alguns anos, a capa da versão impressa da revista Newsweek questionou: “Seu Bebê é Racista?” A foto do bebê olhando exposta nas gôndolas dos supermercados, exposta nos aeroportos para ser vista pelos passageiros à espera do seu voo e para ser vista pelos pacientes em consultórios de odontologia têm olhos azuis.

A estigmatização de racistas como sendo brancos veio a se tornar um estereótipo racial. E não é uma estereotipação acidental.

Nos subterrâneos do apoio da esquerda às políticas de ações afirmativas existe a crença que o racismo dos brancos é o único tipo de racismo que existe. O racismo dos negros, eles insistem, é na verdade chamado de “racismo reverso” e é um mito construído por pessoas brancas.

Não se trata da esquerda acreditar que as políticas afirmativas não sejam racistas. É que ela acredita que não existe uma coisa como isso de racismo contra pessoas brancas. É como o Knockout Game (1) ou como estudantes brancos que se qualificaram por mérito mas não puderam entrar na universidade por causa das quotas de diversidade racial; trata-se de uma categoria inválida. Um mito.

E se é um mito, então não há nada de errado com um pouquinho de violência racial ou algumas preferências raciais.

O nosso sistema não é imune a surtos de loucura pontuais. Uma porção considerável de Hollywood acredita que suas almas originaram-se em outro planeta e que eventualmente elas irão ganhar superpoderes. Muitos em Washington D.C. Acreditam que é possível imprimir dinheiro infinitamente e com benefícios econômicos infinitos. E, por sua vez, os acadêmicos e organizações sem fins lucrativos acreditam que o racismo contra pessoas brancas não existe.

A esquerda é delirante, mas não é completamente insana. Ela não nega que possa ocorrer crimes de ódio por parte de negros. Tampouco ela irá negar atos ocasionais de discriminação institucional. No entanto, ela reconhece o racismo apenas como sendo um fenômeno coletivo.

O debate a respeito das políticas de ações afirmativas diz respeito ao coletivo e ao indivíduo.

“Não é possível acolher a ideia que todos os indivíduos de uma mesma raça pensam de modo igual como sendo uma proposição séria”, escreveu o Juiz da Suprema Corte de Justiça Anthony Kennedy na decisão Schuette vs. BAMN, decisão que permite banir a discriminação das políticas de afirmação racial em Michigan.

Todavia é exatamente nisso que a esquerda acredita.

O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.

Todos os brancos são racistas. Todos os negros são vítimas do racismo. Qualquer acontecimento que diga o contrário é uma exceção à regra. O racismo só pode existir numa mão única que vai de uma maioria para uma minoria.

Qualquer outra coisa é um “racismo inverso” fantasioso.

Conservadores enxergam as pessoas enquanto indivíduos. Esquerdistas enxergam as pessoas como parte de um sistema. Para um conservador, o racismo é algo que ocorre entre indivíduos (2). Para um esquerdista, trata-se de um atributo de um sistema. A tentativa de convencer um esquerdista que o racismo negro existe ou que as políticas afirmativas são racistas é como tentar convencê-los de que algumas das células em seus corpos estão tramando algo contra o corpo.

Eles não enxergam indivíduos, eles enxergam um sistema.

O debate sobre políticas afirmativas é, na verdade, um debate sobre se nós visualizamos as pessoas como indivíduos ou como células, um debate sobre se estudantes brancos e negros que desejam ser tratados como indivíduos irão prevalecer ou se a esquerda totalitária continuará ganhando espaço e poder com a sua insistência em encará-los como bolinhas de diferentes cores num sistema simplório.

Da mesma forma na política, conservadores aproximam-se de pessoas que concordam com sua visão política, a despeito da raça, construindo assim grupos menos diversos, mas grupos que são intelectualmente mais robustos, ao passo que esquerdistas formam coalizões raciais. Esquerdistas acusam os conservadores de racismo, pois estes são vistos, não como uma coalizão de indivíduos, mas como um coletivo racial, tal como eles mesmos [os esquerdistas] são.

Os ajustes raciais (3) na América ainda não começaram a ocorrer em um nível coletivo. Nós [indivíduos] não somos reajustados como um sistema. Nós mudamos individualmente.

É isto que a esquerda, com a sua obsessão por sistemas, não é capaz de ver e não é capaz de lidar. A Grande Sociedade falhou miseravelmente porque nós, todos juntos, já éramos uma grande sociedade (4). Nós não formamos uma bela sociedade por sermos perfeitos, mas porque nós estivemos nos esforçando constantemente para melhorar enquanto indivíduos.

E é essa característica que as políticas afirmativas e o coletivismo esquerdista fazem solapar.

Sistemas não rejeitam o racismo. Indivíduos, sim.

É essa verdade fundamental que a obsessão da revista Newsweek com o racismo de bebês recém-nascidos e com o privilégio dos brancos pretende combater. A mensagem coletiva deles é que os indivíduos são produtos de um sistema, fantoches da sua biologia, condenados para todo o sempre por algo como um pecado original racista que impregna cada parte do seu ser e dos seus estados mentais de tal forma que é possível jamais escapar dessas influências.

A não ser que o sistema mude.

Esta fora a resposta dos esquerdistas totalitaristas para a questão das classes. O fracasso dos seus sistemas de gerenciamento da economia e o sucesso do capitalismo destruiu a credibilidade das suas opiniões sobre classes. As noções de que a classe trabalhadora, sob empreendimentos privados, jamais conseguiria escapar da pobreza foi sepultada tão profundamente quanto às estátuas de Marx e Lênin.

Porém, ao invés de reelaborar o seu paradigma, a esquerda substituiu classes por raças. A classe trabalhadora pôde ser bem sucedida sob empreendimentos privados, mas apenas enquanto ela for branca.

Isso ainda permanece errado.

As raças, tal como as classes, não é uma problemática ligada ao sistema, mas aos indivíduos. Não há uma única solução coletiva, apenas as soluções que os indivíduos encontraram para si próprios. Nós não somos uma nação segregada entre pretos e brancos, ou entre os brancos desbotados e o 'povo preto'.

Somos indivíduos. E somos assim desde sempre.

As políticas de ações afirmativas negam que a raça é uma experiência individual. Elas negam que raça não é a soma de indivíduos. Elas negam o sofrimento daqueles que se enredaram nos meandros do sistema por serem membros da “raça errada”.

Elas negam o indivíduo. Elas negam a sua identidade, o seu valor e as suas ações. Elas põem o sistema acima do indivíduo e retiram os direitos de todas as pessoas, de todas as raças, gênero e de diferentes identidades.

A esquerda é obcecada com a 'brancura' do sistema. A sua obsessão não é apenas racista, mas ela substitui um sistema aberto no qual as pessoas podem mudar e estão mudando...por um sistema estanque no qual não é possível mudar. Este aspecto totalitário desse sistema veio sendo escondido sob a fraude do empoderamento e dos rituais de vitimização que recompensa aqueles que usam a raça como uma carta coringa à custa daqueles que tentam fazer o seu melhor.

O que irá determinar o resultado do debate sobre as políticas afirmativas e os debates mais amplos sobre raça e classes é se nós o abordaremos como indivíduos ou como partes de um sistema. Os Americanos [nos EUA] resistem em ser tratados como partes intercambiáveis de um sistema, porém as narrativas individuais que a esquerda tão efetivamente usa são um disfarce para fazer uma abordagem sistêmica e apresentar soluções sistêmicas.

A esquerda tem respondido ao racismo institucionalizado usando racismo institucionalizado até ao ponto de tornar-se uma instituição mais racista do que aquela contra a qual ela lutava. Instituições não combatem o racismo, elas criam o racismo. O argumento mais convincente contra as políticas raciais coletivistas da esquerda sempre foi o indivíduo.

Organizações e coletivos podem criar o ódio, mas apenas indivíduos podem substituí-los com o amor.


Notas:

(1) “Knockout game”, literalmente, “jogo do nocaute” - um “jogo” criminoso praticado por jovens negros nos Estados Unidos. O grupo faz uma aposta se um dos membros conseguirá nocautear com um único soco uma pessoa aleatoriamente escolhida na rua (mulheres e velhos também são escolhidos). Exemplo #1. Exemplo #2. Segundo relatos, a mídia cobre essa prática sem abordar o aspecto racial, acobertando o ódio de negros contra brancos. Uma assimetria, dado que violência de brancos contra negros via de regra é tratada como racismo (Exemplo: caso George Zimmerman que em legítima defesa assassinou Trayvon Martin).

(2) N. Do T.: o mesmo aplica-se ao ódio e preconceito contra gays (“homofobia”), à posturas que degradam a mulher, etc.

(3) O autor utiliza a expressão “racial healing” que de maneira mais direta poderia ser traduzida como “cura racial” ou “cicatrização racial”.


(4) “Great Society” contraposto a “great society” escrito com minúsculas. “Great Society” foi um programa de iniciativas políticas e sociais do Presidente Lyndon Johnson.
 

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