segunda-feira, 23 de junho de 2014

Carvalho esteve com os black blocs várias vezes antes da Copa e até foi alvo de um rolo de papel higiênico. E reagiu “numa boa”. Então tá!




É claro que ainda voltarei a este assunto. Acabo de ler na Folha aquela que me parece ser a informação mais importante do ano: o ministro Gilberto Carvalho — sim, ele mesmo! — esteve com os black blocs. Confessou isso a Naturza Nery. 


Sim, o ministro Gilberto Carvalho queria fazer um acordo com os black blocs. Sim, enquanto os brasileiros eram vítimas da ação desses criminosos, Carvalho estava batendo um papinho com eles. Leiam. Comento mais tarde. O ministro também comenta a reação ao decreto bolivariano, o 8.243. Escreverei um texto específico a respeito.


Fica claro que houve várias reuniões. O ministro que se escandaliza porque Dilma foi xingada num estádio levou um rolo de papel higiênico na cara e reagiu “numa boa”. Então tá. Pouco antes de a Seleção Brasileira entrar em campo para enfrentar Camarões, esta potência do futebol mundial, segue uma confissão do Carvalho. * Esperava que a discussão do decreto de conselhos populares fosse trazer tanta polêmica?


Nem de longe. Até porque ele não muda nada a realidade de hoje. Apenas organiza aquilo que está acontecendo. É justamente esse clima de ódio que levou a uma interpretação açodada de chavismo. E me assusta muito a desinformação, uma distorção brutal. 

A participação popular está prevista na Constituição e tem feito bem para o país. Políticas como o SUS, Lei Maria da Penha, Prouni, ficha limpa. Este decreto não fere em nada o Poder Legislativo. Acho que vai ser um tiro no pé derrubar o decreto, pois vai na contramão das manifestações de junho. Espero que o Congresso, ao invés de gastar energia para votar contra, assuma papel de vanguarda de abrir um debate com a sociedade.


O sr. esteve no “ninho” ‘black bloc’? No esforço de diagnóstico, conseguimos um pouco antes da Copa, um contato em São Paulo com um grupo de pessoas que são partidários da tática ‘black bloc’.

Partiu de vocês? Foi, nós buscamos. Nós procuramos abrir o debate nas 12 sedes da Copa para aqueles que eram contra a Copa. E em muitas cidades a reação deles foi muito explícita ao mundial. Numa das reuniões, um menino jogou um rolo de papel higiênico e disse: isso aqui é o ingresso de vocês para a Copa.

Como o sr. reagiu? Na boa. Fiz que o gesto não existiu. Foi importante conversar com eles porque me dei conta que é uma filosofia que eu chamaria anárquica que tem a convicção de uma violência praticada pelo Estado através das omissões nos serviços públicos e denuncia muito a violência policial na periferia, com aquela história de que, na periferia, as balas não são de borracha, são metálicas e letais. 

É que a única forma de reagir contra essa violência é também com a violência, que eles dizem que não é contra pessoas, mas contra símbolos e objetivos. Por isso escolhem bancos e concessionárias de carros importantes. É uma velha tática de criar um foco e tentar atrair a atenção imaginando que vai atrair a simpatia, o apoio e o engajamento das pessoas. Essa é a tese.

O que vocês disseram a eles? Que essa tática os isola. Que essa tática em grande parte contribuiu para a desmobilização das manifestações. Então acho que eles estão completamente equivocados, e cabe a nós procurar mostrar esse equívoco.

O clima foi tenso? Muito tenso, mas não violento, respeitoso até. Porque havia um acordo de conversa. Para eles, o PSOL e o PSTU são conservadores, são à direita, e nós somos traidores, aqueles que enganam as pessoas com reformas que não vão trazer nenhuma mudança.

Houve algum acordo? Nenhum. Não tinha como dar acordo. Mas foi importante como aprofundamento do diagnóstico e mostrar que é possível conversar. As reações sempre muito iradas, adjetivadas.

Por Reinaldo Azevedo

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