Josias de Souza
O
noticiário de política, hoje veiculado na editoria de polícia, deveria
ser transferido para a seção de economia. O derretimento gradual de
Dilma Rousseff imprimiu à sucessão presidencial uma lógica de Bolsa de
Valores, cuja principal característica é a absoluta falta de valores…
éticos.
No Brasil, como se sabe, os partidos são empreendimentos 100% financiados pelo déficit público. Por isso, a grossa maioria prefere investir no conglomerado governamental. As legendas adotam uma prática comum no mundo empresarial: a terceirização. Sob Lula, atingiu-se a perfeição.
Os partidos confiaram os afazeres da Presidência da República a uma lenda do operariado nacional, reservando-se o direito de cobrar resultado$. Com fachada de esquerda, o Planalto resultou em ótimos negócios. A aparência asséptica do ex-PT proporcionou excelente merchandising. Repetiu-se a fórmula com Dilma. O PT já não era o mesmo. Mas os negócios iam bem.
No primeiro ano de sua gestão, Dilma tornou-se uma ameça ao lucro. Recém-eleita, ela foi assaltada (ops!) pelo pior tipo de ilusão que um presidente pode ter: a ilusão de que preside. Governando com a vassoura, simulou a higienização da Esplanada. Mas, enquadrada por Lula, o presidente emérito, Dilma deu meia-volta. E os negócios voltaram a fluir.
Súbito, os consumidores passaram a emitir sinais de irascibilidade. Num instante em que os institutos de pesquisa acomodam o desejo de mudança em patamares superiores a 70%, os partidos acionaram seus radares. Avessos ao risco, decidiram diversificar os investimentos.
Dono das antenas mais aguçadas, o PMDB aplicou 59% de sua convenção em Dilma, mantendo do lado dela Michel Temer. Poucas vezes, porém, um vice foi tão versa. A favor de tudo e contra qualquer coisa, o PMDB ficou livre para contrair novos matrimônios nos Estados. Em política, você sabe, matrimônio é outro nome para patrimônio.
Depois reposicionar sua carteira de ações em várias praças —aplicou a Bahia na apólice de Aécio Neves e o Rio Grande do Sul no título de Eduardo Campos, por exemplo— a corretora do PMDB atingiu o ápice da sofisticação na sua filial do Rio de Janeiro. Ali, após simular a recompra dos títulos de Dilma, o cacique Sérgio Cabral, qual um especulador de mercado, investiu numa nova sociedade: Aezão.
Em troca da cessão do tempo de propaganda do PSDB no rádio e na tevê para Luiz Pezão, seu candidato a governador, Cabral retirou-se da corrida ao Senado, entregou a vaga a um aliado do tucanato —o ‘demo’ Cesar Maia—, e liberou as engrenagens do PMDB fluminense para rodar por Aécio.
Cabral fez tudo isso em reação a outro ataque especulativo: isolado, o candidato a governador do PT, Lindbergh Farias, associou-se ao PSB de Eduardo Campos, adquirindo uma blue chip: a candidatura ao Senado do craque Romário. Até o ex-tucano Edaurdo Paes, hoje prefeito carioca pelo PMDB, espantou-se. “Isso é um bacanal eleitoral”, disse.
Os especialistas em Bolsa costumam dizer que não convém a nenhum investidor colocar todos os ovos num mesmo cesto. Alheio ao conselho, o PTB do presidiário Roberto Jefferson migrou 100% de suas posições de Dilma para Aécio. O PR do mensaleiro preso Valdemar Costa Neto ficou tentado a fazer o mesmo. Mas parece ter desistido.
Compostas por operadores de fino faro, algumas legendas governistas tremem como se receassem que o derretimento de Dilma caminhe para um completo meltdown —termo adotado pelo economês na década de 90, para descrever a situação terminal de uma economia quando já não havia nada a ser feito além de correr, para não derreter junto.
Enquanto os deuses do mercado eleitoral tomam suas decisões, resta ao contribuinte, que não costuma jogar sua sorte em ações e cujos conhecimentos de Bolsa só vão até o Bolsa Família, lamentar que o futuro do país continue nas mãos de uma dezena de operadores de mesa de câmbio partidário. A única saída talvez seja fundar um partido. Ou uma Igreja, que às vezes dá no mesmo.
No Brasil, como se sabe, os partidos são empreendimentos 100% financiados pelo déficit público. Por isso, a grossa maioria prefere investir no conglomerado governamental. As legendas adotam uma prática comum no mundo empresarial: a terceirização. Sob Lula, atingiu-se a perfeição.
Os partidos confiaram os afazeres da Presidência da República a uma lenda do operariado nacional, reservando-se o direito de cobrar resultado$. Com fachada de esquerda, o Planalto resultou em ótimos negócios. A aparência asséptica do ex-PT proporcionou excelente merchandising. Repetiu-se a fórmula com Dilma. O PT já não era o mesmo. Mas os negócios iam bem.
No primeiro ano de sua gestão, Dilma tornou-se uma ameça ao lucro. Recém-eleita, ela foi assaltada (ops!) pelo pior tipo de ilusão que um presidente pode ter: a ilusão de que preside. Governando com a vassoura, simulou a higienização da Esplanada. Mas, enquadrada por Lula, o presidente emérito, Dilma deu meia-volta. E os negócios voltaram a fluir.
Súbito, os consumidores passaram a emitir sinais de irascibilidade. Num instante em que os institutos de pesquisa acomodam o desejo de mudança em patamares superiores a 70%, os partidos acionaram seus radares. Avessos ao risco, decidiram diversificar os investimentos.
Dono das antenas mais aguçadas, o PMDB aplicou 59% de sua convenção em Dilma, mantendo do lado dela Michel Temer. Poucas vezes, porém, um vice foi tão versa. A favor de tudo e contra qualquer coisa, o PMDB ficou livre para contrair novos matrimônios nos Estados. Em política, você sabe, matrimônio é outro nome para patrimônio.
Depois reposicionar sua carteira de ações em várias praças —aplicou a Bahia na apólice de Aécio Neves e o Rio Grande do Sul no título de Eduardo Campos, por exemplo— a corretora do PMDB atingiu o ápice da sofisticação na sua filial do Rio de Janeiro. Ali, após simular a recompra dos títulos de Dilma, o cacique Sérgio Cabral, qual um especulador de mercado, investiu numa nova sociedade: Aezão.
Em troca da cessão do tempo de propaganda do PSDB no rádio e na tevê para Luiz Pezão, seu candidato a governador, Cabral retirou-se da corrida ao Senado, entregou a vaga a um aliado do tucanato —o ‘demo’ Cesar Maia—, e liberou as engrenagens do PMDB fluminense para rodar por Aécio.
Cabral fez tudo isso em reação a outro ataque especulativo: isolado, o candidato a governador do PT, Lindbergh Farias, associou-se ao PSB de Eduardo Campos, adquirindo uma blue chip: a candidatura ao Senado do craque Romário. Até o ex-tucano Edaurdo Paes, hoje prefeito carioca pelo PMDB, espantou-se. “Isso é um bacanal eleitoral”, disse.
Os especialistas em Bolsa costumam dizer que não convém a nenhum investidor colocar todos os ovos num mesmo cesto. Alheio ao conselho, o PTB do presidiário Roberto Jefferson migrou 100% de suas posições de Dilma para Aécio. O PR do mensaleiro preso Valdemar Costa Neto ficou tentado a fazer o mesmo. Mas parece ter desistido.
Compostas por operadores de fino faro, algumas legendas governistas tremem como se receassem que o derretimento de Dilma caminhe para um completo meltdown —termo adotado pelo economês na década de 90, para descrever a situação terminal de uma economia quando já não havia nada a ser feito além de correr, para não derreter junto.
Enquanto os deuses do mercado eleitoral tomam suas decisões, resta ao contribuinte, que não costuma jogar sua sorte em ações e cujos conhecimentos de Bolsa só vão até o Bolsa Família, lamentar que o futuro do país continue nas mãos de uma dezena de operadores de mesa de câmbio partidário. A única saída talvez seja fundar um partido. Ou uma Igreja, que às vezes dá no mesmo.
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