quarta-feira, 26 de março de 2014

‘A vaquinha das tetas de ouro’, de Carlos Brickmann

26/03/2014  VEJA


Publicado na coluna de Carlos Brickmann

Refinaria de Pasadena? Peanuts, diriam os americanos. Argent de poche, diriam os franceses. Petequeiros, diria Roberto Jefferson. Merreca, diremos nós.

A refinaria de Abreu e Lima, na região metropolitana do Recife, foi projetada a pedido do presidente venezuelano Hugo Chávez, para processar o petróleo pesado que representa boa parte da produção da Venezuela e produzir gasolina, diesel e outros derivados para exportação. 

O nome homenageia o general brasileiro José Inácio de Abreu e Lima, que lutou com Simon Bolívar, O Libertador, pela independência da América espanhola. 

A refinaria foi orçada em US$ 2,5 bilhões, sendo 60% investidos pela Petrobras e 40% pela PDVSA, Petroleos de Venezuela. Deveria começar a produzir em 2011. Até hoje não processou um barril sequer de petróleo. 

Seu custo deve atingir US$ 20 bilhões. A PDVSA não investiu nenhum centavo: todo o investimento é da Petrobras. Tudo bem, se a PDVSA nada investiu, nenhuma parcela terá da refinaria, nem participará de seus lucros. Mas alguém poderia explicar como o custo foi de US$ 2,5 para US$ 20 bilhões?


Há o caso da refinaria japonesa Nansei Sekiyu, que a Petrobras comprou por US$ 71 milhões em 2008. Modernizou-a, ao custo de US$ 200 milhões. Agora quer vendê-la, mas não conseguiu nenhuma oferta superior a US$ 150 milhões.

John D. Rockefeller, da Standard Oil, dizia que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor negócio, uma empresa de petróleo mal administrada. A Petrobras provou que ele estava errado.

CPI? Não é por aí
 
Saia ou não saia a CPI da Petrobras, não deve criar muitos problemas ao Governo além das chateações de praxe e das nomeações necessárias para sossegar os mais aguerridos. Até aprová-la, cada partido indicar os nomes, haver o debate da pauta, todos trabalhando de terça a quinta, a crise esfria – a menos que o Governo atue com altíssimo grau de inabilidade.


O problema é outro e tem nome e sobrenome: Nestor Cuñat Cerveró, jogado às feras e escolhido para desempenhar o papel de único culpado. Só que esqueceram de combinar com ele. E Cerveró, ao que se informa, não tem a menor vocação para entrar sozinho no matadouro. Uma boa entrevista, substanciosa, pode perfeitamente jogar a crise para o alto.

A escolinha… 
 
A inflação se manteve sempre acima do centro da meta, o déficit público aumentou muito, os 3% de superávit primário foram trocados por 1,9% ─ e não são todos que acreditam que seja viável ─ há déficit comercial dos grandes.


Governo gastando menos? Assunto proibido: bom mesmo é gastar mais. E a nota do Brasil na classificação de riscos de crédito acabou baixando. Não é o fim do mundo; mas indica que há alguma perda de confiança internacional na economia brasileira, e que tanto o Governo quanto as empresas terão de pagar juros maiores no Exterior. 

Se houver outra queda, o Brasil perde a categoria de investimento seguro, e muitos fundos internacionais serão obrigados a retirar seus dólares.

…do professor Mantega
 
A posição do Brasil é a de sempre: a culpa é dos outros. Diz a nota do Ministério da Fazenda que o rebaixamento da avaliação do país “é inconsistente com as condições da economia”, e que contradiz “a solidez e os fundamentos do Brasil”.


A escolha é dos investidores internacionais: a redução da nota brasileira ou os protestos do ministro Mantega afirmando que a redução é injusta.

Chega de chantagem! 
 
O jornalista gaúcho Jayme Copstein foi até o Supremo Tribunal Federal e deu um passo gigantesco para acabar com a chantagem que figurões engravatados praticam contra jornalistas e empresas jornalísticas, exigindo indenizações milionárias. 


O Supremo julgou improcedente a ação de um desembargador gaúcho contra Copstein e o jornal O Sul: Sua Excelência queria ser indenizado porque, a seu ver, Copstein tratou com ironia sua decisão de conceder regime semiaberto a Carlos Antônio Balengo da Silva, líder do PCC no Rio Grande do Sul.

Decidiu o Supremo: “Críticas a agentes públicos, por mais duras, contundentes ou mordazes que sejam, não implicam dano moral. Não geram indenização material, como têm pretendido e eventualmente conseguido em tribunais inferiores ações movidas contra jornalistas e empresas jornalísticas”.

É importante: gente bem relacionada tenta fugir de críticas exigindo centenas de milhares de reais pelos danos causados à sua honra ─ que muitas vezes, convenhamos, não vale isso.

Bebendo na fonte
 
Para enfrentar melhor os engravatados que dão preço à honra, clique aqui. Em Número do Processo, escreva ARE 734067.


Perde o pelo 
 
O guru indiano Rayneet Singh, consultor da campanha presidencial de José Serra (PSDB) em 2010, foi preso nos Estados Unidos, acusado de buscar doações ilegais para candidatos em San Diego, na Califórnia.


Cá como lá
 
André Luís de Carvalho, ministro substituto do TCU, faz palestra hoje em seminário do Conselho Federal de Enfermagem ─ que é investigado pelo TCU.

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