“O que precisar ser investigado será investigado”, diz ela
Chamada pelo Congresso a prestar esclarecimentos
sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a
presidente da Petrobras, Graça Foster, antecipou-se e deu as primeiras
declarações públicas sobre o assunto desde que a presidenta Dilma
admitiu que se baseou em documento “falho” ao apoiar o negócio que
causou prejuízo bilionário à estatal.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo,
Graça Foster disse que o negócio, que se mostrava “potencialmente
atrativo”, não se repetiria hoje, mas negou ter elementos para afirmar
que houve irregularidades na compra da unidade.
Graça Foster anunciou a criação de uma comissão interna para apurar
responsabilidades na transação e admitiu ter sido surpreendida com uma
série de fatos relacionados à refinaria apenas agora, dois anos após ter
assumido a presidência da estatal. Segundo ela, no que depender da
empresa, as investigações não deixarão “pedra sobre pedra”.
“Eu sou a presidente da companhia em cima de um caso que é delicado.
Não aceito descobrir que estou falando um número e o número correto é
outro (valor pago nos 50% iniciais), e nem aceito tratar um assunto em
que me venha um comitê, um board de representantes das partes
(Petrobras e Astra) que eu não saiba.
E eu não aceito isso de jeito
nenhum. E não fica pedra sobre pedra, não fica. Mas não fica, não fica.
Pode ficar incomodado”, declarou Graça Foster aos repórteres Ramona
Ordoñez e Bruno Rosa. “O que precisa ser investigado é investigado nesta
empresa. Esse é o ponto fundamental. Aqui, tem normas, procedimentos e
ela investiga”, acrescentou.
Clique aqui para ver a íntegra da entrevista no Globo
Na entrevista ao Globo, ela fez coro à presidenta Dilma Rousseff ao criticar o resumo executivo elaborado pelo ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, em 2006, que subsidiou a compra da refinaria. Assim como a presidenta, ela considerou inadmissível a ausência de referência a duas cláusulas contratuais que acabaram trazendo prejuízos à empresa brasileira.
Na entrevista ao Globo, ela fez coro à presidenta Dilma Rousseff ao criticar o resumo executivo elaborado pelo ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, em 2006, que subsidiou a compra da refinaria. Assim como a presidenta, ela considerou inadmissível a ausência de referência a duas cláusulas contratuais que acabaram trazendo prejuízos à empresa brasileira.
“Cabe ao diretor da área tomar posição e colocar ali quais são os
pontos relevantes para que o conselho possa se posicionar com conforto e
que traga segurança para todos”, afirmou, sem citar nomes.
Surpresa
A presidente da Petrobras revelou surpresa com o fato de o ex-diretor
da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia
Federal representar a empresa em um comitê de proprietários de
Pasadena. Assim como Cerveró, Costa participou da elaboração do
documento considerado “falho” por Dilma e que levou o conselho
administrativo, à época presidido pela atual presidenta da República, a
aprovar o negócio.
“Eu descobri ontem (segunda-feira), não sabia que existia um comitê
de proprietários de Pasadena no qual o Paulo Roberto era representante
da Petrobras. Esse comitê era acima do board. Depois que
entramos em processo arbitral, esse comitê deixou de existir”, declarou.
“Não sei ainda, e este é um ponto que a comissão está procurando, quais
eram os estatutos, quais eram as atribuições, qual era o poder e onde
estão as datas. Eu não sei nada”, enfatizou.
Comando
Segundo Graça Foster, essa foi a “gota d´água” para ela ter criado
uma comissão interna que terá 45 dias para investigar o caso. “Essa
comissão não foi aberta motivada se a cláusula devia ou não estar no
resumo executivo. Entendo que a demanda do conselho de administração é
correta e justa e precisa ter informações. Não é preciso fazer uma
comissão de 45 dias para se chegar a conclusão sobre a importância de
tê-las no resumo executivo. É muito importante que se saiba que a
Petrobras tem comando. A Petrobras é uma empresa de 85 mil funcionários e
tem uma presidente. Sou eu. Eu respondo pela Petrobras”, afirmou.
Ela acrescentou que a mudança da economia e a aplicação de cláusulas
contratuais levaram a compra da refinaria a se tornar um negócio que a
empresa não repetiria hoje. “Com a mudança da economia e das aplicações
das fórmulas de put option, da negociação, dos valores que se
apresentaram e com a queda absurda de margem, não seria um projeto que a
gente repetiria”, declarou.
Graça Foster disse ainda não ver necessidade de abrir nova frente de
investigação em relação à refinaria de Abreu e Lima, objeto de parceria
com o governo da Venezuela. Para ela, não há “materialidade hoje que
justifique auditoria” no negócio.
CPI e Dilma
A CPI busca assinaturas no Congresso para instalar uma comissão
parlamentar de inquérito para apurar a compra da refinaria de Pasadena,
no estado norte-americano do Texas. Ontem, um grupo de oito
parlamentares entrou com representação contra a presidenta Dilma na Procuradoria-Geral da República.
Eles querem que o procurador-geral investigue a participação de Dilma
no caso e a suposta prática de improbidade administrativa e de outros
possíveis crimes. Na época, ela presidia o conselho administrativo da
estatal. Para os parlamentares, houve negligência de Dilma ao aprovar a
compra da refinaria. Em 2006, a Petrobras pagou US$ 360 milhões à
empresa belga Astra Oil para adquirir 50% da refinaria. Essa mesma parte
havia sido comprada no ano anterior pela companhia belga por US$ 42
milhões.
O governo argumenta que não há necessidade de CPI, pois há
investigações em curso sobre o caso na Polícia Federal, no Ministério
Público Federal e no Tribunal de Contas da União (TCU). O objetivo da
oposição é criar desgaste para Dilma, em um ano em que a presidenta
deverá concorrer à reeleição, alegam os governistas.
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