FOLHA
O best seller do momento na área econômica, "Capital no século 21", do
francês Thomas Piketty, se aplicadas suas constatações ao Brasil,
desmonta por completo a lenda da queda da desigualdade.
Insisti nesse ponto uma e mil vezes aqui na Folha, mas sou insignificante demais para me opor à propaganda da queda da desigualdade, que uniu os contrários, os economistas liberais e os do PT. Uniu pela conveniência de cada lado.
Para os liberais, se mostrassem que houve queda da desigualdade mesmo com as políticas ortodoxas adotadas por Lula, afastariam o perigo (para eles) de que os petistas de repente se encantassem com suas velhas teses de esquerda, postas em hibernação quando a dupla Antonio Palocci/Henrique Meirelles assumiu o controle da economia.
Para o petismo, dizer que a desigualdade caíra era uma bela propaganda de seu suposto amor pelos mais pobres.
Raros economistas, como Reinaldo Gonçalves (UFRJ), não se deixaram enganar. Escreveu Gonçalves:
"Com raras exceções, essas políticas limitam-se a alterar a distribuição da renda na classe trabalhadora (salários, aposentadorias e benefícios), sem alterações substantivas na distribuição funcional da renda, que inclui, além do salário e das transferências, as rendas do capital (lucro, juro e aluguel)".
É, basicamente, a tese do livro de Piketty, conforme o resumo feito no sábado por Paul Krugman nesta Folha: "Mesmo aqueles que se dispunham a discutir a desigualdade se concentravam, em geral, na disparidade entre os pobres da classe trabalhadora e as pessoas prósperas, mas não mencionavam os verdadeiramente ricos".
"O foco eram os formandos universitários cuja renda superava a de trabalhadores com nível mais baixo de educação, ou a sorte comparativa dos 20% mais prósperos da população ante os 80% menos afortunados, e não a rápida ascensão da renda dos executivos e banqueiros".
"Portanto, foi uma revelação quando Piketty e colegas demonstraram que as rendas do hoje famoso '1%', e de grupos ainda mais estreitos, eram o mais importante na ascensão da desigualdade".
É isso: pode ter caído a desigualdade entre a renda dos salários, mas não entre a renda do capital e a do trabalho, que é a verdadeira obscenidade no Brasil (e, agora, cada vez mais nos EUA e outros países ricos).
Não há medições confiáveis sobre renda do trabalho e do capital, mas há números que permitem desconfiar que, em vez de redução, houve aumento na desigualdade "lato sensu". Basta saber que houve ano em que o governo federal dedicou 5,72% do PIB brasileiro ao pagamento de juros de sua dívida (aos detentores do capital, portanto).
Já o Bolsa Família, o programa de ajuda aos mais pobres, consumiu magro 0,4% do PIB.
Resumo da história: para 13.330.714 famílias então cadastradas no Bolsa Família, ia 0,4% do PIB. Para um número infinitamente menor, mas cujo tamanho exato se desconhece, 13 vezes mais.
Se isso é distribuição de renda, o é a favor do 1%.
Insisti nesse ponto uma e mil vezes aqui na Folha, mas sou insignificante demais para me opor à propaganda da queda da desigualdade, que uniu os contrários, os economistas liberais e os do PT. Uniu pela conveniência de cada lado.
Para os liberais, se mostrassem que houve queda da desigualdade mesmo com as políticas ortodoxas adotadas por Lula, afastariam o perigo (para eles) de que os petistas de repente se encantassem com suas velhas teses de esquerda, postas em hibernação quando a dupla Antonio Palocci/Henrique Meirelles assumiu o controle da economia.
Para o petismo, dizer que a desigualdade caíra era uma bela propaganda de seu suposto amor pelos mais pobres.
Raros economistas, como Reinaldo Gonçalves (UFRJ), não se deixaram enganar. Escreveu Gonçalves:
"Com raras exceções, essas políticas limitam-se a alterar a distribuição da renda na classe trabalhadora (salários, aposentadorias e benefícios), sem alterações substantivas na distribuição funcional da renda, que inclui, além do salário e das transferências, as rendas do capital (lucro, juro e aluguel)".
É, basicamente, a tese do livro de Piketty, conforme o resumo feito no sábado por Paul Krugman nesta Folha: "Mesmo aqueles que se dispunham a discutir a desigualdade se concentravam, em geral, na disparidade entre os pobres da classe trabalhadora e as pessoas prósperas, mas não mencionavam os verdadeiramente ricos".
"O foco eram os formandos universitários cuja renda superava a de trabalhadores com nível mais baixo de educação, ou a sorte comparativa dos 20% mais prósperos da população ante os 80% menos afortunados, e não a rápida ascensão da renda dos executivos e banqueiros".
"Portanto, foi uma revelação quando Piketty e colegas demonstraram que as rendas do hoje famoso '1%', e de grupos ainda mais estreitos, eram o mais importante na ascensão da desigualdade".
É isso: pode ter caído a desigualdade entre a renda dos salários, mas não entre a renda do capital e a do trabalho, que é a verdadeira obscenidade no Brasil (e, agora, cada vez mais nos EUA e outros países ricos).
Não há medições confiáveis sobre renda do trabalho e do capital, mas há números que permitem desconfiar que, em vez de redução, houve aumento na desigualdade "lato sensu". Basta saber que houve ano em que o governo federal dedicou 5,72% do PIB brasileiro ao pagamento de juros de sua dívida (aos detentores do capital, portanto).
Já o Bolsa Família, o programa de ajuda aos mais pobres, consumiu magro 0,4% do PIB.
Resumo da história: para 13.330.714 famílias então cadastradas no Bolsa Família, ia 0,4% do PIB. Para um número infinitamente menor, mas cujo tamanho exato se desconhece, 13 vezes mais.
Se isso é distribuição de renda, o é a favor do 1%.
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