Moradores transformam espaços públicos em depósitos de entulho. GDF afirma que há fiscalização
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
Os depósitos irregulares de lixo se espalham como uma praga pelo Distrito Federal. Em quase todas as cidades há lugares onde os resíduos são descartados indevidamente e causam transtornos à população.
Mau cheiro, doenças e presença de insetos e animais são algumas das consequências. Apesar das sanções previstas pela lei e da existência de placas que alertam sobre a proibição, segundo autoridades, a própria população é a responsável pelo despejo em local indevido.
Mas, qual seria, portanto, a solução para esse problema?
Em Samambaia Sul, às margens da BR-060 – que leva a Goiânia (GO) –, existem pelo menos cinco pontos irregulares de despejo de lixo e entulho. Parece que lá, todo e qualquer espaço descampado, que não esteja ocupado, está sujeito a se tornar ponto de despejo de lixo.
Em um dos maiores lixões, na Quadra 515, é possível encontrar de tudo. São carcaças de TV, sofás, caixas de papelão, roupas, calçados e restos de comida. Moradores contam que o espaço já é utilizado para este fim há anos, mas se defendem dizendo que não despejam lixo no local. “Já moro aqui há sete anos e desde que me mudei esse lixo está aí. Eles retiram em um dia e no outro já está tudo lá novamente. Acho que é um problema de educação e conscientização da população”, comenta Enilton Lopes, 40 anos, ténico de refrigeração.
Seu vizinho, o policial militar Dionísio Neto, 46 anos, concorda. “É a própria comunidade que deposita o lixo aí, mas são pessoas de áreas mais distantes. Nós, logicamente, não íamos querer ter lixo na porta das nossas casas. Todos os dias tem gente a pé, de carroça ou caminhão jogando lixo e entulho”, afirma.
EQNN 18/20
Em Ceilândia, a situação é semelhante. Ali, dois grandes lixões a céu aberto incomodam os moradores. O da EQNN 18/20 ocupa um descampado onde antes havia residências. Em função de uma erosão, ocorrida há 20 anos, o local precisou ser desocupado e desde então virou depósito de lixo. Segundo o prefeito comunitário Higor Sávio, os moradores lutam pela construção de uma praça no local, mas aguardam a conclusão de um estudo elaborado pela Secretaria de Habitação (Sedhab) sobre as condições solo para ter a obra autorizada.
Pense nisso
A falta de educação não pode ser motivo para que as autoridades se eximam do problema. Muito pelo contrário.
Promover a educação e a conscientização dos moradores está entre as obrigações do Estado. Além disso, fiscalizar esse tipo de conduta.
E mais: estabelecer quais são os locais corretos para o descarte do entulho, fazendo ampla divulgação. Por outro lado, muitos moradores contratam serviços de carroceiros e sequer sabem para onde eles estão levando os materiais. Lado a lado com o papel do governo estão os deveres do cidadão.
População em busca de alternativas
O outro lixão é mais recente, mas não menos incômodo. Na quadra CNN1 de Ceilândia, os resíduos se acumulam em uma área próxima a comércios e casas e onde há grande circulação de pessoas: ao lado da estação do metrô Ceilândia Centro.
Segundo o líder comunitário Higor Sávio, o problema se agravou nos últimos dois meses, quando a coleta seletiva de lixo ficou suspensa na área. “Recebemos a informação de que teria ocorrido um desmembramento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), que ocasionou mudanças em algumas coordenadorias e falta de atendimento a área nesse período”, contou Sávio.
Segundo ele, a coleta seletiva e os serviços de cata entulho não são suficientes. “Já sugerimos a colocação de contêineres à administração, mas a solicitação ainda não foi atendida. Também firmamos uma parceria com uma ONG recentemente. Eles se comprometeram a nos ajudar com o material de divulgação dos novos pontos de coleta. Para isso, no entanto, precisamos da autorização e ajuda da administração com a verba necessária para a compra dos contêineres”, explicou.
Nilda Rabelo, servidora pública, 57, acredita que os lixões são um problema crônico de Ceilândia. “Desde que me mudei para cá, em 1994, há lixões em vários pontos. A fiscalização é ineficiente”, afirma.
Comunidade de Sobradinho reage
Uma insatisfação acumulada há mais de 30 anos transbordou para as redes sociais. Essa foi a forma que a comunidade de Sobradinho encontrou para expressar sua inconformidade com relação à existência de uma área de tranbordo mantida pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU). Na época de sua criação, na região não existiam residências nas proximidades.
Recentemente, uma moradora da Quadra 2, próxima ao local, estampou seu repúdio no Facebook. “Alô amigos de Sobradinho, vamos nos unir para lutar contra a injustiça e o desrespeito em nossa cidade. O mau cheiro do depósito de lixo do SLU está insuportável!”, conclamou.
Ao consultar a administração regional local sobre o problema, ela foi orientada a formalizar sua queixa por meio de telefones específicos. “Peço que todos reclamem”, comentou sem sua página pessoal.
A área comercial abaixo do transbordo, conhecida como Expansão, também sofre com o mau cheiro. Vendedor de uma loja de nutrição animal, Paulo Eduardo, de 27 anos, trabalha no local há um ano e admite: o odor é insuportável. “Já reclamamos muito, mas não tivemos qualquer retorno. Em épocas de seca e sol forte, a situação fica ainda pior. Acabamos nos acostumando, mas os clientes não”, contou.
O coordenador de limpeza urbana norte, Lúcio Lopes, explicou que o mau cheiro se acentuou, nos últimos dias, devido ao acúmulo atípico de lixo, não transferido para o aterro sanitário da Estrutural.
Versão Oficial
A Agência de Fiscalização (Agefis) informou que as fiscalizações são feitas em todo o DF, em horários noturnos e, eventualmente, nos finais de semana. De acordo com o órgão, quando é flagrado depositando os resíduos, o infrator é multado, mas quando não há flagrante, os inspetores fiscais procuram identificar o responsável. Para a Agefis, o número de fiscais é suficiente para atender às demandas. Classificadas em leves, graves e gravíssimas, as multas variam de R$ 107,34 a R$ 107.365,14.
Ceilândia: 40 caminhões de entulho por dia
A Administração Regional de Ceilândia afirmou que são recolhidos,
diariamente, 40 caminhões de entulho da cidade. E, nos locais
mencionados, a limpeza ocorre pelo menos duas vezes por semana.
De acordo com o assessor de comunicação, Rodrigo Almeida, “assim
que as máquinas saem do local, flagramos pessoas despejando lixo
novamente. Apesar de o SLU realizar a coleta do lixo orgânico e coleta
seletiva do lixo seco, a população insiste em tal prática”, explicou.
Almeida acrescentou que, em 2011, a administração regional
identificou 500 pontos de despejo de lixo na cidade. Atualmente, esse
número caiu para 20, em virtude, segundo ele, do lançamento, naquele
mesmo ano, do programa “Cata Entulho”. “Basta solicitar, pelo telefone
3471-9853, que a Administração fará o recolhimento de qualquer tipo de
entulho na residência do morador”.
No ano seguinte, em 2012, a administração lançou o “Cata Pneu”,
voltado à coleta de Pneus em borracharias, em que as coletas podem ser
solicitadas pelo telefone 3471- 9855.
De acordo com a assessoria de comunicação do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o lixo e o entulho acumulados nos lixões irregulares da cidade são recolhidos semanalmente ou, no máximo, de quinze me quinze dias, dependendo da necessidade.
Segundo o órgão, quando o núcleo de limpeza foi criado, só existia uma quadra por perto da área de transbordo de Sobradinho. “Hoje, muitos foram morar em áreas próximas e reclamam do mau cheiro. De toda forma, o local é uma área de transbordo, usada apenas em casos de emergência, como quando o lixão é fechado ou acontece algum problema operacional”, esclareceu a assessoria de imprensa do órgão à reportagem.
A Administração Regional de Sobradinho ressaltou ainda que fez, há algumas semanas, uma reunião com moradores da Quadra 2 e servidores do SLU para discutir e definir alternativas para solucionar o problema.
Segundo a administração, os moradores também podem ajudar, registrando sugestões e reclamações na ouvidoria na ouvidoria do órgão pelo e-mail:
ouvidoria@sobradinho.df.gov.br ou telefone: (61) 3453-9124.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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