O momento mais emblemático das agressões petistas contra Joaquim
Barbosa: o vice-presidente da Câmara, André Vargas, provoca o ministro.
Mais tarde, Vargas seria pego em flagrante por ligações corruptas com o
doleiro Youssef, na Operação Lava-Jato.
A decisão do ministro Joaquim Barbosa de antecipar sua saída
da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e também da Corte, prevista
para o fim do ano, foi precipitada pelas ameaças que ele vem sofrendo,
especialmente por causa de sua atuação à frente do julgamento do mensalão do
PT. Aos 59 anos, Barbosa deixará o STF no final do mês que vem. Pessoas
próximas ao ministro contaram que as ameaças e as agressões sofridas por
Barbosa, pela internet e até em locais públicos, o levaram a decidir sair antes
do previsto. — Não se surpreendam se eu largar o Supremo antes das
eleições — avisou Barbosa numa dessas conversas, informando que voltaria a dar
aulas e a fazer palestras.
Antes do julgamento do mensalão, o ministro frequentava
restaurantes e bares em Brasília e no Rio. E continuou a fazê-lo por algum
tempo. Tudo mudou nos últimos meses, especialmente após a prisão de
mensaleiros. Com a profusão de ameaças nas redes sociais, e o episódio em que
foi abordado por um grupo de militantes do PT, ao deixar um restaurante em
Brasília, Barbosa se sentiu forçado a mudar seus hábitos.
— Ele passou a evitar locais públicos por medo em relação à
sua segurança. Parou de sair — disse um amigo de Barbosa: — Agora, ele está se
sentindo aliviado. Ele estava cansado, quer viver a vida. Estava muito
patrulhado, se sentia agredido com palavras, com provocações. Me disse: “Tô
precisando viver”.
Ameaças nas redes sociais
Segundo a revista “Veja”, um perfil apócrifo no Facebook
dizia que o ministro “morreria de câncer ou com um tiro na cabeça” e que seus
algozes seriam “seus senhores do novo engenho, seu capitão do mato”. Outro
perfil dizia: “Contra Joaquim Barbosa toda violência é permitida, porque não se
trata de um ser humano, mas de um monstro e de uma aberração moral das mais
pavorosas. Joaquim Barbosa deve ser morto”. A Polícia Federal investiga a
origem das ameaças. — Esse fator (as ameaças) contribuiu para sua saída
antecipada — disse outro interlocutor do ministro.
Barbosa acordou ontem decidido e, de manhã , foi dar a
notícia à presidente Dilma Rousseff, que ficou surpresa. Depois,
despediu-se
oficialmente dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da
Câmara,
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Como Ilimar Franco contou em seu blog,
Barbosa disse a Henrique Alves que não pretende seguir carreira
política. — Política, de jeito nenhum! — afirmou o presidente do STF.
Descontraído, ainda falou sobre o seu futuro. — Vou fazer como o Lula,
vou dar palestras — disse Barbosa.
Após esses encontros, Barbosa anunciou sua aposentadoria
precoce no início da sessão de ontem do Supremo. — Tenho uma informação de ordem pessoal a trazer: decidi me
afastar do STF no final de junho. Afasto-me não apenas da presidência, mas do
cargo de ministro. Requererei o meu afastamento do serviço público após quase
41 anos. Tive a felicidade, a satisfação e a alegria de compor esta Corte no
que é, talvez, o seu momento mais fecundo, de maior criatividade e de
importância no cenário político institucional do nosso país. Sinto-me deveras
honrado de ter feito parte deste colegiado e de ter convivido com diversas
composições e, evidentemente, com a atual composição do STF. Agradeço a todos,
meu muito obrigado — afirmou.
Barbosa ficou popular com o julgamento do mensalão, a ponto
de ser bem avaliado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da
República. No entanto, os eleitores não poderão ver seu nome nas urnas em
outubro. Além de sua disposição de não concorrer, o prazo de desincompatibilização
de juízes com os cargos que ocupam venceu em 4 abril. Quem não fez isso a tempo
não pode se candidatar. — Ele teria que ter se desincompatibilizado até 4 de abril.
Parece que o cavalo passou encilhado e ele não colocou o pé no estribo. Não dá
mais. Agora, ele está inelegível — explicou o ministro Marco Aurélio Mello.
Amadurecida ao longo dos últimos anos, a ideia de deixar o
Supremo começou a tomar forma concreta em janeiro, durante viagem à França e à
Inglaterra, onde deu palestras e participou de eventos representando o STF. — Essa decisão (tomei) naqueles 22 dias que tirei em
janeiro, estive na Grã-Bretanha e na França. Aquilo foi decisivo para minha
decisão — explicou.
Nos últimos dias, Barbosa procurou ao menos três ministros
para contar a novidade — entre eles, Luiz Fux, o integrante do Supremo com quem
tem maior proximidade. Os outros não sabiam de nada. Marco Aurélio está no
grupo dos surpreendidos. — Não sabíamos de nada. Pelo menos, eu não tinha
conhecimento de que ele deixaria o tribunal. Pega de surpresa o Supremo, pelo
menos um dos integrantes, que sou eu — afirmou.
Com a saída do relator do mensalão, o processo será
conduzido por outro ministro, a ser sorteado para a função assim que Barbosa
deixar a Corte oficialmente. Esse ministro ficará responsável pela execução das
penas dos 24 condenados. E tomará decisões referentes ao direito ao trabalho
externo de presos no regime semiaberto — benefício que Barbosa negou
recentemente a oito condenados, incluindo o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. (O Globo)
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O EDITOR
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07:14:00
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