sexta-feira, 30 de maio de 2014

Padrão Brasil, segundo a presidente Dilma, identifica produtos de má qualidade.



Ao tentar rebater as críticas aos aeroportos brasileiros afirmando que eles não são “padrão Fifa”, mas, sim, “padrão Brasil”, a presidente Dilma mais uma vez escorregou no improviso (dando de barato que não foi uma “sacada genial” de seus marqueteiros) e, sem querer, chancelou o “padrão Brasil” como definição de produto de má qualidade.



Até hoje produtos “made in China” carregam consigo a desconfiança do consumidor, enquanto os “made in Japan” já conseguiram ser um atestado de qualidade.  



Os aeroportos “made in Brasil” definitivamente não são sinônimo de coisa boa, pelo menos enquanto não entram em funcionamento os novos terminais que deveriam estar prontos para a Copa.


O Brasil, como nação, perdeu uma grande oportunidade de se mostrar ao mundo como capacitado a realizar grandes eventos como uma Copa ou as Olimpíadas. Só havia uma razão para o governo brasileiro batalhar por essa realização, e por isso a China realizou as Olimpíadas de 2008, a África do Sul realizou a Copa em 2010 e a Rússia vai ser a sede da Copa de 2018.


Todos esses países que formam os Brics têm como objetivo ganhar espaço político no mundo multipolar, e o Brasil estava no caminho certo ao pleitear a Copa e as Olimpíadas quase ao mesmo tempo. Mas perdeu sua grande chance ao não se dedicar à organização e ao planejamento desses eventos planetários com a prioridade devida. Valeu mais para o governo Lula ganhar a disputa pela realização deles do que a realização em si.



Resta agora torcer para que, mesmo dentro de condições mínimas, corra tudo bem neste próximo mês. Mas o que o mundo está vendo nestes momentos pré-Copa não faz bem à imagem do país. Até índios dando flechadas em plena Esplanada dos Ministérios em Brasília apareceram nas televisões internacionais, reforçando estereótipos. 


A questão é que grupos oportunistas, que querem aproveitar a Copa para fazer chantagem, fazem greves, pedem aumentos abusivos, interrompem o trânsito. 



 [acidentes de trânsito mesmo que pequenos, pane em veículos, em locais estratégicos,  são mais eficientes para impedir o acesso a uma PROPRIEDADE da FIFA do que qualquer protesto, qualquer manifestação.


uma das coisas que o desgoverno Dilma deve temer mesmo, se apavorar, são exatamente as interrupções de trânsito.

Por falta de investimentos a mobilidade urbana no Brasil varia entre a inexistente a péssima e a muito ruim. No Rio, São Paulo, Brasília e outras cidades os engarrafamentos são a regra.


Em Brasília ainda existe a característica ímpar que nem a Policia Militar nem o DETRAN-DF intervém quando ocorre um engarrafamento – no máximo dão uns toques de sirene para abrir caminho, apito não faz parte do equipamento de trabalho dos agentes do DETRAN-DF. 


É fácil, conseguir que uma  simples batida de trânsito no horário de rush, ocorrendo em um local estratégico de uma via movimentada, consiga parar o trânsito por vários minutos formando um engarrafamento colossal e que se propaga por todas as vias adjacentes.


Um ou dois carros em pane, em faixas diferentes do Eixo Monumental de Brasília, é o bastante para formar um engarrafamento colossal e mesmo após removidos os veículos, é necessário um bom tempo para o engarrafamento se desfazer seja no próprio Eixo Monumental ou nas vias de acesso e saída. 

DETALHE: O Eixo Monumental é a principal via de acesso ao Estádio Mané Garrincha. A polícia fica concentrada ao redor do Estádio e imediações do Palácio Buriti, TJDFT, MP e o nó no trânsito nos acessos e saídas do Eixo não é desatado. Fica ruim para acessar o Eixo e ruim para quem quer deixar aquela via.
O mesmo, com pequenas variações, ocorre em todas as cidades sedes da Copa 2014.]


Mesmo um grupo pequeno consegue hoje interromper o trânsito nas grandes metrópoles, parando as cidades. E há ainda grupos minoritários de vândalos, ou de black blocs, que fazem uma campanha contra a Copa que absolutamente não envolve a maioria do povo. O sentimento geral é de crítica ao governo, que não cumpriu o que prometeu, atrasou tudo, mostrou ineficiência.  



As pessoas suspeitam de que houve muita corrupção nas obras da Copa, mas todas essas são críticas específicas, ninguém é maluco, a esta altura, de achar que o melhor é que não tenha Copa. Pode-se até achar que não deveria ter Copa, que o governo deveria, em vez de ter batalhado para sediá-la, não ter colocado isso na sua pauta, não deveria ser objetivo prioritário para um país pobre, necessitado de muitas coisas. Mas, já que fez, não há sentido em querer boicotar a Copa, é coisa de minorias.



Misturar política com Copa do Mundo, e aproveitar a situação para tirar proveito próprio ou político, é atitude criticável. Mas o governo também precisaria atuar com mais decisão desde sempre, no relacionamento com os chamados “movimentos sociais”, para evitar os abusos que estão acontecendo hoje. Agora, diante da realidade que o populismo não conseguiu controlar, é preciso montar esquemas de segurança menos falhos, cumprir pelo menos a sua parte agora, já que a parte dos chamados legados da Copa está prejudicada pelos atrasos nas obras.


Pelo menos agora o governo tem que montar um esquema para garantir a segurança das pessoas e das delegações, dos mandatários que vêm ver os jogos. Mais uma demonstração de ineficiência do esquema oficial foi vista na saída da delegação brasileira para Teresópolis, quando professores em greve chegaram a atacar o ônibus com os jogadores da seleção brasileira dentro.  


[o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo já tem pronto um elenco de restrições que os turistas devem seguir para que o Rio e outras cidades brasileiras se tornem mais seguras para os turistas que o Iraque. Clique aqui,leia e anote.

Brasil, 11º país no ranking dos mais inseguros do mundo – Aldo Rebelo, ministro dos Esportes garante a segurança do torcedor, desde que ele siga algumas regras

As regras são simples. Eis algumas: não saia à noite: não ande de coletivos; não conduza objetos de valor; não ande sozinho. Tem outras que podem ser vistas no link indicado.]

Não importa se a culpa é do governo federal ou dos governos estaduais e até municipais, esse “inferno” de várias esferas de poder que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, experimentou. O fato é que o país perdeu uma grande chance de se mostrar ao mundo como uma potência emergente devido a seus próprios defeitos, turbinados pelo populismo no poder.


 A constatação não decorre de complexo de vira-lata, mas, ao contrário, da rejeição da fantasia marqueteira de um governo que vende um país que não existe, em vez de tentar mudar sua realidade. E que agora, depois do leite derramado, quer usar o patriotismo como refúgio de seus próprios erros. [Patriotismo não é, não foi e nunca será a Pátria de chuteiras.]


Por: Merval Pereira, O Globo  BLOG PRONTIDÃO

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