sexta-feira, 30 de maio de 2014

Por que, em termos estratégicos, apoiar o PSDB até as eleições é a melhor opção para a direita?



Clausewitz-et-Sun-Tzu
O amigo Arthur Rizzi Ribeiro escreveu o texto Por que eu não me entusiasmo com uma possível vitória tucana?, com o qual concordaria plenamente, mas apenas se eu fosse avaliar a questão em termos não-pragmáticos.

Arthur diz o óbvio: o PSDB não é um partido de direita, mas possui um DNA típico do socialismo fabiano. Disto se conclui que nós devemos votar no PSDB (em um provável segundo turno), mas passar a criar uma oposição ao próprio PSDB se este vencer. Eu discordo dos seguintes pontos: (1) não-entusiasmo agora, (2) oposição imediata em caso de eleição.

Para avaliar melhor esse problema, vou retornar às questões do mundo corporativo, onde poderemos ver como funciona melhor essa espécie de instância da “janela de Overton”. Para ilustrar melhor a questão vamos comparar a dicotomia esquerda X direita com a dicotomia estrutura funcional X estrutura projetizada no ambiente corporativo.

A coisa funciona assim: a não ser que alguém esteja no staff estratégico da corporação, possui maior “poder” quem tem maior nível de autoridade sobre um conjunto de ações, assim como um maior headcount. Ou seja, o número de pessoas que se reportam a você. 

Caso você não tenha um grande headcount, precisa ter autoridade sobre o headcount dos outros.

Qualquer um que leia o PMBOK, sabe que temos cinco estruturas organizacionais para a gestão de projetos. Veja o quadro abaixo, retirado do PMBOK (Corpo de Conhecimentos para Gestão de Projetos, do instituto PMI):


estruturas

Para um gerente funcional, a estrutura funcional é a ideal. Para um gerente de projetos, a estrutura por projeto é a melhor.

Entretanto, é praticamente impossível transformar uma organização funcional em uma organização projetizada em um tempo relativamente curto. A resistência do status quo será tão grande que pessoas propondo esse tipo de mudança serão expurgadas da organização.

O fato é que em uma estrutura funcional, a equipe possui alta fidelidade com seu gerente funcional. Em muitos casos, existe a situação onde um gerente funcional sai da empresa e leva grande parte de sua equipe junto. Esse poder com certeza será usado para impedir a transformação de uma organização de funcional para projetizada do dia para noite.


Sabendo disso, consultores de gestão de projetos adotam a técnica de “colocar só a cabecinha”, ou seja, propor a implementação de uma estrutura matricial fraca, que possui pouca resistência dos gerentes funcionais. 

Na verdade, eles gostam da ideia de ter uma área de gestão de projetos com funções basicamente administrativas, continuar controlando o orçamento do projeto e ter um gerente de projetos com autoridade limitada sobre as atividades. Nessa perspectiva, o gerente funcional pensa assim: “Que bom, esse pessoal da gestão de projetos está aqui para me ajudar a entregar projetos…”


O que muitas vezes o gerente funcional não sabe é que a implementação a estrutura matricial fraca é um passo para a implementação de uma estrutura matricial mista, provavelmente um ano ou dois anos depois. A estrutura matricial forte pode surgir também um ou dois anos depois. 

E assim, sucessivamente, há uma chance da organização se transformar em uma estrutura projetizada, que é o paraíso para gerentes de projetos. Na estrutura projetizada, o gerente de projetos tem autoridade total sobre os recursos humanos do projeto e controla o orçamento, além de se reportar aos mais altos níveis hierárquicos.

Por que eu trouxe todo esse léxico das organizações de gestão de projetos? Por que é assim que estrategicamente deve-se pensar em implementar mudanças na política pública. Assim como existem escalas de esquerdismo, existem escalas de direitismo. Um partido como o PSDB poderia ser comparado, no exemplo acima, à uma estrutura matricial fraca, enquanto o PT seria a estrutura funcional. (Lembre-se que posicionei estrutura funcional como a esquerda, e estrutura projetizada como a direita)


Hoje em dia não há espaço e nem estrutura política para que a sociedade vote em um partido de direita. Até por que os poucos políticos de direita não entendem muito de estratégia política e nem possuem suas estratégias de chegar ao poder tão organizadas como possuem os ultra-esquerdistas do PT e os socialistas fabianos do PSDB.

No mundo corporativo, o aspecto mais fundamental de uma mudança é entender de fato o ambiente onde estamos. Somente aí, elaboramos uma estratégia de mudança, mais ou menos agressiva em relação aos nossos objetivos finais.

O PT segue essa regra à risca. Veja, por exemplo, que somente agora Lula resolveu encabeçar um projeto para censurar a mídia. Mas por que ele resolveu investir tantos esforços nisso somente agora (de forma aberta) se o paradigma que ele segue sempre pediu censura à opinião divergente? Por que ele já não saiu pedindo a censura em 1980? E por que não pediu a censura em 2002? É a estratégia política, estúpido.

Diante dessa constatação, ainda temos um problema, que é o frame a ser corrigido no texto de Arthur Rizzi. Ele disse que nós não deveríamos nos entusiasmar com uma possível vitória do PSDB. Eu discordo. 

Acho que devemos continuar discutindo a política de forma dialética em nossos fóruns, mas publicamente apoiar, de forma entusiasmada, o PSDB. Da mesma forma que em território organizacional, o consultor de projetos querendo implementar a estrutura projetizada, vai apoiar, de forma entusiasmada, a implementação de uma estrutura matricial fraca. Isso por que ele sabe que se apoiar em público a implementação da estrutura projetizada, vai ser derrubado.


E se o PSDB ganhar a eleição, isso significa que devemos começar a oposição no dia seguinte? Não necessariamente. Não sabemos qual o potencial do PT em atrapalhar o governo do PSDB, assim como não sabemos o quanto o PSDB vai ceder às pressões de solicitações da direita. 

Eu iria além: para a direita, mais importante do que atrapalhar o PSDB é impedir o retorno do PT. Assim como para o consultor de gestão de projetos, mais importante é sustentar a estrutura matricial fraca implementada (antes de pensar em implementar a estrutura matricial mista) e evitar o retorno da estrutura funcional. Nós, da direita, podemos muito mais facilmente lançar uma pressão sobre o PSDB do que sobre o PT.

Estrategistas da guerra como Sun Tzu e Carl von Clausewitz já nos falavam da importância de selecionarmos nossas batalhas. Mesmo que tenhamos incorporados todos os princípios da arte da guerra, a má seleção das batalhas pode colocar tudo a perder. Entendo que hoje nós temos uma prioridade: tirar o PT do poder.

Alguns poderão achar que este blog virou PSDBista. Nem de longe, assim como um consultor de projetos implementando uma estrutura matricial fraca não se tornou um aliado dos gerentes funcionais. A implementação de uma aliança estratégica, que pode durar um bom tempo, não significa “se tornar o outro”. É por esse tipo de pragmatismo que a esquerda tem conseguido o poder que conseguiu. 

A ausência de pragmatismo por parte da direita só tem ajudado os esquerdistas em seu intento. E de uma coisa você pode ter certeza: consultores de projetos comendo pelas beiradas sempre fizeram muito mais pelos gerentes de projetos do que aqueles apressados, sempre comendo cru.

Alguns pontos, a meu ver, sobre prioridades:
  • Apoiar um partido capaz de derrotar o PT. Este partido não pode ser do Foro de São Paulo. (Logo, não pode ser o PSB. Se PSB e PSDB fizerem uma coalizão, que o primeiro seja apenas coadjuvante.)
  • Evitar que o PT escolha os próximos 1 ou 2 juízes do STF.
  • Evitar que o PT consiga censurar a mídia.
  • Propor leis que reduzam o risco de aparelhamento estatal pelo PT.
 
Minha escolha pelo PSDB acaba sendo, portanto, pragmática. E se eles ganharem, pode-se pensar até no apoio a eles em uma possível reeleição. Entendo que esse é um tempo suficiente para criarmos uma boa conscientização de direita, com muita discussão sobre estratégia política, a ponto de termos um partido de “direita moderada” ou “centro direita” capaz de vencer o PSDB. 
 
Até por que fazer oposição ao PSDB sem termos criado um partido suficientemente forte para competir com eles não adianta absolutamente nada. Assim como se for para lutar pela estrutura matricial mista e não ter criado as condições para tal, melhor continuar apoiando a estrutura matricial fraca.

Tenho plena consciência que alguns puristas não gostarão desta abordagem, mas o purismo não nasceu para conquistar resultados. 

Não foi com o purismo que o PT, o partido das grandes monstruosidades morais, chegou ao poder. Não é com o purismo que os tiraremos de lá. Para tirá-los de lá é preciso de estratégia política, e parte essencial dessa estratégia envolve a escolha adequada de nossas batalhas.

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