terça-feira, 13 de maio de 2014

Dilma: Você pode protestar contra a Copa. Desde que não proteste---Leonardo Sakamoto




“Quem quiser manifestar, pode! Mas quem quiser manifestar não pode prejudicar a Copa'', disse Dilma Roussef, nesta terça (13).


Nem sei nem por onde começar.

Primeiro, questões semânticas: o que “prejudicar'' significa para ela? É claro que ninguém em sã consciência defende que se ateie fogo em ônibus de equipe estrangeira, queimando jogadores. Mas realizar protestos que causem congestionamentos no entorno dos estádios e prejudiquem a mobilidade entra na conta da presidente? Desconfio que sim.

Vai ter Copa?
Vai ter Copa? Copa sempre tem, o problema é o preço


Ou seja, dependendo do ponto de vista, qualquer coisa pode prejudicar a Copa e, portanto, ser alvo das forças de segurança federal e estaduais.


Além do mais, considerando que a Copa será o motivo dos protestos, o que os manifestantes deveriam fazer? Ir em um “protestódromo'' e ficar gritando para as paredes?


Por fim, e talvez o mais importante, quem a presidente, governadores e prefeitos pensam que são ao dizer que a população pode ou não protestar? O direito à livre manifestação é mais importante que o mandato de qualquer um deles.


Adoro futebol – apesar de torcer para o Palmeiras e ser um goleiro de merda nas várzeas da vida. E vou acompanhar a Copa, beber e discutir inutilidades futebolísticas com os amigos. Mas isso não faz com que seja menos crítico à tragédia anunciada que foi a sua preparação.


Dilma disse que democracia não significa vandalismo, nem em prejuízo para a população para, logo depois, elogiar o novo terminal do aeroporto internacional de São Paulo.


Mas de que população ela está falando? Pois vandalismo foram os mais de 100 trabalhadores resgatados do trabalho escravo durante a construção do terminal. Ou as mortes nas obras dos estádios.

 Ou a esbórnia que é o relacionamento de empreiteiras com partidos do governo e da oposição.


E, por fim: por mais que o novo terminal de São Paulo seja importante para o país, gastar saliva elogiando obra envolvida com libertação de escravos logo nos 126 anos da Lei Áurea é o ó do borogodó.


“É uma obra excepcional. Acho de um má vontade terrível com o país.''


“Excepcional'' seria se o trabalhador não fosse sempre o elo mais fraco. “Má vontade'' é ver tudo isso e não falar nada.

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