Josias de Souza
Ninguém
esperava ver o PT liderando uma CPI para investigar a Petrobras que o
PT aparelhou. Nem seria necessário tanto teatro. Mas esse partido
construiu parte de sua história de glórias nos surtos investigativos de
CPIs como a dos Anões do Orçamento e a do PC Farias. Ou aquilo era
demagogia e a desfaçatez de hoje é a verdade do Partido dos
Trabalhadores ou aquele era o PT autêntico que, de concessão em
concessão, deu neste. Ou então tudo não passa de mais uma triste amostra
do que o tempo faz com a suposta esquerda e seus alegados princípios
éticos e morais.
Sob o comando do PT, o bloco governista atingiu no Senado a perfeição da desfaçatez. Comanda uma Comissão Parlamentar de Inquérito 100% isenta de investigação. Nesta segunda-feira, a comissão inquiriu, por assim dizer, o ex-presidente petista da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Foram três horas de levantamento de bolas. Gabrielli só precisou cortar.
Ele isentou Dilma Rousseff de responsabilidades no caso da refinaria de Pasadena. “Muitas das decisões não são decisões individuais, tomadas por ninguém. É o resultado de um conjunto de ações, do conjunto da empresa, avaliando as incertezas de longo prazo e de curto prazo. Assim foram as decisões de Pasadena.” Nesse modelo, todo mundo é responsável por tudo. E ninguém responde por nada.
Munido de auto critérios, que nenhum senador ousou contestar, Gabrielli disse que “a presidente Dilma é uma profissional de extrema competência.” Do alto de sua eficácia, Dilma afirma, hoje, que não avalizaria a compra de Pasadena se tivesse conhecido todas as cláusulas do negócio. No mês passado, Gabrielli dissera que Dilma “não pode fugir à sua responsabilidade” pela compra da refinaria. Na pseudo-CPI, ele não se apertou. Nem foi apertado.
“Evidente que ela, como presidente do Conselho, tem um papel importantíssimo, mas o Conselho debate. Qual seria a posição do Conselho em 2006? Não tenho a menor ideia. Não posso estimar, hoje, qual seria a posição do Conselho na hipótese de que a presidente demostrasse, lá em 2006 a posição que ela está defendendo hoje.” Então, tá! Ficamos assim.
Gabrielli reiterou o lero-lero segundo o qual Pasadena foi um bom negócio, transformado em prejuízo pela crise e pelos fatos. “Era também uma refinaria que estava barata, não era cara. Estava barata, porque ela foi comprada, os primeiros 50%, equivalentes a menos da metade do preço médio das refinarias por barril de destilação da época”, declarou. O que isso quer dizer? Ora, pouco importa. Uma banana, como Pasadena, não é cara. Mas também apodrece facilmente.
Neste ano da graça de 2014, disse Gabrielli, Pasadena tornou-se “uma empresa lucrativa.” Os senadores se seguraram na poltrona para não aplaudir. “Tem petróleo disponível no Texas a preço barato, leve, que pode ser processado em Pasadena”, celebrou o hipotético depoente. “Pasadena, portanto, pode, vendendo derivados no mercado ameriano, ter uma margem em torno de 30 a 40 dólares por barril. E ela tem capacidade de produzir 100 mil barris por dia”.
Alvíssaras! “Pasadena não é um prejuízo afundado, inevitável e irrecuperável para sempre.” Hosanas! A Petrobras gostaria de vender Pasadena. Mas só achou quem quisesse comprar na bacia das almas. A julgar pelas palavras de Gabrielli, logo, logo haverá uma fila de compradores.
A certa altura, o senador petista Aníbal Diniz )AC) aprumou-se, segurou o microfone e disparou uma indagação: “A quem interessa reduzir o valor da Petrobras?” Uau! Gabrielli salivou. Citou os “especuladores de curto prazo” e os políticos oposicionistas. Gente atrasada, que trama mudar a lei que fez da Petrobas a operadora única das reservas do pré-sal.
Para realçar a falta de patriotismo dos inimigos da Petrobras, Gabrielli evocou até o WikiLeaks, que, segundo ele, divulgou supostos encontros de tucanos com diplomatas norte-americanos, para tramar contra os interesses da estatal petroleira. Gabrielli disse que não pode jurar que seja verdade. Mas quem se importa com a verdade numa hora dessas?
Superfaturamento na refinaria de Abreu e Lima? Vapt-vupt. A Venezuela topara entrar no negócio, disse Gabrielli. Mas desistiu. Sem nenhum contrato assinado, a Petrobras iniciou a construção com parte do projeto destinado ao refino do óleo venezuelano, ultrapesado. “Tivemos que reformular”, reconheceu Gabrielli, sem ser incomodado por um mísero questionamento.
Sim, quem dava as cartas na subsidiária que geria Abreu e Lima era o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso até ontem num xadrez de Curutiba. Dúvidas? Indagações? Cara de nojo? Não. Nem pensar. Ora, deixa disso!
E se toda essa falta de entusiasmo com o esclarecimento das suspeitas estiver dizendo ao PT algo mais grave sobre o ponto a que chegou o governo do PT?
E se depois de 12 anos de questionamentos, o partido estiver finalmente dando uma resposta a si mesmo. O PT não é incoerente nem contraditório. Tudo se explica. A comunhão de propósitos com o Sarney, a aliança com o Renan, o convívio com o Collor… tudo isso eram apenas estágios de algo que o PT perseguiu sem saber, e agora sabe. Ah, aquela velha castidade. Ah, aquela inútil pureza ética. Oh, tempo perdido. Oh, falta de autoconhecimento.
O PT não sabia o que queria porque não sabia o que era. Agora sabe o que é e do que gosta. Eis a grande revelação da CPI isenta de curiosidade: o PT deseja provar a si mesmo que é capaz de integrar-se à baixeza comum a todos os ex-inimigos. A plateia já havia percebido desde o mensalão que, com o passar do tempo, qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.
Mas o petismo é incansável. Luta para fazer o pior o melhor que pode.
Sob o comando do PT, o bloco governista atingiu no Senado a perfeição da desfaçatez. Comanda uma Comissão Parlamentar de Inquérito 100% isenta de investigação. Nesta segunda-feira, a comissão inquiriu, por assim dizer, o ex-presidente petista da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Foram três horas de levantamento de bolas. Gabrielli só precisou cortar.
Ele isentou Dilma Rousseff de responsabilidades no caso da refinaria de Pasadena. “Muitas das decisões não são decisões individuais, tomadas por ninguém. É o resultado de um conjunto de ações, do conjunto da empresa, avaliando as incertezas de longo prazo e de curto prazo. Assim foram as decisões de Pasadena.” Nesse modelo, todo mundo é responsável por tudo. E ninguém responde por nada.
Munido de auto critérios, que nenhum senador ousou contestar, Gabrielli disse que “a presidente Dilma é uma profissional de extrema competência.” Do alto de sua eficácia, Dilma afirma, hoje, que não avalizaria a compra de Pasadena se tivesse conhecido todas as cláusulas do negócio. No mês passado, Gabrielli dissera que Dilma “não pode fugir à sua responsabilidade” pela compra da refinaria. Na pseudo-CPI, ele não se apertou. Nem foi apertado.
“Evidente que ela, como presidente do Conselho, tem um papel importantíssimo, mas o Conselho debate. Qual seria a posição do Conselho em 2006? Não tenho a menor ideia. Não posso estimar, hoje, qual seria a posição do Conselho na hipótese de que a presidente demostrasse, lá em 2006 a posição que ela está defendendo hoje.” Então, tá! Ficamos assim.
Gabrielli reiterou o lero-lero segundo o qual Pasadena foi um bom negócio, transformado em prejuízo pela crise e pelos fatos. “Era também uma refinaria que estava barata, não era cara. Estava barata, porque ela foi comprada, os primeiros 50%, equivalentes a menos da metade do preço médio das refinarias por barril de destilação da época”, declarou. O que isso quer dizer? Ora, pouco importa. Uma banana, como Pasadena, não é cara. Mas também apodrece facilmente.
Neste ano da graça de 2014, disse Gabrielli, Pasadena tornou-se “uma empresa lucrativa.” Os senadores se seguraram na poltrona para não aplaudir. “Tem petróleo disponível no Texas a preço barato, leve, que pode ser processado em Pasadena”, celebrou o hipotético depoente. “Pasadena, portanto, pode, vendendo derivados no mercado ameriano, ter uma margem em torno de 30 a 40 dólares por barril. E ela tem capacidade de produzir 100 mil barris por dia”.
Alvíssaras! “Pasadena não é um prejuízo afundado, inevitável e irrecuperável para sempre.” Hosanas! A Petrobras gostaria de vender Pasadena. Mas só achou quem quisesse comprar na bacia das almas. A julgar pelas palavras de Gabrielli, logo, logo haverá uma fila de compradores.
A certa altura, o senador petista Aníbal Diniz )AC) aprumou-se, segurou o microfone e disparou uma indagação: “A quem interessa reduzir o valor da Petrobras?” Uau! Gabrielli salivou. Citou os “especuladores de curto prazo” e os políticos oposicionistas. Gente atrasada, que trama mudar a lei que fez da Petrobas a operadora única das reservas do pré-sal.
Para realçar a falta de patriotismo dos inimigos da Petrobras, Gabrielli evocou até o WikiLeaks, que, segundo ele, divulgou supostos encontros de tucanos com diplomatas norte-americanos, para tramar contra os interesses da estatal petroleira. Gabrielli disse que não pode jurar que seja verdade. Mas quem se importa com a verdade numa hora dessas?
Superfaturamento na refinaria de Abreu e Lima? Vapt-vupt. A Venezuela topara entrar no negócio, disse Gabrielli. Mas desistiu. Sem nenhum contrato assinado, a Petrobras iniciou a construção com parte do projeto destinado ao refino do óleo venezuelano, ultrapesado. “Tivemos que reformular”, reconheceu Gabrielli, sem ser incomodado por um mísero questionamento.
Sim, quem dava as cartas na subsidiária que geria Abreu e Lima era o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso até ontem num xadrez de Curutiba. Dúvidas? Indagações? Cara de nojo? Não. Nem pensar. Ora, deixa disso!
E se toda essa falta de entusiasmo com o esclarecimento das suspeitas estiver dizendo ao PT algo mais grave sobre o ponto a que chegou o governo do PT?
E se depois de 12 anos de questionamentos, o partido estiver finalmente dando uma resposta a si mesmo. O PT não é incoerente nem contraditório. Tudo se explica. A comunhão de propósitos com o Sarney, a aliança com o Renan, o convívio com o Collor… tudo isso eram apenas estágios de algo que o PT perseguiu sem saber, e agora sabe. Ah, aquela velha castidade. Ah, aquela inútil pureza ética. Oh, tempo perdido. Oh, falta de autoconhecimento.
O PT não sabia o que queria porque não sabia o que era. Agora sabe o que é e do que gosta. Eis a grande revelação da CPI isenta de curiosidade: o PT deseja provar a si mesmo que é capaz de integrar-se à baixeza comum a todos os ex-inimigos. A plateia já havia percebido desde o mensalão que, com o passar do tempo, qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.
Mas o petismo é incansável. Luta para fazer o pior o melhor que pode.
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