O caos que o paulistano enfrentou para voltar para casa nesta terça-feira
e se repete na manhã desta quarta é fruto de uma histórica disputa pelo
comando do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São
Paulo, que se arrasta há décadas e já foi marcada por mortes e tiroteios
em eleições recentes.
Desta vez, a guerra sindical estourou porque um
grupo dissidente não aceitou o acordo aprovado pela categoria de
reajuste salarial de 10%. Os dissidentes resolveram começar uma
greve-surpresa, obrigaram motoristas a descer dos veículos, estacionaram
ônibus nos corredores e bloquearam terminais. O resultado foi o
engarrafamento recorde no ano nas principais artérias da cidade ontem –
261 km de vias travadas – e 230.000 pessoas sem transporte público na
capital.
Nesta
quarta, ônibus de cinco das nove empresas que circulam diariamente na
cidade estão estacionados, doze garagens permanecem fechadas e 14 dos
28 terminais foram bloqueados até as 13h30. O pico de congestionamento
pela manhã foi de 98 km, às 9h30, retornando aos índices normais para o
período às 10h. As regiões mais afetadas são a zonas Norte e Oeste. O
rodízio municipal de veículos está suspenso.
Em São
Paulo, a categoria é formada por 37.000 funcionários – 20.000 motoristas
e 17.000 cobradores. Antes do acordo firmado na segunda-feira, o piso
salarial dos motoristas era de 1.955 reais, e de 1.130 reais para
cobradores. Os dissidentes que não aceitam o reajuste de 10% reivindicam
aumento de até 33%.
Sem ter
uma liderança clara, o grupo promete manter a paralisação. A prefeitura
de São Paulo e o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano
de Passageiros de São Paulo afirmam que não conseguiram identificar os
responsáveis pela greve-surpresa.
O presidente do Sindicato dos
Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo
(Sindmotoristas), José Valdevan de Jesus Santos, conhecido como
"Noventa", afirma que a paralisação é política e começou com
funcionários da empresa Santa Brígida. "Acredito que há algo por trás,
que há um jogo para causar o desgaste da direção do sindicato e do
presidente."
A
entidade que representa as empresas de ônibus afirmou que acionou a
Polícia Civil para assegurar a circulação. A SPTrans disse que pediu ao
Ministério Público apuração do caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário