Publicado na edição impressa de VEJA
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
Pensemos na doutora Lúcia Willadino Braga. Ela é um antídoto contra a onda de pessimismo que assola o país. Já, já a doutora Lúcia entrará nesta história.
Fiquemos por enquanto com a onda de pessimismo. Em pesquisa divulgada na semana passada, o instituto americano Pew encontrou 72% dos brasileiros insatisfeitos “com as coisas no Brasil hoje”.
A situação econômica é ruim para 67%, e 61% acham que sediar a Copa do Mundo foi uma má decisão, “porque tira dinheiro dos serviços públicos”.
A presidente Dilma Rousseff ainda é vista favoravelmente por 51% dos entrevistados, mais do que Aécio Neves (27%) e Eduardo Campos (24%), mas ao mesmo tempo seu governo é reprovado nos itens combate à corrupção (86%), combate ao crime (85%), saúde (85%), transporte público (76%), política externa (71%), educação (71%), preparação para a Copa (67%), combate à pobreza (65%) e condução da economia (63%).
Dilma é considerada “boa influência” no país por 48% dos entrevistados contra os 84% que assim pensavam de Lula em 2010.
(Os resultados estão em http://www.pewglobal.org/2014/06/03/brazilian-discontent-ahead-of-world-cup/.)
Copa do Mundo é uma grande festa. A esta altura a euforia deveria estar reinando no país.
E o que ocorre? A presidente Dilma já mais de uma vez teve de argumentar que o legado do torneio está garantido, porque os estrangeiros não levarão os estádios e os aeroportos na mala. Com todo o respeito, presidente, é uma pena que não o façam.
Teremos de ficar nós mesmos com os estádios de Manaus, de Natal e de Cuiabá. Se os visitantes os levassem com eles, ao preço que custaram, proporcionariam algum alívio a nossas combalidas contas externas.
Os aeroportos já seriam mais difíceis de vender. Só um entre os doze da Copa, o de Brasília, estava pronto na semana passada.
Os outros apresentavam um festival de tapumes e variados improvisos, quando não um monte de terra e outro de entulho, logo à saída, como o de Cuiabá. E com o de Brasília, a joia da coroa, o que ocorria? Não resistiu à primeira chuva.
Na terça-feira, partes alagadas no solo, resultado do entupimento dos bueiros, dialogavam com goteiras no teto. Funcionários de companhias aéreas trabalhavam protegidos por lonas penduradas no teto, para aparar as águas.
Não é à toa que o pessimismo seja o sentimento dominante, nesta véspera de Copa.
Para compensar, temos a doutora Lúcia Willadino Braga, a “Lucinha” para quem, como este colunista, tem a sorte de conhecê-la. Lucinha é neurocientista com múltiplas distinções no exterior e diretora da rede Sarah de hospitais do aparelho locomotor.
A rede Sarah já é em si um milagre. Fundada pelo médico Aloysio Campos da Paz, hoje seu cirurgião-chefe, consiste num conjunto de hospitais públicos com padrão muitos furos acima do apregoado padrão Fifa.
É despudorada demagogia dizer que em vez de estádios deveríamos investir em mais hospitais padrão Sarah, mas, vá lá, sejamos despudorados: deveríamos. Lucinha é outro milagre, para muitos dos pacientes que estiveram aos seus cuidados.
Há duas semanas ela foi tema de capa da revista VEJA BRASÍLIA. As repórteres Clara Becker e Lilian Tahan contaram então uma história que começa em maio de 2010, quando a unidade carioca do Sarah foi visitada pela senhora Mozah bint Nasser Al Missned, uma das atuais duas mulheres do sheik do Catar.
A doutora Lúcia está acostumada com tais visitas. Já recebeu a princesa Diana e Michelle Obama, entre outras. Mas essa foi especial. As duas ficaram amigas, passaram a corresponder-se, e um dia veio um convite para a brasileira visitar o Catar.
Lucinha aceitou.
Partiu em outubro de 2011, claro que em primeira classe da Qatar Airways, e naquele país empenhou-se num ciclo de visitas a instituições médicas e palestras a profissionais de saúde.
No fim – surpresa – recebeu uma proposta da amiga sheika: trocar o Brasil pelo Catar. O salário estava mais para Neymar, ou pelo menos para David Luiz, do que para um reles neurocientista. Lucinha não precisou pensar. Disse não.
“Tenho um compromisso com a saúde do meu país”, justificou. Logo, se tudo der certo, e especialmente se a seleção brasileira for bem, o pessimismo que assola o país será contrabalançado, ou talvez mesmo substituído, pelo Hino Nacional cantado aos urros, como na Copa das Confederações.
Já Lucinha tem compromisso com o país. Não é engraçado?
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
Pensemos na doutora Lúcia Willadino Braga. Ela é um antídoto contra a onda de pessimismo que assola o país. Já, já a doutora Lúcia entrará nesta história.
Fiquemos por enquanto com a onda de pessimismo. Em pesquisa divulgada na semana passada, o instituto americano Pew encontrou 72% dos brasileiros insatisfeitos “com as coisas no Brasil hoje”.
A situação econômica é ruim para 67%, e 61% acham que sediar a Copa do Mundo foi uma má decisão, “porque tira dinheiro dos serviços públicos”.
A presidente Dilma Rousseff ainda é vista favoravelmente por 51% dos entrevistados, mais do que Aécio Neves (27%) e Eduardo Campos (24%), mas ao mesmo tempo seu governo é reprovado nos itens combate à corrupção (86%), combate ao crime (85%), saúde (85%), transporte público (76%), política externa (71%), educação (71%), preparação para a Copa (67%), combate à pobreza (65%) e condução da economia (63%).
Dilma é considerada “boa influência” no país por 48% dos entrevistados contra os 84% que assim pensavam de Lula em 2010.
(Os resultados estão em http://www.pewglobal.org/2014/06/03/brazilian-discontent-ahead-of-world-cup/.)
Copa do Mundo é uma grande festa. A esta altura a euforia deveria estar reinando no país.
E o que ocorre? A presidente Dilma já mais de uma vez teve de argumentar que o legado do torneio está garantido, porque os estrangeiros não levarão os estádios e os aeroportos na mala. Com todo o respeito, presidente, é uma pena que não o façam.
Teremos de ficar nós mesmos com os estádios de Manaus, de Natal e de Cuiabá. Se os visitantes os levassem com eles, ao preço que custaram, proporcionariam algum alívio a nossas combalidas contas externas.
Os aeroportos já seriam mais difíceis de vender. Só um entre os doze da Copa, o de Brasília, estava pronto na semana passada.
Os outros apresentavam um festival de tapumes e variados improvisos, quando não um monte de terra e outro de entulho, logo à saída, como o de Cuiabá. E com o de Brasília, a joia da coroa, o que ocorria? Não resistiu à primeira chuva.
Na terça-feira, partes alagadas no solo, resultado do entupimento dos bueiros, dialogavam com goteiras no teto. Funcionários de companhias aéreas trabalhavam protegidos por lonas penduradas no teto, para aparar as águas.
Não é à toa que o pessimismo seja o sentimento dominante, nesta véspera de Copa.
Para compensar, temos a doutora Lúcia Willadino Braga, a “Lucinha” para quem, como este colunista, tem a sorte de conhecê-la. Lucinha é neurocientista com múltiplas distinções no exterior e diretora da rede Sarah de hospitais do aparelho locomotor.
A rede Sarah já é em si um milagre. Fundada pelo médico Aloysio Campos da Paz, hoje seu cirurgião-chefe, consiste num conjunto de hospitais públicos com padrão muitos furos acima do apregoado padrão Fifa.
É despudorada demagogia dizer que em vez de estádios deveríamos investir em mais hospitais padrão Sarah, mas, vá lá, sejamos despudorados: deveríamos. Lucinha é outro milagre, para muitos dos pacientes que estiveram aos seus cuidados.
Há duas semanas ela foi tema de capa da revista VEJA BRASÍLIA. As repórteres Clara Becker e Lilian Tahan contaram então uma história que começa em maio de 2010, quando a unidade carioca do Sarah foi visitada pela senhora Mozah bint Nasser Al Missned, uma das atuais duas mulheres do sheik do Catar.
A doutora Lúcia está acostumada com tais visitas. Já recebeu a princesa Diana e Michelle Obama, entre outras. Mas essa foi especial. As duas ficaram amigas, passaram a corresponder-se, e um dia veio um convite para a brasileira visitar o Catar.
Lucinha aceitou.
Partiu em outubro de 2011, claro que em primeira classe da Qatar Airways, e naquele país empenhou-se num ciclo de visitas a instituições médicas e palestras a profissionais de saúde.
No fim – surpresa – recebeu uma proposta da amiga sheika: trocar o Brasil pelo Catar. O salário estava mais para Neymar, ou pelo menos para David Luiz, do que para um reles neurocientista. Lucinha não precisou pensar. Disse não.
“Tenho um compromisso com a saúde do meu país”, justificou. Logo, se tudo der certo, e especialmente se a seleção brasileira for bem, o pessimismo que assola o país será contrabalançado, ou talvez mesmo substituído, pelo Hino Nacional cantado aos urros, como na Copa das Confederações.
Já Lucinha tem compromisso com o país. Não é engraçado?
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