Blog do Sombra
Principal conselheiro econômico do presidenciável tucano Aécio Neves, o
ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirma que a debilidade do
crescimento da economia leva o Brasil a flertar com o flagelo do
desemprego:
“A semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a
economia não está crescendo”, disse ele, em entrevista à repórter
Claudia Safatle, do Valor. O economia defende um ajuste gradual da
economia. Vão abaixo algumas das suas observações:
Desemprego: A semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a
economia não está crescendo. Para reduzir a inflação e evitar o
desemprego será necessário afetar as expectativas. Falta hoje
transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade
fiscal e com inflação na meta. O ritmo de queda terá que ser avaliado à
medida que fique claro o tamanho do atraso em alguns preços...
— Salário mínimo cresceu demais? Acho os salários no Brasil
ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco
produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos
salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários
parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país
pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo.
O
salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está
nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país
não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão
interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito
pela inflação.
— Aécio comete sincericídio ao prever medidas amargas? Sincericídio,
acho que não. É um pouco de honesticídio, isso sim. Temos que cair na
real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se
não crescer, as frustrações vão aumentar.
Estudiosos como o Ricardo Paes
de Barros e o Marcelo Neri [ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos] têm escrito e dito ao longo dos anos que um percentual
alto da queda da pobreza e da redução da desigualdade veio do
crescimento.
Do crescimento. Não é do programa distributivo, do Bolsa
Família. Você está falando com alguém que não tem vergonha de dizer que é
um liberal com coração. É importante o país crescer e é importante
gastar melhor, sim.
— Inflação: Os preços dos alimentos crescem a dois dígitos. As pessoas
sabem que há preços congelados e que isso não dura muito. Esse filme
todo mundo conhece e quem é novo e não conhece fala com os pais, com os
avós. Quando vem o aumento é com juros e correção. Não adianta nada.
— Projeção inflacionária para 2015: O mercado está com um número de
consenso […] acima de 7%. Se fizer uma correção parcial evita-se esse
primeiro choque, mas fica uma conta a ser paga ao longo do tempo.
Atrasar não significa resolver. Eu ainda não tenho opinião formada.
Apesar de eu estar assessorando o senador Aécio Neves, não estou
pensando nisso agora. Acho que não está na hora.
— Transparência: A realidade é o que é. É preciso, para início de
conversa, mostrá-la e discutir a resposta que se quer dar. Tem que
trazer esse grau de segurança e trazer a inflação para a meta – não da
noite para o dia, mas colocá-la em uma trajetória crível de queda. A
inflação está há muitos anos lá em cima, apesar de reprimida.
— Juros: […] Uma economia arrumada vai ter juros caindo para uma taxa
mais normal. O juro é o que é. Não é fruto da vontade direta de ninguém,
mas pode-se construir as condições para o país ter juros normais.
— Superávit primário: O superávit arrumado, bem medido, hoje está
próximo de zero. Tem que ter superávit para estabilizar a dinâmica da
dívida e tirar isso da cabeça das pessoas.
— Conjuntura de 2014: A economia está fraca, assustada e muito
defensiva, com pouco investimento e pouca ousadia. A incerteza tem uma
dimensão macroeconômica ligada ao baixo crescimento, à inflação alta e
ao déficit em conta corrente; e uma dimensão mais micro, que afeta cada
setor de uma maneira diferente. Mas, no geral, assusta, com raízes
importantes no setor elétrico, de petróleo, que não são os únicos, mas
são os principais. Esse quadro precisa ser abordado de maneira clara e
isso não está acontecendo.
— Estado perdeu capacidade de investir? Perdeu ou sei lá se tinha. O
fato é que no momento não demonstra ter. O Brasil não investe não é de
hoje. Só que na infraestrutura hoje as necessidades são gritantes.
Talvez há 10 ou 20 anos, não fossem. O quadro foi se agravando. O
governo, quem quer que seja o próximo presidente, terá que dar uma
virada caprichada nessa área.
— Crescimento via consumo interno se esgotou? A fase de crescimento
acelerado do consumo pode ter ficado para trás porque o PIB não está
crescendo, as famílias se endividaram bastante e os juros estão subindo.
Mas há um espaço enorme para o consumo crescer. Só que a renda tem que
crescer junto, o custo do capital tem que cair e os prazos têm que se
alongar.
— Como reduzir repasses do Tesouro para o ‘bolsa empresário’ do BNDES?
Gradualmente. Não sei para que nível ele deve voltar e acho que essa é
uma discussão mais ampla sobre o que o país precisa, quanto custa etc.
Não acredito em tratamento de choque, a não ser de transparência para
poder respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar com segurança
uma taxa de inflação mais baixa. Eu começaria por aí.
O resto é guerra
de guerrilha. Vai ter que ter um número de frentes de trabalho, pessoas
buscando soluções, manter a capacidade do Estado de exercer seu papel de
fiscalizador, regulador, e que não iniba e abra mão de trazer capital
interno e externo, mais interno até. A poupança interna vai ter que
aumentar com o tempo.
Fonte: Blog do JOSIAS DE SOUZA - 16/06/2014 - - 09:47:32
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