IstoÉ
Desde que a pesquisa ISTOÉ/Sensus, publicada no início de maio, revelou pela primeira vez que a sucessão presidencial caminha para ser decidida em segundo turno, o comando da campanha de Dilma Rousseff impôs à presidenta um novo ritmo.
Durante todo o mês de maio e nos primeiros dias de junho, Dilma intensificou as entrevistas para as redes de tevê, manteve encontros com empresários, varejistas e entidades ligadas à educação.
Anunciou pacotes de bondades para 56 setores da economia, viajou para diversos Estados, entregou máquinas agrícolas e ambulâncias para prefeituras e inaugurou uma sucessão de obras, nem todas acabadas.
Todo o esforço, no entanto, não foi suficiente para reverter a tendência de queda na preferência do eleitorado.
A nova pesquisa ISTOÉ/Sensus realizada entre 26 de maio e 4 de junho mostra que a presidenta Dilma Rousseff caiu 1,8% em relação ao levantamento anterior, passando de 34% para 32,2% das intenções de voto, num cenário em que os chamados candidatos nanicos também são colocados. Trata-se de uma queda no limite da margem de erro de 1,4%.
A pesquisa que ouviu cinco mil eleitores em 191 municípios de 24 Estados também mostra a tendência de crescimento da principal candidatura da oposição.
Segundo o levantamento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) saltou de 19,9% para 21,5%, também no limite da margem de erro.
“As variações não são grandes, mas são significativas na medida em que traduzem uma migração de votos para a oposição”, diz Ricardo Guedes Ferreira Pinto, diretor do Sensus.
Num cenário em que são apresentados aos eleitores apenas os três principais candidatos (Dilma, Aécio e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos), a presidenta cai de 35% para 34% das intenções de voto.
Aécio varia de 23,7% para 24,1% e Campos sai de 11% para 11,3%. O número de indecisos ou dispostos a votar em branco aumenta 0,3%, passando de 30,4% para 30,7%.
“Esses dados, embora ainda bastante discretos, indicam que a candidatura de Dilma pode estar começando a perder votos para Aécio”, avalia Guedes. A mesma situação foi verificada em pesquisas qualitativas feitas pelo PSDB nas últimas semanas.
E, com base nesses dados, os tucanos planejam manter a estratégia de crítica pesada ao governo durante as semanas da Copa.
Os caciques da campanha do PSDB avaliam que o anúncio do candidato a vice na chapa de Aécio pode representar o mais importante fato político durante o Mundial de Futebol e assim esperam que as próximas pesquisas tragam um crescimento mais forte da candidatura do senador.
Além disso, os tucanos planejam ampliar a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao lado de Aécio.
As pesquisas em poder do partido mostram que a preocupação com a volta da inflação é a principal responsável pela migração de votos de Dilma para Aécio e FHC representa a vitória contra a inflação.
MARINA
A ex-senadora dificulta alianças de Campos em Estados como
São Paulo e Minas, mas afirma que as convergências
são maiores que as divergências
Pelo lado do governo, a estratégia atual consiste em manter uma agenda intensa de viagens e de inaugurações. O temor é o de que eventuais problemas de organização na Copa possam prejudicar a presidenta.
Segundo a pesquisa ISTOÉ/Sensus, os brasileiros dão nota 4,7 para a organização do torneio, 60,1% entendem que nos próximos dias vão ocorrer protestos e manifestações com maior intensidade e 56,8% são favoráveis às manifestações.
De acordo com Guedes, a última pesquisa ISTOÉ/Sensus traz uma outra variação importante quando avalia a atuação do governo. Pelo levantamento, o índice de eleitores que julgam a gestão de Dilma como positiva saltou de 29,6% para 34,2%. O problema é que o número de pessoas que classifica a gestão como péssima cresceu de 31,9% para 34,6%.
Diminuiu o percentual daqueles que consideram o governo regular (34,2% no início de maio e 29,1% no começo de junho). “Os dados mostram que há uma radicalização. Ou seja, o eleitor ama ou odeia o governo e isso é ruim para a candidatura da situação”, diz Guedes.
Para tentar reverter esse quadro, na última semana o comando petista decidiu intensificar a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos horários publicitários do partido para fazer a defesa do governo e tentar mais uma vez transferir sua popularidade para a presidenta Dilma.
O comando da pré-campanha de Dilma também buscará a partir desta semana uma maior proximidade com o chamado voto evangélico.
O partido entende que o crescimento da candidatura do pastor Everaldo, pelo manico PSC, tire mais votos de Dilma do que dos principais candidatos da oposição.
PRESTÍGIO
As presenças cada vez mais intensas de Lula (acima) e FHC na
disputa eleitoral ajudam a acirrar a polarização entre PT e PSDB
A pesquisa ISTOÉ/Sensus também aponta para uma série de dificuldades na campanha de Eduardo Campos (PSB).
Os dados, segundo Guedes, indicam que o ex-governador de Pernambuco não conseguiu atrair os votos de Marina Silva (Rede) e pode até ter perdido votos daqueles que não simpatizam com a ex-senadora.
No cenário em que são colocados também os candidatos dos chamados partidos nanicos, Campos cai de 8,3% para 7,5% Um resultado que tende a tensionar ainda mais o ambiente no núcleo da campanha.
As divergências entre o PSB e a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, começaram a ficar evidentes durante as negociações para a montagem de palanques estaduais. Marina tem seus candidatos preferidos e resiste a se aliar com tucanos em diversas cidades.
Anunciou que não vai subir no palanque de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, apesar do apoio do PSB ao candidato. Marina também resiste a receber apoio de empresários de diversos setores e tem dado declarações criticando potenciais aliados.
Para simpatizantes da candidatura de Campos e integrantes da linha de frente da candidatura socialista, as divergências entre os dois são os principais motivos para a dificuldade de fazer o PSB decolar nas pesquisas.
“A Marina é a causa para o Eduardo seguir patinando. Uma pena”, resume o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), que declarou apoio a Campos, apesar de seu partido ter decidido manter-se na chapa nacional ao lado de Dilma.
Diante das críticas, a dupla precisou reafirmar a aliança.
Na semana passada, Marina deu declarações dizendo que os principais projetos em comum os mantêm unidos e o principal deles é o de tentar acabar com a polarização entre PT e PSDB.
Campos, por sua vez, concedeu uma coletiva afirmando que as declarações de Marina contrárias a algumas alianças não trazem novidades, e que as diferenças para decidir palanques estaduais já eram esperadas.
“Se num Estado ou outro não vamos estar juntos, é uma questão meramente estadual. Nada a ver com aliança nacional, que é muito maior”, disse ele, tentando afastar os boatos de que estaria encomendando pesquisas para analisar a força da sua candidatura sem a presença de Marina Silva.
Nos cenários de segundo turno, a última pesquisa ISTOÉ/Sensus confirma o crescimento da oposição.
Numa eventual disputa de Dilma com Campos, a diferença a favor da presidenta que era de 14,4% em maio, caiu para 10,6% no início de junho. Com Aécio a queda é de 6,7% para 5,1%.
Um resultado que surpreendeu as lideranças do PT. Isso porque nas últimas semanas a presidenta privilegiou agendas em Minas. Este ano, Dilma esteve sete vezes no reduto de Aécio, duas delas no último mês.
Também passou por São Paulo, o principal bunker do PSDB e maior colégio eleitoral do País. A maior presença da presidenta no Sudeste, porém, não foi suficiente para mudar o cenário eleitoral.
A pesquisa ISTOÉ/Sensus revela que na região o preferido pelo eleitor é o tucano, com 29,7% dos votos, contra 24,8% de Dilma.
VOTO RELIGIOSO
Candidatura do Pastor Everaldo pelo PSC obriga o
PT a buscar um discurso para atrair o voto evangélico
“A pesquisa mostra um cenário favorável à oposição.A leitura conjunta da tendência de queda da presidenta com a radicalização em torno da aprovação ou não de sua gestão indica que o eleitor não visualiza na candidatura do governo a esperança de mudança”, diz Ricardo Guedes.
O diretor do Sensus, porém, avalia que após a Copa as tendências tendem a se consolidar. Hoje, segundo a pesquisa, 56,9% dos eleitores estão interessados na eleição. Depois do Mundial de futebol esse número será bem maior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário