segunda-feira, 16 de junho de 2014

Como tratar um presidente


Depois que a presidente Dilma foi vaiada e recebeu diversos carinhosos VTNCs [carinhosos nem tanto, mas merecidos, com certeza] no jogo de abertura da Copa, muitas pessoas estão exigindo respeito à presidente. Mas somos brasileiros. Não temos a tradição de respeitarmos nossos presidentes. E, sendo eles o que são, não há mesmo motivo para respeito.

Faz sentido que um americano sinta alguma emoção diante da estátua gigantesca do presidente Lincoln no Lincoln Memorial. Mas quem sentiria alguma emoção diante de uma estátua gigantesca de José Sarney? Todo cargo de autoridade deve ser tratado com as costas da mão; com suspeição e desprezo. Na verdade, nossa melhor tradição é tratarmos nossos presidentes com desrespeito. Isso os mantém mais ou menos (muito mais ou menos) no lugar devido.

Ao se candidatarem para o cargo, eles sabem que vão ser despidos à força de qualquer dignidade humana. É parte da natureza do cargo. Eles pouco se importam com isso. Eles não precisam de dignidade; o poder lhes basta. Presidentes sulamericanos não devem ser respeitados. Seria como respeitar um cantor de pagode.  
 
 
Eles nem saberiam o que fazer com respeito - ficariam nervosos. Suspeitariam de ironia. É possível até que se sentissem insultados.

Desde o golpe da República todos os presidentes brasileiros foram tratados como se fossem presidiários que escaparam da cadeia através de bueiros e apareceram de repente no seu quintal, cobertos de fezes e brandindo uma faca. E isso está muito certo, porque é isso mais ou menos que eles são. Para perceber a verdade disso, sugiro o seguinte exercício de imaginação:

Imagine durante um instante todos os trinta e quatro presidentes do Brasil, enfileirados num lado de uma sala. De Deodoro a Dilma, todos de pé. E vamos tirar as roupas deles para que ninguém os identifique por faixas presidenciais, medalhas etc. Todos nus.

Agora imagine, na outra ponta da sala, uma fila de homens que foram catados às pressas na rua para fazer uma participação num filme pornô. Pelados, nervosos, flácidos, esperando o momento de participar do recorde mundial de gang-bang ("Shaylene Ramirez Atende 300 Homens em Uma Só Noite!!!").

Como diferenciar um grupo do outro? Pela autoridade natural? Pela dignidade do porte? Se fôssemos usar esses critérios, fatalmente apontaríamos para os voluntários do filme pornô.  
 
 
[a menção aos 34 presidentes comporta algumas exceções: mereceriam, com louvor e mérito,  estarem alinhados todos os presidentes do Brasil - do primeiro à atual - devendo ser excluídos os dois primeiros, também os do Governo Militar e Itamar Franco e uma ou outra exceção (não mais de três) dos que ocuparam a presidência no período entre Deodoro a João Goulart. 
 
As exceções se justificam por se tratar de presidentes que dignificaram o cargo que ocupam, os demais, em sua maioria, aviltaram a dignidade da presidência da República.]  

Fonte:  Blog do Alexandre Soares Silva
 

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