Por Chico Sant’Anna
Inaugurado duas vezes pelo governador Agnelo Queiroz, uma em 02/04/2014, e a outra, acompanhado da presidente Dilma, em 13/06/2014, o sistema de transporte coletivo Expresso DF (ou BRT) não garante acessibilidade a seus usuários, além de manter várias paradas fechadas ao uso dos passageiros.
O mais grave se revela agora: pelo menos duas nascentes d’água foram afetadas pelas obras do sistema.
Os serviços deveriam ter sido entregues em é dezembro de 2013, depois mudaram a data para junho deste ano. Mas trinta dias após o prazo limite do segundo adiamento, várias paradas estão fechadas ou inacabadas.
Isso, sem falar que parte do trajeto, que passaria pela Candangolândia, rumo a Estação Asa Sul do Metrô, só agora deverá ter suas obras iniciadas.
A via expressa do BRT se revelou duplamente agressora do meio-ambiente. Primeiro, com a retirada de várias árvores e espécimes nativas do cerrado. E agora se descobre a existência de agressão a nascentes existentes na região do Park Way e do Gama, áreas consideradas de preservação ambiental (APAs).
Nascentes expostas
Pelo menos, em duas localidades ao longo da via expressa do BRT, água de nascentes estão correndo em valas e canaletas a céu aberto.
No caso do Park Way, uma lagoa de contenção foi construída próxima à Metropolitana, mas o volume de água é tão grande, que ela transborda, gerando erosão e levando terra que já encobre os trilhos da linha férrea que passa no local. Um lamaçal se formou próximo ao conjunto 2, da Quadra 6.
Próximo ao Campus da UnB, no Gama, um verdadeiro riacho brotou da terra, depois que as máquinas do BRT fizeram os serviços de terraplanagem no local. O fato foi denunciado, em 31 de maio, nas redes sociais, pelo movimento Mobilização Popular em Defesa do Parque Urbano e Vivencial Gama/DF, mas até agora nenhuma providência foi tomada. E este bem precioso que é a água, está sendo desperdiçado, enlameando as proximidades das estações e servindo de berço para focos da Dengue.
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Não há nenhum projeto de uso deste manancial. Nem mesmo para fins paisagísticos. O medo dos moradores é com o período das chuvas. “Se na seca já é grande o volume d’água que corre, como ficará na época das chuvas?” -perguntam eles.
Para tentar canalizar a água que brota no solo, valas e canaletas foram construídas. São verdadeiras trincheiras que impedem os passageiros alcançarem as passarelas que dão acesso às estações de ônibus.
Na Estação Vargem Bonita, em frente às quadras 7 e 26, do Park Way, uma tábua foi colocada no local e serve de pinguela para a travessia dos passageiros que se destinam em direção a Quadra 7 do Park Way. Depois da aventura de se equilibrar na tábua solta, um largo trecho de terra e um degrau de quase 20 centímetros de altura se apresentam como outros desafios de acessibilidade.
Se a travessia já é perigosa para uma pessoa em condições normais, ela é impossível para cadeirantes e deficientes físicos.
De maneira geral, não há urbanização ao redor das estações do BRT. O usuário do transporte coletivo que provem das quadras existentes às margens da EPIA é obrigado a atravessar montes de barro, saltar buracos e enfrentar restos de obras. Há até tubos com fiação elétrica exposta que saem do solo.
No Gama, diversas estações não possuem iluminação pública, seja nas adjacências, seja no interior das paradas. Segundo levantamento feito pelo Blog Gama Livre, no trecho entre a cidade do Gama e o início do Plano Piloto, a exceção das paradas existentes no Mercado das Flores (Núcleo Bandeirante) e na entrada do Gama, a escuridão domina em todas as demais estações.
A situação expõe os passageiros ao perigo de acidentes, além de estimular meliantes a assaltarem os usuários do sistema. “O perigo espreita, o medo reina. Há uma estação, a do Balão do Periquito, que é iluminada apenas pelas luzes dos postes da via, e pelas luzes vindo de um supermercado que há em frente” – afirma o blog.
Veja a vídeo-entrevista:
Mobilidade Urbana: as soluções para Brasília
Paradas fechadas
Mesmo após duas inaugurações, várias estações de passageiros estão fechadas. Muretas de concreto cercam as paradas impedindo que os ônibus nelas possam pegar passageiros. Estes continuam a usar o tradicional serviço de ônibus e, para surpresa de muitos, voltar a utilizar os velhos ônibus, que estão voltando a circular embora muitos acreditassem já estarem aposentados.
A outra grande reclamação, principalmente dos moradores da quadra 14 do Park Way e daqueles que tem interesse em ir ou voltar do aeroporto, é a falta de paradas de ônibus. Entre a Floricultura do Núcleo Bandeirante e o início da Asa Sul não existe uma única parada de ônibus. Os ônibus seguem direto sem pegar ou deixar passageiros. São cerca de oito quilômetros – mais longo do que toda a Avenida W.3 Sul -, sem uma única estação sequer.
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