14/04/2014
às 16:44
Governantes
têm o direito de mentir? A resposta é “não”. Nem que seja sob o
pretexto de “salvar a nação”. Na vida pública, não existe mentira
virtuosa. Quando muito, pode existir a omissão prudente.
Dou um exemplo:
se o ministro Guido Mantega vislumbrar pela frente uma escalada
inflacionária, se indagado a respeito, ele não tem de confirmar nem de
se estender a respeito, ou haverá o efeito óbvio: como a economia se
move, em parte, por expectativas, ele poderia piorar a situação se
dissesse a verdade.
Poderia, no discurso, omitir esse vislumbre para não
piorar o que já seria ruim. Mas é certo que não poderia afirmar o
contrário dos fatos. A mentira, na vida pública, é trapaça contra o
interesse coletivo.
Nesta
segunda, a presidente Dilma participou da inauguração de navios
petroleiros no porto de Suape, em Pernambuco, terra de um de seus
futuros adversários na disputa presidencial, Eduardo Campos. E resolveu
deitar falação sobre a Petrobras, segundo leio na Folha.
Afirmou: “Não hesitarei em combater o malfeito, a ação criminosa,
corrupção ou ilícito de qualquer espécie. Mas também não ouvirei calada a
campanha negativa, por proveito político, em ferir a imagem dessa
empresa que o povo construiu com suor e lágrimas”.
Há duas
verdades aí e duas mentiras. Primeira verdade: a Petrobras está eivada
de malfeitos, ações criminosas, corrupções e ilícitos. Segunda verdade: a
empresa foi construída com o suor e lágrimas dos brasileiros. Ainda que
Dilma esteja plagiando Churchill, isso é verdade.
Primeira mentira: a
presidente hesitou, sim, em defender a Petrobras, tanto que deixou de
apurar a compra da refinaria de Pasadena e ainda deu emprego para o
executivo que, segundo ela própria, foi o responsável pela operação.
Segunda mentira, não existe campanha nenhuma contra a empresa. Campanha
contra a Petrobras fazem os larápios que lá estão incrustados.
Mas Dilma
foi mais longe na impostura. Disse ainda: “Desde o início da empresa,
teve gente sendo contra, dizendo que não havia petróleo no Brasil.
Depois, mudaram o discurso, e chegaram a dizer que havia petróleo demais
para ser controlado por uma empresa pública.
Era uma forma sorrateira
que prepararam para a Petrobras parar em mãos privadas. Foi um processo
tão requintado, que foi interrompido pela pressão externa, que chegaram a
fazer a troca do nome da empresa. Queriam chamar ela de ‘Petrobrax’,
sonegando a sílaba que é nossa identidade. Bras, de Brasil”.
É a
mentira mais escandalosa de todas. Desafio Dilma e o PT a apresentar uma
miserável evidência de que se tentou privatizar a Petrobras.
Privatizada ela está hoje: transformou-se numa soma de feudos,
distribuídos entre partidos políticos: PT, PP, PMDB, PTB… Eles vão
usando a estatal para cuidar de seus próprios interesses.
Em sua fala,
Dilma sugeriu que as sem-vergonhices na estatal são ações isoladas,
coisas deste ou daquele. Mentira também! O PT está afundando a Petrobras
porque usa a estatal para distribuir prebendas políticas e para manter
unidos os partidos da base aliada.
Venham cá:
por que vocês acham que um partido político quer tanto ter direções de
áreas técnicas de estatais? Como é que isso poderia ajudar a legenda? A
resposta é simples: essa diretoria, fatalmente, terá de comprar coisas,
de construir obras, de contratar serviços e consultorias. O dinheiro sai
da corretagem.
Privatizada,
no sentido mais vagabundo da palavra, que é o único que o PT conhece —
já que execra o virtuoso —, a Petrobras está hoje. Ela precisa voltar a
ser uma empresa pública.
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