Eu e minha mania de só dar boa notícia. Está ficando difícil, confesso, pois cada vez temos mais desafios a enfrentar e eles vêm de todas as partes. Por isso mesmo resolvi divulgar algo que vale a pena.
O assunto não é de meu domínio, pois não sou conhecedora de vinhos. Por isso, os enólogos e enófilos que me perdoem se usar termos de forma imprecisa. Mas, o que quero mostrar é que é possível ser "bio correto" e ainda lucrar.
Visitei recentemente uma vinícola na região de Pouillac, a menos de uma hora de distância de Bordeaux na França. O "terroir" Chateau Pontet-Canet existe há séculos e galgou qualidade com o passar dos tempos, até receber a certificação de "Grand Cru Classé", anseio máximo de qualquer produtor de vinhos.
Este Chateau foi comprado pelo Guy Tesseron e seus filhos Alfred e Gérard, que contrataram um diretor técnico em 1989, Jean Michel Comme por conta de seus conhecimentos sobre produção orgânica. Algum deles, ou todos, são visionários, pois resolveram inovar e se tornar modelo de produção sustentável.
Transformaram a plantação no que chamam de biodinâmica, ou orgânica, ao abolirem agrotóxicos e aditivos químicos. Controlam o solo com elementos naturais, o que trouxe benefícios às uvas muito além do que esperavam. Experimentaram, a princípio, em 14 hectares em 2004 e 2005. O resultado foi tão positivo que estenderam a prática a toda a propriedade em 2006.
A biodinâmica é inspirada nos ensinamentos de Rudolph Steiner, que no início dos anos de 1900 já se preocupava com a perda da diversidade biológica e com a qualidade ambiental. Sua concepção é de que todos os elementos fazem parte do planeta, que por sua vez compõe o universo. Assim, tudo precisa ser bem mantido, cuidado e tratado como parte do todo.
Os fazendeiros que aderem a esses princípios respeitam as estações e os ciclos da natureza, e prestam especial atenção às fases da lua para plantarem, podarem e colherem. Segundo as informações do próprio site do Chateau, os maiores vendedores de vinho da Inglaterra já aderiram a esse critério do momento certo para cada processo, inclusive para se provar o vinho e vendê-lo pelo seu melhor preço.
É importante notar, os franceses já têm uma certificação que chamam de "bio" e, por lá, cada vez mais se propaga a ideia de consumir o que é natural e sem agrotóxicos. Os mercados estão repletos de produtos com rótulos "bio" e a procura parece aumentar exponencialmente.
As sobras na colheita das uvas no Chateau Pontet-Caneé são usadas para compostagem, o que melhora o solo. O que antes era jogado fora, agora se torna matéria orgânica.
Xô trator, de volta às carroças
"Ao
utilizar máquinas para arar a terra, os proprietários e os técnicos
perceberam que esta prática compactava o solo e, assim, prejudicava a
penetração da água da chuva"
|
Viajaram, então, aos Estados Unidos para aprender como os Amish (grupo religioso que mantém tradições centenárias) empregam os cavalos para todo o processo do plantio à colheita.
A partir daí, a equipe do Chateau desenhou carroças capazes de desenvolver as tarefas necessárias, e assim aboliram os tratores, que prejudicavam o solo e as raízes de suas valiosas uvas.
O que chama a atenção? Primeiro, a vontade de empresários bem sucedidos ousarem novos caminhos que contribuem para o ambiente, o planeta e, também, mas poderia não ter sido assim, para as suas contas. Segundo, e talvez mais importante, é divulgar casos de empreendimentos que pensam em longo prazo.
Isso, infelizmente, não é comum nos governos, que têm preocupações limitadas aos curtos períodos de mandatos, e mesmo no setor empresarial onde o lucro guia a maioria das decisões. Por isso, um caso como o do Chateau Pontet-Canet merece ser divulgado, pois demonstra que é possível grande sucesso em ganhar dinheiro com a adoção de práticas de sustentabilidade.
Boas práticas são ou podem ser lucrativas. E por muito tempo, pois garantem a produção por períodos continuados! Ao que tudo indica, esses senhores do Chateau Pontet-Canet nunca foram tão bem sucedidos como agora. O Pontet-Canet tirou nota 100 nos anos de 2009 e 2010 pela qualidade do vinho que produziu. Prova que vale a pena ser "bio".
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