15/04/2014
às 6:14O SBT cedeu à pressão, ao alarido e à gritaria dos censores em tempos democráticos e decidiu proibir os comentários da jornalista Rachel Sheherazade.
Os autoritários, os imbecis e os esquerdopatas estão
felizes.
São, ademais, mentirosos porque fingem uma indignação que não
têm para alimentar os preconceitos que têm.
Na origem da polêmica, está
um comentário que Sheherazade fez no ar quando um jovem assaltante foi
detido por moradores e atado a um poste. Já escrevi um post a respeito no dia 10 de fevereiro. Embora eu não endosse o comentário da jornalista, É UMA MENTIRA ESCANDALOSA QUE ELA TENHA APOIADO AQUELE TIPO DE TRATAMENTO.
Ela disse
outra coisa. Afirmou que, numa sociedade em que o estado é omisso e em
que a violência se dissemina, é “compreensível” aquela atuação da
população. Dias depois, diga-se, o rapaz foi detido novamente por suas
vítimas habituais. Para não apanhar, começou a gritar: “Eu sou o do
poste. Sabe com quem está falando?”. Ele sabia que os cretinos
deslumbrados o tinham tornado uma celebridade.
Certamente
haverá um bando de tontos, inclusive no meio jornalístico, aplaudindo a
decisão, sem se dar conta de que está botando a própria cabeça na
guilhotina. É mentira que Sheherazade esteja sendo punida por aquela
opinião. Ela está sendo calada porque não emite, na TV, pontos de vista
considerados consensuais; porque não lustra os preconceitos
politicamente corretos que tomam conta da TV aberta; porque não segue,
enfim, a manada.
Vocês já
se deram conta do vocabulário que se tornou usual nas TVs brasileiras —
sem exceção — a partir das 21h? Temas de relativa complexidade moral —
de dilemas éticos à questão da sexualidade — são levados em cena aberta,
e é certo que há crianças do outro lado da tela, não é?
Ah, mas em
matéria se sexualidade, de formação familiar, de consumo de drogas, de
desassombro vocabular, mesmo quando, reitero, há crianças envolvidas
inclusive nas cenas, aí somos todos libertários; aí ninguém quer correr o
risco de parecer reacionário; aí a mãe pode levar o filho para o
ambiente em que mantém flertes lésbicos. Afinal, o que é que tem?
Lesbianismo é comum.
E não
serei eu aqui a dizer que seja incomum, não é? Não estou defendendo
censura nenhuma, antes que algum bobalhão leia que o que não está
escrito. Eu já disse que não brigo com TVs, com programas de humor na
Internet, com nada disso. Defendo apenas que se desligue a TV e que não
se veja o tal programa. E pronto!
Mas sigamos. Aprendi, dada a educação
moral e cívica ora em vigência, que um gay esmagado pelo pai pode
sequestrar e jogar uma criança no lixo, tentar matar uma pessoa,
financiar o sequestro dessa mesma criança; chantagear, extorquir, fazer o
diabo.
Se ele descobrir o amor verdadeiro e se isso significar a adesão
da maior emissora do país a uma causa “progressista”, tudo vale a pena.
O bandido merece perdão. Já a bandida heterossexual morre eletrocutada
numa cerca para deixar de ser safada. O pai homofóbico termina seus dias
babando e dependendo daquele a quem tanto hostilizou. Quem mandou ser
tão malvado e, em certa medida, literalmente cego de heterossexualismo e
machismo? E não duvido que muitas mulheres tenham achado “liiinda” a
novela misógina. O Brasil está ficando burro.
Essa mesma
televisão, no entanto, não pode comportar as opiniões de Rachel
Sheherazade. Quais opiniões? Aquela de que é “compreensível” que a
população se revolte e decida fazer justiça. Não! Ninguém nem está
ligando pra isso. O problema são as outras opiniões que ela tem. Se há
manifestantes violentos nas ruas, em vez de ela verter a baba adesista,
tão comum hoje em dia, ela critica; se bandidos cometem atrocidades, em
vez de ela se compadecer com a suposta origem social da violência — uma
mentira! —, ela pede cadeia; se há invasão de propriedade privada, em
vez de ela se solidarizar com invasores, deixa claro que aquele não é o
caminho.
Isso não
pode! Sheherazade poderia estar emitindo opiniões com esse conteúdo em
qualquer democracia do mundo. Não na nossa! Na nossa democracia, todos
têm de estar alinhados com os cânones do pensamento politicamente
correto. Ou não pode trabalhar. Vejam os debates sobre os 50 anos do
golpe militar de 1964. Eu falei “debates”? Uma ova! Não houve! Ao
contrário: sob o pretexto de que todos defendemos a democracia, o que se
viu nas TVs foi um espetáculo de mistificação. Mais um pouco, João
Goulart só não foi chamado de competente…
PCdoB e PSOL
PCdoB e PSOL resolveram recorrer ao
Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça da
jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade
oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que
defendem a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que
defendem regimes que prendem pessoas por delitos de opinião? Que se
alinham com as milícias bolivarianas?
Quem vai
dar aula de tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali?
O partido que, até outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com
ONGs de mentirinha para enfiar a mão no dinheiro público? Que ainda não
perdoou Krushev? Nem chego a considerar a tal Jandira um ser da nossa
era! Espero que ela não tente me calar também!
Muito bem!
Agora Sheherazade não vai mais emitir opiniões. O Brasil ficou melhor
por isso? Teremos, agora, mais liberdade de expressão? A verba
publicitária oficial pode ser usada por veículos de comunicação que
defendem abertamente a roubalheira havida na Petrobras, mas não poderia
ir para o SBT porque havia lá uma jornalista que dizia coisas incômodas.
Considerando o padrão da TV aberta brasileira, Sheherazade é que virou
um problema?
Mostrar o traseiro e o bilau em reality show pode, mas
afirmar que a população, sem estado, acaba fazendo justiça com as
próprias mãos é proibido? Engraçado! Na democracia americana, a bunda e o
bilau na TV abertas seriam proibidos, mas a opinião política é livre.
Vai ver é por isso que os EUA são os EUA, e o Brasil é o Brasil. Na
novelas das nove, se podem defender a descriminação das drogas e o
aborto — hoje considerados crimes pela legislação brasileira — e da pior
forma possível: no modelo merchandising ideológico, de forma mais ou
menos sorrateira. Mas ai de um jornalista que emita uma opinião que
ofenda as polícias do pensamento!
Sobre a violência
No primeiro texto que escrevi sobe o caso,
tratei da questão da violência. Não se trata de saber se direitos
humanos devem existir também para bandidos. Os direitos humanos, vejam
que coisa!, humanos são — e deles ninguém se exclui ou pode ser
excluído. Ponto final. A questão é de outra natureza: cumpre tentar
entender por que esses prosélitos mixurucas, esses propagandistas
vulgares, jamais se ocupam da guerra civil que está em curso no Brasil
há décadas. Então os mais de 50 mil que morrem por ano no país não
merecem a sua atenção?
Sei que
pode parecer estranho a esses oportunistas, mas Sheherazade não amarrou
ninguém. A violência que a gente vê é só um pouco da violência que a
gente não vê. Os linchamentos se espalham Brasil afora. Os mais de 50
mil homicídios a cada ano no país é que mereciam uma “Comissão da
Verdade”. Por que os que agora pedem a cabeça de uma apresentadora de TV
jamais se ocuparam das 137 pessoas (média) que são assassinadas todos
os dias no Brasil?
Os imbecis
tentarão ler no meu texto o que nele não está escrito. Dou uma banana
para os tolos. Quanto mais eles recorrem à tática da desqualificação,
mais leitores vão chegando — e, agora, mais ouvintes também. Não dou a
mínima. Não me deixo patrulhar. Sim, eu acho que os que prenderam aquele
rapaz pelo pescoço têm de ser punidos. Eu acho que os que recorrem a
linchamentos também têm de arcar com as consequências.
Mas acho
igualmente que essa gente que decide resolver por conta própria — que
também é pobre de tão preta e preta de tão pobre — merece ter estado,
merece ter segurança, merece ter proteção. Se sucessivos governos se
mostram incapazes de dar uma resposta — por mais que eu deteste, por
mais que eu ache o caminho errado, por mais que eu tenha a certeza de
que a situação só vai piorar —, as pessoas farão alguma coisa.
Parece-me
que foi esse o sentido que Sheherazade deu à palavra “compreensível” — o
que não implica necessariamente um endosso. Os historiadores já se
debruçaram sobre os fatores que tornaram “compreensível” a eclosão dos
vários fascismos na Europa do século passado ou da revolução bolchevique
na Rússia. Compreender um fenômeno não quer dizer condescender com ele.
Eu, por exemplo, penso que é compreensível que o PT tenha chegado ao
poder, entenderam?
Ainda que,
reitero, avalie que o comentário foi, sim, desastrado. Mas tentar
linchar Sheherazade moralmente, aí já é um pouco demais! Estranha essa
gente: defende o direito de defesa para os bandidos mais asquerosos — e
nem poderia ser diferente —, mas pede a execução sumária de alguém por
ter emitido uma opinião infeliz.
E por quê?
E por que se silencia de maneira sistemática, contumaz, cínica, sobre a guerra civil brasileira? Num artigo da Folha, sintetizei a razão (em azul):
E por que esse silêncio? É que os fatos sepultaram as teses “progressistas” sobre a violência. A falácia de que a pobreza induz o crime é preconceito de classe fantasiado de generosidade humanista. A “intelligentsia” acha que pobre é incapaz de fazer escolhas morais sem o concurso de sua mística redentora. Diminuiu a desigualdade nos últimos anos, e a criminalidade explodiu. O crescimento econômico do Nordeste foi superior ao do Brasil, e a violência assumiu dimensões estupefacientes.
Os Estados
da Região estão entre os que mais matam por 100 mil habitantes:
Alagoas: 61,8; Ceará: 42,5; Bahia: 40,7, para citar alguns. Comparem: a
taxa de “CVLI” de São Paulo, a segunda menor do país, é de 12,4
(descarta-se a primeira porque inconfiável). Se a nacional
correspondesse à paulista, salvar-se-iam por ano 26.027 vidas.
Com 22% da
população, São Paulo concentra 36% (195.695) dos presos do país
(549.786), ou 633,1 por 100 mil. A taxa de “CVLI” do Rio é quase o dobro
(24,5) da paulista, mas a de presos é inferior à metade (281,5). A
Bahia tem a maior desproporção entre mortos por 100 mil e (40,7) e
encarcerados: 134. Estudo quantitativo do Ipea (aqui) evidencia que
“prender mais bandidos e colocar mais policiais na rua são políticas
públicas que funcionam na redução da taxa de homicídios”.
Isso
afronta a estupidez politicamente correta e cruel. Em 2013, o governo
federal investiu em presídios 34,2% menos do que no ano anterior — caiu
de R$ 361,9 milhões para R$ 238 milhões. Para mais mortos, menos
investimento. Os progressistas meio de esquerda são eles. Este colunista
é só um reacionário da aritmética. Eles fazem Pedrinhas. Alguém tem de
dar as pedradas.
Retomo
Boa parte dos que estão vociferando não
está nem aí para os pobres, os humilhados etc. Esses coitados servem
apenas de pretexto para aquela turma perseguir os de sempre. Não fosse
assim, esses bacanas estariam mobilizados, cobrando uma ação do estado
brasileiro para pôr fim ao Açougue Brasil, especializado em carne
humana.
Bando de
censores babacas e autoritários! Ah, sim: o SBT não proibiu apenas
Sheherazade de omitir opiniões. A regra vale agora para todos os
profissionais de imprensa da casa. Vai ver o Sindicato dos Jornalistas
do Rio, que também havia se insurgido contra ela, está feliz. Agora,
sim, é que ficou bom, certo? Claro, claro! Sempre haverá um daqueles
para dizer que isso só acontece porque se trata de um meio de
comunicação da burguesia. O semovente não tem dúvida de que Sheherazade
deve ser censurada, mas que a opinião deve ser livre para os que emitem
as opiniões “corretas”…
Por Reinaldo Azevedo
14/04/2014
às 19:16 \ Liberdade de Imprensa
SBT cede à pressão da patrulha e cala Rachel Sheherazade
“Em razão do atual cenário criado
recentemente em torno de nossa apresentadora Rachel Sheherazade, o SBT
decidiu que os comentários em seus telejornais serão feitos unicamente
pelo Jornalismo da emissora em forma de Editorial. Essa medida tem como
objetivo preservar nossos apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval
Peixoto, que continuam no comando do SBT Brasil”.
Essa foi a nota emitida hoje pelo SBT,
para justificar que, a partir de agora, as opiniões firmes da
apresentadora Rachel Sheherazade serão filtradas. Ao transferir a
responsabilidade para o conjunto, o grupo de Sílvio Santos realmente
protege a apresentadora, mas resta perguntar: a que custo?
Se ela antes tinha “carta branca” para
emitir suas opiniões, será que agora o jornalismo oficial fará o mesmo?
Será que haverá a mesma coragem ao denunciar os podres que ela
denunciava? O jornal de opinião faz falta, até porque muitos fingem
neutralidade jornalística, mas no fundo adotam uma visão ideológica. A
diferença é que a visão de mundo de Rachel batia de frente com o
“mainstream” nacional, com a hegemonia de esquerda.
A patrulha de esquerda é muito
organizada, poderosa e estridente. Basta surgir em cena alguns
jornalistas com discurso diferente para deixar a turma em polvorosa.
Apesar de todo o discurso em prol da pluralidade, o fato é que nossa
esquerda detesta o contraditório, acostumada a viver por tempo demais
com o monopólio da mídia.
Lamento profundamente que o SBT não tenha
tido a coragem de bancar a apresentadora com sua independência de
emitir opiniões, por mais polêmicas que fossem. Foi uma vitória da
patrulha politicamente correta, da esquerda hegemônica e autoritária, do
jornalismo acovardado que domina nosso país.
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