terça-feira, 15 de abril de 2014

Dilma, Aécio, Campos e Marina podem acabar levando eleitores à conclusão de que o melhor é votar em quem promete menos, pois o risco de decepção, talvez, seja menor

Escassez de ideias - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 15/04


Candidatos são capazes de coisas esquisitas para pessoas comuns. Acordam cedo e percorrem milhares de quilômetros para inaugurar duas vezes a mesma obra. Depois do almoço reafirmam o compromisso de terminar uma ferrovia e uma rede de abastecimento d’água cuja construção leva mais de 130 anos, desde o Império. E, antes de dormir, acenam com total rigor no “combate” à carestia, à pobreza ou à corrupção — o tema varia conforme a plateia de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

A presidente-candidata, desde 2010, faz do continuísmo sua oferta única ao eleitorado. Agora anuncia a nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O original, a bordo do qual se elegeu, listava sete mil projetos. 
 
 
Passados quatro anos, apenas 900 estão concluídos. Nove em cada dez obras de saneamento prometidas por Dilma na eleição passada simplesmente não saíram do papel, demonstram a Associação Contas Abertas e o Instituto Trata Brasil. Há cinco anos repete coisas assim: “Vamos recompor a capacidade do Estado de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento, e reforçar também a capacidade de planejar do Estado brasileiro, a integração entre o Estado e o setor produtivo, setor privado, entre o governo e a sociedade, entre o governo federal, os estados e os municípios.”

Os principais adversários da presidente-candidata não ficam atrás. Aécio Neves lançou uma espécie de carta-compromisso na qual subscreveu, entre outras pérolas: “É necessário restaurar a responsabilidade no trato da coisa pública e restabelecer compromisso responsável com a política de inflação, trazendo-a para o centro da meta e, sobretudo, combatendo-a com tolerância zero.” Acrescentou: “O país tem o dever de encerrar a manipulação das contas públicas, instaurando uma ‘comissão da verdade’ que recupere a credibilidade do Brasil e garanta transparência absoluta no uso dos recursos públicos.”

A seis meses da eleição, Aécio ainda não explicou como será a sua “comissão da verdade” sobre os gastos públicos. E se esqueceu de dizer o que significa “tolerância zero” com a inflação e, mais importante, quem vai pagar a conta.

Oferece, porém, 29 páginas com frases assim: “É preciso que sejam criados novos canais de diálogo com a sociedade — que possam, inclusive, aumentar a interação desta com o Estado — e que haja uma busca permanente por mais transparência.” Tais ideias podem até ser indispensáveis, impossível dizer por quê.

Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede) avançam pela mesma trilha. Em três dezenas de páginas apresentam as “diretrizes” de seu programa de governo, propondo “atuar para desenvolver cidades que sejam saudáveis, democráticas, seguras e agradáveis”. Pretendem “rever a noção de progresso, agregando‐lhe um sentido mais humano, justo, solidário e respeitoso com as pessoas e com o planeta” — mas ressalvam: “A transição para esse novo modelo precisa ser planejada e o governo precisa lançar mão de políticas públicas adequadas a esse objetivo.”

Se continuam assim, Dilma, Aécio, Campos e Marina podem acabar levando eleitores à conclusão de que o melhor mesmo é votar em quem promete menos, pois o risco de decepção, talvez, seja menor.
 

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