Domingo, abril 13, 2014
A
poupança dos países emergentes e em desenvolvimento saltou dez pontos
percentuais entre 1990 e 2013, para 33% do PIB (Produto Interno Bruto).
A
tendência contrasta com o encolhimento da economia feita por famílias,
governo e empresas no Brasil, onde a taxa de poupança encolheu de 19,4%
para 13,9% do PIB no mesmo período.
Ou
seja, o Brasil poupou, no ano passado, menos da metade que a média de
seus pares, a maior distância registrada desde pelo menos 1980, segundo
dados do Fundo Monetário Internacional.
Como consequência da baixa poupança doméstica brasileira, o país também investe pouco.
Entre 22 emergentes importantes, o Brasil é o terceiro com a menor taxa de investimento, 18,4% do PIB em 2013.
Esse
contexto ajuda a explicar o cenário atual de inflação elevada, em que o
aumento da oferta de bens e serviços não tem acompanhado a expansão da
demanda. E faz com que o Brasil caminhe na contramão do mundo em termos
de política monetária.
Entre
20 países monitorados pelo Itaú Unibanco que anunciaram decisão de
política monetária, em março e no início deste mês, o Brasil foi o único
a elevar os juros.
Segundo
a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, o aumento
da poupança doméstica nos países emergentes foi uma resposta às crises
ocorridas no fim da década de 1990:
"Os
países emergentes, especialmente os asiáticos, adotaram uma política de
enorme esforço para aumentar seu colchão de proteção". A taxa de
poupança dos países asiáticos foi a que mais subiu nas últimas décadas.
Isso alimentou a compra de títulos da dívida de países desenvolvidos, o
que, segundo o FMI, tem sido um dos principais fatores da baixa taxa de
juros real (descontada a inflação) global.
CAMINHOS DISTINTOS
Na
América Latina, países como Peru, Equador e Colômbia aproveitaram a
demanda externa favorável na década passada para aumentar sua poupança
doméstica. Já o Brasil optou pelo caminho do maior consumo.
"Acho
que essa foi uma decisão da sociedade, o que é até compreensível em
razão das duas décadas de severa restrição de consumo que o país sofreu
por causa da inflação elevada", diz de Bolle.
Para o
economista e professor da PUC-RJ Tiago Berriel, a expansão do crédito e a
melhoria na Previdência Social podem ter contribuído para a preferência
pelo consumo no Brasil. "Esses são fatores que tendem a puxar a
poupança para baixo."
O
governo também ajudou a acelerar o consumo no Brasil. Nos últimos anos,
isso ocorreu por meio de incentivos para a aquisição de bens como
automóveis e pelo aumento dos gastos públicos.
Segundo
Constantin Jancso, economista do HSBC, o consumo elevado e a queda no
lucro de grandes empresas, como a Petrobras, explicam a redução da
poupança doméstica do país.
"Parte da poupança vem do lucro das empresas, que tem caído", afirma.
INFLAÇÃO = DESGRAÇA
Com a
poupança baixa e em queda, faltaram recursos para financiar os
investimentos que deveriam ter sido feitos a fim de aumentar a oferta de
bens e serviços. O resultado tem sido a taxa de inflação
persistentemente alta.
Segundo
Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, o Brasil já estava com um
nível mais alto de inflação quando o chamado relaxamento monetário nos
países ricos levou a um excesso de recursos na economia global.
O efeito dessas políticas foi a depreciação de moedas dos emergentes, o que pressionou as taxas de inflação.
"Países
que estavam com inflação acomodada, como Colômbia, Chile e México,
puderam se preocupar mais com a atividade econômica, que enfraqueceu nos
últimos anos, e afrouxar a política monetária."
No Brasil, o Banco Central resistiu, mas começou a subir os juros há um ano.
Economistas
acreditam que, apesar do aperto monetário recente, a inflação deva
permanecer elevada. "Não vejo sinais de inflação menor em um horizonte
longo", afirma Berriel, da PUC-RJ. Da Folha de S. Paulo deste domingo
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