14/04/2014
às 22:45
O
PSB lançou, nesta segunda-feira, a pré-candidatura de Eduardo Campos,
ex-governador de Pernambuco, à Presidência da República. Marina Silva, a
chefe da Rede, um partido ainda com existência informal, anunciou o que
já se dava como certo, embora a trajetória até a decisão tenha sido um
tanto acidentada: vai mesmo ser vice na chapa. Acidentada por quê? A
estreia da ex-senadora no PSB forçou Campos a romper alianças ou
relativizá-las em estados em que conversas já estavam em andamento.
Marina empresta ainda à candidatura do ex-governador uma inflexão, em
alguns temas, mais à esquerda do que talvez fosse prudente.
Até agora,
Marina não transferiu seus votos para Campos. Os dois formalizaram a
sua aliança em outubro do ano passado, mês em que o político do PSB
apareceu com 15% das intenções de voto no Datafolha. Caiu para 11% em
novembro, passou para 12% em fevereiro e marcou 14% no começo deste mês.
Quando Marina surge como o nome do PSB, obtém marcas substancialmente
maiores nos mesmos períodos: 29%, 26%, 23% e 27%. Note-se que o último
levantamento do Datafolha foi feito logo depois do horário político
eleitoral do PSB e quando as inserções curtas do partido estavam no ar:
Marina se mexeu, passado de 23% para 27%, mas Campos ficou praticamente
No mesmo lugar, variando de 11% para 12%.
O grosso
do eleitorado que simpatiza com Marina não está migrando automaticamente
para Campos — não ainda ao menos. Será que essa transferência ainda vai
acontecer? Vamos ver. O discurso da líder da Rede, como sempre, se
deixou marcar por um certo messianismo, mas que cai bem em plateias
laicas. Referindo-se ao dia em que o TSE indeferiu o pedido de registro
de seu partido, afirmou: “Saí daquele tribunal, era a fraqueza em
pessoa, mas eu me lembrei daquela frase, quando sou fraco é que sou
forte”. Ela se referia ao versículo 10 do Capítulo 12 da Segunda
Epístola de São Paulo aos Coríntios.
E seguiu
adiante, numa interpretação muito pessoal da carta de São Paulo. Disse
Marina: “Porque a gente é forte quando tem a capacidade de se juntar com
outras pessoas, porque o ser humano é incompleto, é faltoso, depende da
completude do outro, e, naquele momento, o outro disponível para esse
projeto era o PSB, na figura de Eduardo Campos”. Pois é… Quem conhece o
texto sabe que São Paulo se referia a Jesus Cristo para fortalecer os
fracos, não a um homem com poderes, como direi?, terrenos. Se bem que,
bem lido o que disse Marina, ela própria é que se oferece como portadora
da mensagem messiânica, de que Campos seria apenas um instrumento. Uau!
Se ela não fosse de uma denominação evangélica, ainda reivindicaria a
santidade em vida. Espero que Campos cresça e contribua para impedir a
eleição de Dilma. Mas deixo claro: não suporto esse discurso de Marina.
Campos,
por sua vez, insistiu na leitura de que Dilma jogou fora a boa herança
que recebeu de Lula: “O Brasil perdeu o rumo estratégico. Dizia que ia
para um lado e ia para o outro. Foi perdendo seus fundamentos
macroeconômicos, na inclusão social. E a gente viu que esse processo nos
conduziu ao cabo de três anos a um diagnóstico que é voz corrente: o
Brasil parou, o povo perdeu a fé. E nós não podemos deixar o povo
brasileiro desanimar da nossa luta”. Vale dizer: confronto com Lula, nem
pensar.
O
economista Eduardo Giannetti, de clara inflexão liberal, hoje ligado à
Rede, deu aquele que pode ser o tom da campanha publicitária do PSB ao
afirmar: “O Brasil está cansado da polarização PT versus PSDB. Eles já
deram o que tinham de dar. O Brasil não quer mais do mesmo, quer
diferente. Nós somos os portadores dessa esperança nessa eleição. O
governo Dilma frustrou avanços construídos a duras penas no governo FH e
no primeiro do presidente Lula. É um governo repleto de paradoxos”.
E assim se
lançou a pré-candidatura de Eduardo Campos: com um pouco de Lula, com
um pouco de FHC, com o governo Dilma até anteontem, contra o governo
Dilma agora, tudo isso temperado por uma leitura, como direi?, meio pagã
da Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios. Mas, claro, “sem
contradições”!!!
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