Beco na Asa Norte: durante o dia, ocupado por trabalhadores; à noite, cenas de sexo e comércio de drogas
Atrás da W3 Norte, nos becos entre a
avenida de intensa movimentação durante o dia e as residências,
moradores e comerciantes já se acostumaram a ver cenas de uso de drogas,
violência e até o sexo explícito.
Nas entrequadras da Asa Sul, entre as
lojas e os blocos, a diferença não é tão grande. Presente na 109/110
Sul há 25 anos, Roberto Tomaz, dono de um comércio de iluminação, afirma
que o nível de segurança caiu, e o tráfico se multiplicou. “Basta você
passar de carro sem acelerar muito, devagar. Você será abordado pelo
menos cinco vezes com gente tentando te vender droga”, afirma...
A ocupação ocorre ao anoitecer. Os exemplos foram vistos pela
reportagem. Entre os blocos E e F da 708 Norte, a convivência com o medo
é comum. Muitas casas possuem entrada apenas pelo beco. Ao chegar com
crianças, os moradores lidam com cenas que assustam. “Nós vemos consumo
de drogas. Muitos andarilhos dormem aqui”, comentou uma moradora que não
quis se identificar por medo de represálias. O beco é cheio de
entulhos. Na quadra, existe um prédio abandonado nas proximidades que é
utilizado como dormitório.
Mais abaixo, na 706 Norte, há poucas semanas uma moradora viu cenas de
sexo na porta de casa. Não foi a primeira vez. O fato é tão frequente
que ela prefere manter as janelas da residência fechadas. A prefeita da
709 Norte, Beatriz Duarte, 48 anos, disse que a situação é antiga e
recorrente. “É prostituição, tráfico de drogas e falta de iluminação
pública. Aqui está ao deus-dará”, comentou. Para ela, os moradores ficam
à mercê do medo. “Você sai para ir à padaria pela manhã e vê
camisinhas, drogas e seringas. As pessoas ficam com medo.”
Em um bloco da 704, a solução encontrada pelos moradores foi instalar
portões nas portarias. “O beco era muito perigoso, as pessoas faziam
daqui ponto de uso de drogas e prostituição”, recordou Corcina Alves
Madureira, 62 anos, moradora do local. A corretora de imóveis explicou
que cabe também aos moradores preservar o estado do beco, mantendo-o
limpo. “Nós ganhamos mais tranquilidade com a instalação de grades e
portões”, explicou.
Na Asa Sul, comerciantes reclamam das ações de traficantes durante todo
o dia. Há também uma intensa movimentação de andarilhos. Segundo o
gerente de uma drogaria na 303 Sul, os clientes ficam com medo de
circular nas quadras com medo de serem abordados. A loja foi furtada
várias vezes, e o destino dos ladrões, para se esconder, é sempre o
mesmo: atrás do comércio. A Associação Comercial do Distrito Federal
(ACDF) iniciou um projeto de revitalização das entrequadras de acordo
com a Lei dos Puxadinhos (Lei 766/2008). “A ideia é transformar o local
em um shopping a céu aberto”, define Lucia Ottoni, diretora da ACDF e
idealizadora do projeto. Ela ainda diz que o local foi o escolhido por
estar com 100% dos blocos nos conformes da norma. “Faltam apenas cinco
lojas se regularizarem”, pontua.
A entrequadra comercial 109/110 Sul é uma das mais tradicionais de
Brasília. É nela que fica o Beirute, bar responsável por quase meio
século de cervejadas noites adentro na capital. Mas a falta de vagas e
de iluminação é algo que incomoda frequentadores do comércio e moradores
da quadra. A administradora Patrícia Castro, 39 anos, fica insegura por
ter de estacionar o carro dentro das quadras residenciais. “De dia, não
tem problema. Mas, à noite, o espaço entre a moradia e o comércio é
muito mal iluminado. Como Brasília está cada vez mais perigosa, seria
bom ter luz por questão de segurança”, afirma.
Segurança
A comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar da Asa Sul,
tenente-coronel Sheyla Soares Sampaio, disse que diariamente são feitas
rondas nas áreas que ficam atrás das áreas comerciais. A militar
afirmou, porém, que as atividades especiais ocorrem apenas uma vez por
semana com o uso de um efetivo maior. Sheiyla ainda informou que, nas
quadras com maior incidência de casos, existe o policiamento
monitorizado noturno.
Na Asa Norte, a Polícia Militar realiza operações conjuntas com outros
órgãos, como a Secretaria de Estado Desenvolvimento Social e
Transferência de Renda (Sedest). O subcomandante do policiamento da Asa
Norte, major André Luiz, explicou que o órgão atua preventivamente para
evitar crimes e o consumo de drogas nessas localidades. Quando um
andarilho é visto em atitudes suspeitas, é direcionado a uma delegacia
para o levantamento da ficha criminal. As pensões irregulares, segundo o
major, são outros agravantes para o desenvolvimento do tráfico na
região. Elas são também monitoradas nas operações.
De acordo com Meire Lia Lima, coordenadora de Proteção Social Especial
da Sedest, o trabalho da secretaria consiste em estabelecer vínculos e
fazer com que essas pessoas fiquem abertas às propostas de
acompanhamentos. “É importante dizer que o trabalho não traz um
resultado imediato, é a longo prazo”, explicou a coordenadora.
"É prostituição, tráfico de drogas e falta de iluminação pública. Aqui está ao deus-dará”
Beatriz Duarte, síndica da 709 Norte
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