Em artigo
publicado hoje no GLOBO, Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas,
esmiuça aquilo que mais apavora o PT: os dados.
A candidata Dilma, que
parece esquecer que ainda é presidente, já anuncia com muita celeuma e
fanfarra o PAC 3. Só há um pequeno problema: boa parte do PAC 1 e do PAC
2 sequer saiu do papel. Para Castello Branco, isso remete ao filme
“Rambo”, com muita pirotecnia para agradar aos cinéfilos menos exigentes
com conteúdo.
Outra analogia boa seria com o general
Potemkin. Grigori Potemkin foi um oficial russo que construiu falsas
fachadas para impressionar Catarina II durante uma visita a Crimeia. Por
trás daquela “cidade” havia apenas ruínas, como um cenário de novela.
Tudo “para inglês ver”, ou no caso dele, para a czarina ver, ou no nosso
caso, para os eleitores acharem que viram alguma coisa. Aos dados:
Em síntese,
até dezembro de 2013 mais da metade do PAC 2 sequer saiu do papel.
Decorridos três anos, dentre os 49.095 empreendimentos, 26.154 (53%)
estão nos estágios de “ação preparatória”, “em contratação”, “em licitação de obra” e “em licitação de projeto”. De cada dez iniciativas, menos de quatro estão “em obra” ou “em execução”. Apenas 12% dos empreendimentos estão “concluídos”.
Na Saúde,
das 24.006 obras tocadas pelo ministério e pela Funasa, só 2.547 (11%)
foram colocadas à disposição da sociedade. As Unidades Básicas de Saúde
(UBS) ilustram essa realidade: das 15.652 previstas, irrisórias 1.404
(9%) foram concluídas. Quanto às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs),
503 estavam previstas, mas somente 14 ficaram prontas. Nas ações de
saneamento e recursos hídricos, das 7.911 iniciativas, apenas 1.129
(14%) foram finalizadas. Pelo visto, para reduzir os problemas da saúde
no Brasil, serão necessárias, além dos médicos cubanos, mais
infraestrutura e melhor gestão.
[...]
Das 5.257
creches e pré-escolas constantes do PAC 2 apenas 223 estavam em
funcionamento até o fim do ano passado. No esporte, os estádios padrão
Fifa estão quase prontos; no entanto, das 9.158 quadras esportivas que
seriam construídas em escolas, apenas 481 (5%) foram inauguradas. Nenhum
dos 285 centros de iniciação ao esporte ficou pronto.
Mas o mais impressionante de tudo é mesmo
a cifra inflada do PAC por conta dos empréstimos que a Caixa faz para a
compra ou reforma de imóveis.
Castello Branco explica:
Como
quantitativamente os projetos evoluem lentamente, o governo prefere
enfatizar que as “ações concluídas” somam R$ 583 bilhões. Deste valor,
44%, isto é, R$ 253,8 bilhões são “empréstimos habitacionais à pessoa
física”. Assim, caro leitor, se você for à Caixa Econômica Federal e
solicitar empréstimo para a compra de imóvel novo, usado ou para
reformas, o financiamento, tão logo liberado, será incluído como “ação
concluída” do PAC. Por incrível que possa parecer, o dinheiro que a CEF
lhe emprestou — em parte vindo do FGTS, que já era seu e sobre o qual
você irá pagar juros — é a principal realização do PAC 2, tal como já
acontecera no PAC 1. A soma dos “empréstimos habitacionais à pessoa
física” é tão relevante que supera o montante de todas as obras
concluídas dos eixos de transporte e energia.
O caso também foi tema da coluna de José Casado no mesmo jornal. O jornalista diz:
A
presidente-candidata, desde 2010, faz do continuísmo sua oferta única ao
eleitorado. Agora anuncia a nova versão do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). O original, a bordo do qual se elegeu, listava sete
mil projetos. Passados quatro anos, apenas 900 estão concluídos. Nove em
cada dez obras de saneamento prometidas por Dilma na eleição passada
simplesmente não saíram do papel, demonstram a Associação Contas Abertas
e o Instituto Trata Brasil. Há cinco anos repete coisas assim: “Vamos
recompor a capacidade do Estado de planejar, gerir e induzir o
desenvolvimento, e reforçar também a capacidade de planejar do Estado
brasileiro, a integração entre o Estado e o setor produtivo, setor
privado, entre o governo e a sociedade, entre o governo federal, os
estados e os municípios.”
Claro, nada disso foi inventado pelo PT,
tampouco é exclusividade sua. Outros candidatos também apelam para
promessas irreais, pois a democracia das massas virou um leilão de
oferta de sonhos irrealizáveis com pouco apreço pela sua viabilidade ou
custo.
Mas é inegável que o PT simplesmente
levou tal tradição ao ápice da cara de pau no Brasil. Nunca antes na
história deste país um governo foi tão pautado somente pelo marketing.
Gil Castello Branco se lembrou de “Rambo” e toda aquela pirotecnia. Mas
confesso que vem à minha mente outra figura, menos heróica que Sylvester
Stallone.
Como era mesmo o nome daquele poderoso
marqueteiro alemão, segundo na hierarquia do poder, que popularizou o
slogan “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”?]]
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