O GLOBO - 26/05
Há várias maneiras de evitar os males e riscos atribuídos
ao capitalismo, mas o "socialismo do século XXI" é um mergulho no
abismo
O mito do capitalismo cruel foi sempre muito popular.
Afinal, sendo o capital tão velho quanto o diabo, são-lhe atribuídos todos os
males do mundo. Floresceu entre os negociantes assírios, nos mercados da
Babilônia, com navegantes fenícios, comerciantes atenienses, latifundiários e
feirantes medievais, industriais e financistas anglo-saxões e agora até mesmo
entre ex-comunistas sino-soviéticos.
A antipatia é tamanha que a profecia de aprofundamento
das desigualdades até seu inevitável colapso acabou tornando Karl Marx, um
economista pós-ricardiano menor do século XIX, o mais influente ideólogo do século
XX.
O fervor religioso de seus crentes resiste aos fatos. Pouco importa que um apocalipse do regime socialista tenha mergulhado na miséria 3,5 bilhões de eurasianos, que buscam agora, em desespero, sua inclusão nos mercados globais, derrubando salários e aumentando os lucros em todo o mundo. A culpa é sempre do capitalismo.
O fervor religioso de seus crentes resiste aos fatos. Pouco importa que um apocalipse do regime socialista tenha mergulhado na miséria 3,5 bilhões de eurasianos, que buscam agora, em desespero, sua inclusão nos mercados globais, derrubando salários e aumentando os lucros em todo o mundo. A culpa é sempre do capitalismo.
Pouco importa que os governos impeçam a colossal destruição de riqueza financeira através das operações de salvamento de bancos, em vez de garantirem apenas os pequenos depositantes.
"Salvar bancos não era salvar o
mundo", descobre agora o Prêmio Nobel Paul Krugman. A culpa pela
concentração de riqueza é do capitalismo, que permitiu a acumulação desigual
nos tempos em que houve abusos e excessos, ou dos governos, que impediram grandes
perdas patrimoniais nas crises decorrentes?
Por que não aliviaram hipotecas de classes de baixa renda
e dívidas de estudantes, em vez de garantirem grandes fortunas estacionadas em
um sistema financeiro quebrado? Isso pode ser coisa do diabo, de financistas e
do governo, mas não é coisa do capitalismo, que também destrói privilégios e
riquezas todo tempo e em toda parte. Um economista pós-walrasiano menor
contemporâneo acaba de "demonstrar" mais uma vez a perversidade do
capitalismo cruel.
Poderíamos evitar males como a concentração excessiva de
renda e riqueza? Poderíamos reduzir os riscos de uma desestabilização política
das democracias liberais? É claro que sim, e de várias maneiras. O único
caminho inexorável para o abismo, o verdadeiro beco sem saída lamentavelmente
escolhido pelos nossos vizinhos kirchneristas e bolivarianos, é o
"socialismo do século XXI".
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