Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Nelson Motta
Como os
marqueteiros e estrategistas concluíram que o eleitor vota movido mais pela
emoção do que pela razão, preparem-se porque vem aí, além da chuva de lama
habitual, doses cavalares de demagogia, populismo e sentimentalismo barato nas
campanhas. Diante do que está acontecendo nas ruas, no Congresso, nos palácios
e nos tribunais, nada pior para o processo eleitoral, a democracia e o avanço
da cidadania. Nunca precisamos tanto de razão e serenidade.
Além das ações dos
movimentos sociais e sindicais, a tática lulista do “nós contra eles” e a
crença de que os fins justificam os meios quando a causa é “justa” estão no DNA
da atual violência das ruas e no desprezo pelas leis e pela população, quando
sindicatos fecham acordos em assembleias mas minorias dissidentes param a
cidade e vândalos impedem manifestações pacíficas. O clima de intolerância
favorece a imobilidade e bloqueia qualquer progresso nas reformas que o país
necessita. Mas 70% do eleitorado exigem mudanças.
Assim como existem
pessoas dependentes de álcool, drogas, sexo, jogo e internet, muitos políticos
são viciados no poder como numa droga. Embora alguns confessem que “a política
é uma cachaça”, a dependência deles é mesmo do poder, dos privilégios, da
sensação inebriante de superioridade, onipotência e impunidade que dão algumas
drogas pesadas. E, como dependentes, fazem as piores fraudes, indignidades e
crimes para mantê-lo.
Se quisessem mesmo
servir ao país, deveriam repetir como um mantra a Oração da Serenidade,
popularizada pelos Alcoólicos Anônimos: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade
necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para
modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras’’.
Alguns problemas
brasileiros são insolúveis a curto e médio prazos, como a ladroagem e o
compadrio, atrasos culturais que só mudam ao longo de gerações. Outros, como as
reformas política e tributária, dependem de competência, honestidade e coragem
para enfrentá-los.
Não é de emoções,
mas de serenidade para distinguir uns dos outros, que eles — e nós —
precisamos.
Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical. Originalmente publicado em O Globo em 23 de maio de 2014.
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