Obrigado por seu acordo político com o grupo da ex-senadora Marina
Silva a rever a estratégia que havia montado no início da campanha, o
ex-governador Eduardo Campos vem endurecendo seu discurso também contra o
antigo parceiro Aécio Neves, na esperança de se tornar uma escolha
palatável ao eleitor petista que está descrente com a atuação de Dilma
ou insatisfeito com os rumos que o partido vem tomando.
Campos, com mais propriedade, pois fez parte do grupo lulista até pouco
tempo, estaria repetindo a tentativa de Serra em 2010 de se apresentar
como uma alternativa a Dilma contra a qual Lula nada teria. Corre menos
risco de ser desautorizado por Lula de público, mas é possível que isso
ocorra. Na tentativa de preservar um acordo para o segundo turno, é
possível que Lula poupe Campos de sua língua ferina.
Embora não tenha uma performance boa nas pesquisas até o momento,
Campos conta com o voto útil a seu favor dos petistas que temem mais a
vitória do PSDB do que a derrota de Dilma para ele, aí incluído até
mesmo Lula. Essa mudança na campanha de Campos tem, porém, diversos
obstáculos para ser bem-sucedida, a começar pelo governo de São Paulo,
uma das pedras-chave desta disputa. ...
Abandonando a coligação do governador Geraldo Alckmin, da qual fazia
parte há muito, Campos deixará o palanque do PSDB livre para o senador
Aécio Neves no maior colégio eleitoral do país, enquanto terá um
palanque improvisado e fraco. Foi convencido por Marina de que o
desgaste do PSDB depois de 20 anos no poder favorece uma candidatura
alternativa.
Em Minas, acontecerá o contrário, pois, ao romper com Aécio em seu
território, abrirá mão de compartilhar com ele a provável vitória no
segundo maior colégio eleitoral do país. A contrapartida do rompimento
em Pernambuco não será tão dolorosa para os tucanos, já que o eleitorado
do estado não é dos maiores.
O senador Aécio Neves considera que a atitude de radicalizar a campanha
também contra o PSDB é um sinal de desespero do PSB diante do fraco
desempenho nas pesquisas. Mas, mesmo os do PSB e da Rede favoráveis a um
acordo no segundo turno entre os dois acham que, no momento, é mais
positivo para Campos se distanciar de Aécio e tentar uma marca própria
para a campanha.
Sobre o assunto, gravei um vídeo para O Globo a Mais, semana passada,
onde analisava a nova fase da campanha eleitoral, delicada para os
candidatos de oposição, que, juntos, já mostram força para levar a
eleição para o segundo turno, mas, separados, ainda não têm condições de
vencer a presidente Dilma Rousseff.
Só destruirá as pontes construídas até o momento aquele candidato que
se considerar em condições de aglutinar em torno de um projeto político
próprio a maioria dos eleitores que querem mudanças; somente Marina
Silva teria esse perfil, se fosse a candidata.
Mas ela está levando o ex-governador Eduardo Campos a experimentar esse
caminho solitário que só se tornará eficaz caso ele se transforme em um
fenômeno eleitoral, o que é difícil de imaginar. Ou na hipótese de vir a
disputar um segundo turno com o candidato tucano Aécio Neves, o que a
esta altura parece improvável.
Campos vai ter que equilibrar os próximos passos para não inviabilizar o
apoio do PSDB em um eventual segundo turno. O que pode pesar a mão no
PSB é a influência de uma esquerda próxima ao petismo, cujo
representante mais influente é o vice-presidente, Roberto Amaral,
ex-ministro de Lula, que nunca viu com bons olhos a aproximação com os
tucanos.
O senador Aécio Neves vai exercitando um dos dons mais característicos
da política mineira, a paciência. Não partirá dele qualquer gesto de
rompimento com Campos, mesmo porque está convencido de que quem vai para
o segundo turno é ele, e precisará do apoio do PSB para derrotar Dilma.
Fonte: MERVAL PEREIRA - O Globo - blog do NOBLAT - 25/05/2014 - - 12:32:48
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