Andar de automóvel é uma bomba relógio
Da França, chegou um recado - mais claro, impossível: o carro se
tornou um vilão internacional, e seus dias estão contados em uma bomba
relógio. Além de implantar um rigoroso rodízio (de dias alternados) por
placas, o transporte público foi disponibilizado gratuitamente na
capital do país. Loucura? Não. Necessidade.
Paris são três quarteirões de beleza absoluta cercados de Osasco por
todos os lados. Não é tão civilizada quanto imaginamos. O subsídio ao
diesel, combustível bem mais poluente, e o alto número de motoristas
solitários em carros particulares faz da cidade uma estufa de gás carbônico. Imagina na Copa.
Por aqui, estamos no mesmo caminho. E aceleramos muito nos últimos
anos, em que milhares de carros foram despejados como dejetos em nossas
ruas. Tudo graças a uma política protecionista à indústria
automobilística e a um irresponsável estímulo ao endividamento para
adquirir bólidos zerinhos.
Coisa de um governo que derrapa tanto econômica quanto ambientalmente - e que permite que nos empurrem ladeira abaixo os carros mais caros e inseguros do mundo.
Coisa de um governo que derrapa tanto econômica quanto ambientalmente - e que permite que nos empurrem ladeira abaixo os carros mais caros e inseguros do mundo.
Sei que o transporte público em nosso País é uma tragédia parecida
com a que acontece em nossas prisões: gente amontoada num barril de
pólvora prestes a explodir. Não por acaso, o busão se tornou alvo
preferencial de vândalos e ativistas em manifestações. É um símbolo de
desrespeito e descaso com nosso povo.
Mas é o único caminho viável: investimento pesado, ininterrupto e obsessivo em transporte coletivo. Isso já deixou de ser opção faz tempo. Sim. É necessidade.
Mas é o único caminho viável: investimento pesado, ininterrupto e obsessivo em transporte coletivo. Isso já deixou de ser opção faz tempo. Sim. É necessidade.
E qualquer pessoa em sã consciência sabe que o uso diário de
automóveis nos torna mais estressados, pobres e infelizes. Ainda temos
alguns agravantes, bem típicos de nossa classe média inculta, opulenta e
exibicionista. Nada reflete melhor a cafonagem imperante do que a
invasão das SUVs, picapes napoleônicas e demais carrões ostensivos (e
antieconômicos) que infestam os grandes centros.
O Brasil parece uma pátria de fazendeiros ou gente que vive de carreto. Por mim, proibia esses tanques de guerra de circularem em zonas urbanas. Nem que fosse por motivos estéticos e morais.
O Brasil parece uma pátria de fazendeiros ou gente que vive de carreto. Por mim, proibia esses tanques de guerra de circularem em zonas urbanas. Nem que fosse por motivos estéticos e morais.
Enfim. Andar de carro está ficando cada vez mais feio, politicamente
incorreto e financeiramente insustentável. Coisa de bocó, velho e
playboy impotentes. Coisa de mulher mal amada. Antes assim. Esse fator
subjetivo, essa aflição em viver em engarrafamentos, numa fila indiana
interminável, está minando esse status de poder e glamour acumulado
durante décadas.
Automóvel já era. E isso é bom, merece até um brinde.
Com um ótimo vinho francês.
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