terça-feira, 18 de março de 2014

Andar de carro é coisa de bocó, velho e playboy impotentes. Coisa de mulher mal amada.

 

Andar de automóvel é uma bomba relógio

 
 Andar de automóvel é uma bomba relógio


Da França, chegou um recado - mais claro, impossível: o carro se tornou um vilão internacional, e seus dias estão contados em uma bomba relógio. Além de implantar um rigoroso rodízio (de dias alternados) por placas, o transporte público foi disponibilizado gratuitamente na capital do país. Loucura? Não. Necessidade.

Paris são três quarteirões de beleza absoluta cercados de Osasco por todos os lados. Não é tão civilizada quanto imaginamos. O subsídio ao diesel, combustível bem mais poluente, e o alto número de motoristas solitários em carros particulares faz da cidade uma estufa de gás carbônico. Imagina na Copa.

Por aqui, estamos no mesmo caminho. E aceleramos muito nos últimos anos, em que milhares de carros foram despejados como dejetos em nossas ruas. Tudo graças a uma política protecionista à indústria automobilística e a um irresponsável estímulo ao endividamento para adquirir bólidos zerinhos. 

Coisa de um governo que derrapa tanto econômica quanto ambientalmente - e que permite que nos empurrem ladeira abaixo os carros mais caros e inseguros do mundo.

Sei que o transporte público em nosso País é uma tragédia parecida com a que acontece em nossas prisões: gente amontoada num barril de pólvora prestes a explodir. Não por acaso, o busão se tornou alvo preferencial de vândalos e ativistas em manifestações. É um símbolo de desrespeito e descaso com nosso povo. 

Mas é o único caminho viável: investimento pesado, ininterrupto e obsessivo em transporte coletivo. Isso já deixou de ser opção faz tempo. Sim. É necessidade.

E qualquer pessoa em sã consciência sabe que o uso diário de automóveis nos torna mais estressados, pobres e infelizes. Ainda temos alguns agravantes, bem típicos de nossa classe média inculta, opulenta e exibicionista. Nada reflete melhor a cafonagem imperante do que a invasão das SUVs, picapes napoleônicas e demais carrões ostensivos (e antieconômicos) que infestam os grandes centros. 

O Brasil parece uma pátria de fazendeiros ou gente que vive de carreto. Por mim, proibia esses tanques de guerra de circularem em zonas urbanas. Nem que fosse por motivos estéticos e morais.

Enfim. Andar de carro está ficando cada vez mais feio, politicamente incorreto e financeiramente insustentável. Coisa de bocó, velho e playboy impotentes. Coisa de mulher mal amada. Antes assim. Esse fator subjetivo, essa aflição em viver em engarrafamentos, numa fila indiana interminável, está minando esse status de poder e glamour acumulado durante décadas. 

Automóvel já era. E isso é bom, merece até um brinde. Com um ótimo vinho francês.

O Provocador-- Marco Antonio Araujo

Nenhum comentário: