terça-feira, 18 de março de 2014
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Heitor Scalambrini Costa
Gosto de dar minha opinião através de textos singelos sobre
temas que me interessam particularmente, como política energética, fontes
renováveis de energia, (in)justiça social, meio ambiente, política
universitária.
E não deixo de escrever quando determinado assunto me deixa
indignado. Particularmente, quando existe o interesse notório de iludir,
enganar, ludibriar a boa vontade das pessoas.
Daí escrever este breve comentário sobre o relacionamento
político de uma das pessoas públicas brasileiras de grande reconhecimento e de
enorme respeitabilidade, a ex ministra Marina Silva.
No portal oficial dessa ilustre personalidade destaca-se:
“ganhou reconhecimento dentro e fora do país pela defesa da ética, da
valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável”.
Sem dúvida requisitos louváveis para alguém que se dedica há
30 anos à vida pública, conquistando o respeito dos que querem e lutam por um
mundo melhor, no presente e para as gerações futuras.
A posição combativa e corajosa da cidadã Marina fez com que
ela conquistasse as mentes e corações de uma parcela importante do povo
brasileiro (e do mundo afora). Na sua candidatura ao cargo público mais
importante, nas eleições presidenciais de 2009, conquistou mais de 20 milhões
de votos.
Todavia, recentemente, o “jogo político” levou-a a se aliar
com um ex-colega de ministério (1ª gestão do governo Lula), que ocupou o cargo
de ministro de Ciência e Tecnologia, o atual governador de Pernambuco e
pré-candidato a presidente da Republica nas eleições de 2014.
Portanto, Marina conhece seu aliado da hora, inclusive com
posições antagônicas às suas quando participaram do mesmo Ministério na questão
dos transgênicos, da reativação do Programa Nuclear Brasileiro e mesmo do
entendimento que cada um tinha, e continua a ter, sobre desenvolvimento
sustentável, tema tão caro à ex-ministra.
As diferenças entre ambos, atuais carne e unha, são
abismais. Inclusive para os marqueteiros, e os que fazem a propaganda dos
candidatos, a dificuldade de justificar a aliança de ambos levou-os a trazer a
tona na biografia de cada um os seus tutores políticos (ambos falecidos): o
ambientalista acreano Chico Mendes, e Miguel Arraes, ex-governador de
Pernambuco e avô de Eduardo Campos. A intenção é de convencer o eleitor de que
os dois têm tudo a ver, complementam-se. Como se fosse possível misturar água e
óleo.
De antemão, não será uma tarefa fácil, visto que o eleitor
um pouco mais informado e esclarecido vai comparar o que de fato aconteceu e
acontece em Pernambuco na administração do pré-candidato presidencial, que se
propõe a disseminar em todo Brasil a “nova política (?)”, sua “gestão inovadora
(?)”, “competente (?)” e deixar para trás as “raposas políticas (?)”.
Sua ação predatória em relação ao meio ambiente, nos 8 anos
de governo, é visível a olho nu em Pernambuco. Só não enxerga quem não quer
ver.
Ao estimular a vinda de indústrias sujas, como
termoelétricas a combustíveis fósseis (quem não se lembra da “maior
termoelétrica do mundo” defendida pelo governador e rechaçada pela sociedade),
sua defesa da vinda da uma usina nuclear para o interior do Estado (basta ler
as noticias nos jornais da época), a atração por estaleiros que sem dó nem
piedade expulsou pescadores e narisqueiras e diminuiu sensivelmente a pesca
artesanal em Pernambuco.
Além do desmatamento, como nunca visto em um período tão
pequeno de tempo, na região de Suape, onde o mangue, a mata Atlântica e a
restinga desapareceram em nome do tal “desenvolvimento”.
A vinda da refinaria e da indústria petroquímica para o
Estado, importando para o território o maior vilão do aquecimento global e
consequentemente das mudanças climáticas, o petróleo, e todas as mazelas que
aporta ao meio ambiente e à saúde das pessoas.
Sem dúvidas as questões sociais, de expulsão das pessoas de
suas moradias, a propalada geração de emprego e renda (mais de 40 mil empregos
serão perdidos entre 2014 e 2016 em Pernambuco), educação sofrível, os péssimos
serviços públicos de água, energia e esgoto/saneamento, o tratamento oferecido
da “idade da pedra” aos jovens e adolescentes infratores.
Além da forma monocrática de gestão do poder (chamada por
alguns de "neocoronelismo”), com o evidente subjugo dos outros poderes
constituídos (legislativo e judiciário).
Sem falar da posição de atrelamento da mídia empresarial do
Estado, que se tornou uma extensão do Diário Oficial, e que colaborou
efetivamente para a criação da “ilha da fantasia” em que se transformou
Pernambuco.
Enfim, nestas poucas linhas é impossível elencar os pontos
tão divergentes nos discursos e práticas de ambos personagens políticos que
hoje mostram uma “simbiose” incomum, motivados muito mais pelos interesses
pragmáticos do que programáticos, em conquistar o poder.
Portanto, é importante nesta eleição a valorização do voto,
analisar, conhecer mais a historia dos candidatos, suas alianças. Ter muita
clareza em relação ao quadro real, que se impõe sobre o virtual, o
propagandístico. Lamentavelmente para o povo brasileiro que ira escolher, as
opções não são nada alvissareiras.
Mas que pelo menos vote conscientemente e não deixe ser
enganado ou ludibriado por falsas promessas e discursos vazios que não refletem
a pratica de quem fala.
Heitor Scalambrini Costa é Professor da Universidade Federal
de Pernambuco.
Postado por Jorge Serrão às 09:22:00
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