RENATO RIELLA
As pessoas discutem as prisões resultantes do Mensalão, mas o fato
mais representativo da impunidade no Brasil ocorreu esta semana, com a
prisão do ex-assessor do Senado José Carlos Alves dos Santos.
Em 1993, ele foi preso por desvio de muitos milhões. Trabalhava na
Comissão de Orçamento do Congresso Nacional. Junto com o presidente
desta Comissão, o então deputado João Alves, “cobrava” pela liberação de
emendas, fato que gerou um dos maiores escândalos do Brasil em todos os
tempos. Este foi o chamado “Escândalo dos Anões”, pois cinco deputados
envolvidos eram todos baixotes.
José Carlos levou 21 anos para ser condenado e só agora cumpre pena por esses crimes de corrupção.
Antes disso, na década de 90, ficou preso pouco tempo por outro crime bárbaro – mais bárbaro ainda: matou a própria mulher, mãe dos seus filhos, a assessora do Ministério da Educação Ana Elizabeth.
Ela foi morta porque descobriu acidentalmente que ele escondia
milhões em cédulas no próprio quarto do casal: atrás dos armários,
debaixo do colchão…
José Carlos convidou a mulher para jantar num restaurante da Asa
Norte, à noite. Ao voltarem, pelo Eixão, foram interceptados por um
carro com dois homens, num sequestro encomendado por ele.
Levados para Planaltina, nessa cidade José Carlos viu os dois bandidos de aluguel enterrarem sua mulher ainda viva. Ele foi condenado por este crime. Porém, pouquíssimo tempo depois encontrei José Carlos no Pátio Brasil, completamente livre.
Só agora, 21 anos depois, o ex-assessor foi preso, depois de julgado pelos crimes de desvio de dinheiro público.
Viveu esse tempo todo em Brasília, hoje casado com uma ex-aluna dele
do CEUB, que já era sua amante no tempo da morte de Ana Elizabeth.
O Brasil é um país atrasado, no qual um assassino publicamente
reconhecido vive solto. E também podemos considerar um grande atraso a
demora de 21 anos para se condenar um corrupto de tanta fama.
De qualquer modo, temos de comemorar a Justiça, mesmo que tardia.
Essa prisão serve de exemplo para políticos muito atuais, recheados
de processos, que desafiam a Justiça diariamente. Pode demorar, mas um
dia a casa cai.
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