O GLOBO - 24/06
A uma semana do prazo final para a definição das candidaturas para a eleição deste ano, quem soube administrar melhor o tempo de decisões, uma arte da política, levou vantagem na armação das coligações. No lado da oposição, o PSDB saiu na frente do PSB nesta primeira etapa da disputa, muito porque o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos perdeu tempo administrando sua relação com a Rede de Marina Silva.
A união com a ex-senadora pareceu, no primeiro momento, uma jogada de mestre de Campos para fortalecer a oposição, mas, com o passar do tempo, Marina mostrou-se mais isolacionista do que Campos se dispunha a ser. Marina levou o PSB a se colocar como oposição tanto ao PT quanto ao PSDB, na tentativa de marcar uma diferenciação entre as candidaturas de Campos e Aécio e quebrar a polarização dos dois principais concorrentes à Presidência.
A estratégia não funcionou, muito também porque Campos escolheu a posição dúbia de centrar suas críticas à presidente Dilma e preservar o ex-presidente Lula, o que retirou de sua candidatura a marca de oposicionista, deixando o PSDB de Aécio livre nessa raia.
A união implícita do PSB com o PSDB caracterizava a candidatura de Campos na área oposicionista, e o potencial apoio recíproco no segundo turno fortalecia ambas as candidaturas. Na análise dos tucanos, Campos piscou muito cedo ao se colocar também como oposição ao PSDB, e deixou crescer a impressão de que poderia ser um aliado em potencial do PT no segundo turno, devido à sua ligação com Lula.
O ex-presidente também ajudou a colocar Campos na defensiva ao dizer que ele não podia exagerar nas críticas, porque, até pouco tempo, estava no campo governista. Lula, como já fizera anteriormente com José Serra, deixou sempre claro que sua candidata era Dilma, retirando a chance de que petistas descontentes encontrassem na candidatura de Campos uma alternativa na área de influência petista.
O receio de ficar sem identidade diante do eleitor confirmou-se com a queda nas pesquisas. Por isso, nas últimas semanas, Campos voltou ao ponto de partida para fazer alianças pragmáticas, como as que fechou em SP, apoiando o governador Geraldo Alckmin, e no Rio, em apoio à candidatura de Lindbergh Farias, do PT, ao governo do estado, contra a opinião de Marina.
O que perdeu em coerência ganhou em apoio político em dois dos principais colégios eleitorais do país. Em Minas, é possível que acabe mesmo apoiando a candidatura tucana de Pimenta da Veiga, como era o plano original. Já Aécio Neves conseguiu o que era considerado impossível: unir o PSDB.
Por incrível que pareça, o PSDB hoje é o único partido na disputa unido em torno da candidatura do senador mineiro, inclusive a regional paulista do partido. A administração inteligente do tempo partidário deu frutos, com a adesão do PTB à candidatura nacional e o acordo com o DEM no Rio para apoiar a candidatura de Pezão, do PMDB, ao governo do estado.
Deixando as convenções para o último dia do prazo oficial, Aécio ganhou tempo para negociar apoios e ainda espera duas novas defecções no bloco governista. A adesão do PSD, que seria a cereja no bolo com a indicação de Henrique Meirelles para a vice-presidência na sua chapa, parece difícil de se concretizar, mas é possível que o PP se decida pela neutralidade, o que tiraria alguns minutos da propaganda de Dilma.
A presidente, por sua vez, tem como seu grande apoio Lula, que traz com ele a expectativa de poder que mantém unida a maioria dos partidos da base aliada. Mas, se não reverter a situação de declínio em que se encontra nas pesquisas, mesmo estando à frente da disputa, pode ser simplesmente abandonada por seus aliados durante a campanha eleitoral.
A maioria deles entra dividido na campanha, mesmo os que oficialmente apoiam sua reeleição, até o PT, que tem em Lula seu candidato natural. O PMDB já tem dissidências abertas em vários estados. A maioria do PSD está em coligação com o PSDB nos estados, e somente a garantia pessoal do criador do partido, o ex-prefeito Gilberto Kassab, mantém o apoio oficial à reeleição de Dilma. O PP, mesmo que dê o tempo de propaganda ao PT, continuará dividido.
O que os une é a expectativa de vitória, que, mais que nunca, Lula mantém viva no banco de reservas, como principal cabo eleitoral de Dilma, ou, em último caso, como muitos ainda sonham, esperança de gol nos minutos finais do jogo, como Messi fez com a Argentina.
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