Área para a prática de esportes coletivos está ausente em sete de cada
10 estabelecimentos educacionais públicos de ensinos fundamental e médio
no Brasil. Professores e alunos improvisam em pátios, estacionamentos e
descampados. ...
No país da Copa do Mundo, arrebatado atualmente pelo espetáculo do
futebol rolando em casa, a estrutura para a prática de esportes nas
escolas está longe de ser campeã.
Dados levantados a pedido do Correio
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC), mostram que
praticamente sete em cada 10 colégios públicos de ensino fundamental e
médio no Brasil não têm quadras poliesportivas.
Em 40% do
estabelecimentos que contam com esse espaço, o local carece de
cobertura. Resta a alunos e professores improvisar aulas tão importantes
no aspecto físico, social e mental.
“Há um ganho cardiorrespiratório e biológico muito grande com as
atividades na escola, especialmente se esse aluno não tem acesso à
prática esportiva supervisionada em outros espaços. Sem falar na questão
psicológica e social, já que o esporte no contexto educacional trabalha
também conceitos como a lealdade, a ética, a não discriminação, a
competitividade respeitosa”, destaca Daniel Cantanhede Behmoiras,
coordenador do curso de educação física da Universidade de Brasília
(UnB).
De acordo com ele, que tem experiência de sete anos lecionando em
escolas públicas do Distrito Federal, ter um local adequado para o
incentivo ao esporte nos colégios é fundamental. “Respeita a saúde do
professor e dos estudantes.”
Apesar das vantagens evidentes de se ter um espaço apropriado para os
esportes coletivos nas escolas, a proporção de estabelecimentos
educacionais com quadras subiu apenas cinco pontos percentuais entre
2010 e 2013 no país — de 28,5% para 33,4%.
A maioria permanece obrigada a ministrar as aulas em pátios,
estacionamentos ou descampados. De tão precária a situação, o governo
federal anunciou que financiaria a construção de quadras esportivas por
meio da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).
A meta informada foi criar 6.116 quadras cobertas e cobrir 4 mil já
existentes até 2014.
No entanto, de 2011 a 2013, ano mais atualizado da base de dados do
Inep, o número de escolas com quadras esportivas cobertas subiu 3.428
unidades. O MEC, por meio de nota, menciona que mais de 10 mil projetos,
de 2011 para cá, foram aprovados, para construção ou cobertura de
quadras.
A pasta, no entanto, não detalha quantos já saíram do papel,
além de ressaltar que a obra, propriamente dita, é de responsabilidade
dos estados e municípios que recebem recursos federais. Os repasses são
feitos por meio de convênios firmados com a União, que tem o dever de
fiscalizar a aplicação dos recursos.
Orçamento
A dificuldade de levar adiante essas parcerias também explica, em
parte, a execução pífia de ações do governo federal de incentivo ao
esporte voltadas à criança e ao adolescente.
Caso do programa Esporte e
Grandes Eventos Esportivos, que recebeu neste ano R$ 1,1 bilhão para
aplicar. Do montante, só R$ 205 milhões foram investidos até agora, o
correspondente a 16% do valor autorizado. Vale destacar que, desse
total, 84% são de restos a pagar, ou seja, vêm de orçamentos de anos
anteriores desembolsados pela União em 2014.
Para Cleomar Manhas, assessora política do Instituto de Estudos
Socioeconômicos, os dados mostram uma execução lenta do programa.
“Principalmente porque a maior parte do valor pago vem dos restos a
pagar. Ou seja, o orçamento deste ano está parado, a execução está quase
nada”, destaca Clemar.
Ela ressalva, entretanto, que não dá para “jogar
a culpa” apenas na União. “Parte dessas ações é feita por meio de
convênio, então, os estados e os municípios também colaboram para esse
atraso, para essa situação.”
Entre as 10 ações que compõem o programa em questão, a que reúne maior
volume de recursos — R$ 687 milhões — é destinada à implantação e à
modernização de infraestrutura para esporte educacional, recreativo e de
lazer. Do montante, só R$ 52,8 milhões foram pagos (7% do autorizado).
No caso dos R$ 100 milhões previstos para implantação de centros de
iniciação ao esporte, nenhum centavo foi aplicado até agora. A ação que
prevê apoio a projetos de esporte, inclusão social e legado social tem
R$ 179 milhões autorizados, mas só pagou R$ 11 milhões.
Fonte: Por RENATA MARIZ - Correio Braziliense - 24/06/2014 -BLOG do SOMBRA
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